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DA TERRA E DA GENTE

O homem que queria voar

Já em tempos passados aqui na Gazeta, colunistas traziam referências interessantes, muitas vezes folcróricas, a Posemuckel, uma das idílicas localidades de nosso interior, encravada entre montanhas no interior do distrito de Boa Vista. Pois novas histórias, tais como as contadas em meu livro Carl & Ciss – Crônicas da Colônia Alemã (que, aliás, está à disposição na Casa de Clientes Gazeta e na Livraria e Cafeteria Iluminura para quem busca leitura leve neste período de maior recolhimento), me foram contadas in loco durante visita feita àquela bela região, e, por certo, se oferecem ao gosto de quem aprecia bons causos.

Seu “Heinrich”, simpático senhor de seus 70 anos, e que não dispensa um bom palheiro feito com fumo em corda vindo das bandas de Sobradinho e acondicionado em saco de balas com a inscrição “Menta”, que um visitante estrangeiro até achou que fosse a marca do produto picado, desfila lembranças de fatos e personagens engraçados do local, como aquele que inventou uma maneira de voar. Ele fabricou um aparelho com madeiras leves e uma hélice na qual confiava que, com o devido impulso, giraria em velocidade suficiente a permitir a realização de seu sonho. Para tanto, valeu-se de cabo instalado por agricultor para fazer descer balaios de pasto do morro até perto dos seus galpões.

Foi marcado então um dia para o inventor realizar a sua proeza, com a assistência e torcida de muitos curiosos e, sobretudo, desconfiados. O homem instalou-se na sua geringonça presa no dito cabo e mandou soltar com toda força. Alcançou, de fato, uma boa velocidade, mas ao final da linha nada mais aconteceu do que um choque violento contra um taquaral existente no local, que por pouco não resultou em acidente mortal, ficando apenas em ferimento de certa gravidade na região glútea do voador e em risos incontidos dos assistentes da malfatada aventura.

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O mesmo inventor era dotado de grande imaginação e também se tornou conhecido por promover teatros de fantoches na região. Porém, até nisso foi desastrado; em determinado dia, numa exibição no Salão Butzge, em São Martinho, algum curto-circuito, que ocorreu na fiação elétrica utilizada na cabine improvisada no local, por pouco não terminou em tragédia, pois saíram fumaça, fogo e gritos, apavorando o público e terminando antes da hora com a apresentação prevista.

Este salão, conta ainda seu Heinrich, era um dos pontos onde aparecia outra figura folclórica e contador de histórias da localidade, que podia ser identificado como o homem da verdade, pois em suas primeiras palavras, tal como o pregador divino que proclamava “em verdade, em verdade, vos digo…”, logo garantia, em seu dialeto alemão: “Dass iss sicher und gewiss wahr” (Isto é absoluta e seguramente verdadeiro). E então seguia mais uma informação ou um causo, do que não poucas vezes os ouvintes duvidavam quanto à efetiva veracidade; mas, para todos os efeitos, divertia o grupo, como os espetáculos trágicos do voador das colônias.

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