Rádios ao vivo

Leia a Gazeta Digital

Publicidade

Economia

Dólar a R$ 5,00?

Há quase um ano, o ex-ministro Guido Mantega, aquele mesmo que, a despeito de todas as evidências, tendências e números negativos que a economia brasileira vinha apresentando, debochava de quem discordasse de suas previsões fantasiosas, disse que “vai quebrar a cara quem apostar na alta do dólar”. Pois é, quem comprou dólares, naquela oportunidade, em vez de quebrar a cara se deu bem – muito bem – com o  investimento na moeda americana. 

Nunca se falou tanto em dólar;  é o assunto que rola em todos os ambientes. Algumas pessoas lamentam não poderem  fazer, neste momento, suas comprinhas em Miami, embora muitos produtos ainda valham a pena gastar o valor da passagem. Outras, tiveram que adiar ou até cancelar suas viagens para o exterior. Há, ainda, aquelas pessoas que viajaram e, agora, receberam a fatura do cartão de crédito  e tiveram uma surpresa nada agradável com o valor de suas compras, em dólares, realizadas em outros países. 

Nas redes sociais já tão poluídas de bobagens, onde as pessoas escrevem do que sabem, eventualmente, e do que geralmente nada sabem, lê-se um festival de asneiras, dizendo, por exemplo, que a disparada do dólar é coisa de “classe média coxinha”  que, agora, não pode mais fazer suas compras em Miami. Aliás, com relação à classe média, para alguns agora existe aquela, politicamente correta, “criada” pelas políticas do governo federal, nos últimos anos, e a classe média  “coxinha”, formada por pessoas “reaças”, inconformadas com o resultado da última eleição para presidente e que defendem o “golpismo” do impeachment, como se o impeachment não estivesse previsto na Constituição do Brasil. 

Publicidade

Muita gente ainda acha que a alta do dólar, que acabou de romper o valor histórico de  R$ 4,00 – e poderia ser maior se não fossem as pesadas intervenções do Banco Central, vendendo dólares no mercado –  não tem nada a ver com sua vida pois “não mexe com dólar”. Outros ainda pensam na ideia simplista de que a paridade das moedas do mundo deveria ser na base de 1 por 1, isto é 1 real valeria 1 dólar, 1 euro, 1 ien, 1 peso…
Antes de tudo, é preciso entender o conceito da taxa de câmbio. Câmbio é o preço de uma moeda estrangeira medido em unidades ou frações (centavos) da moeda nacional. Quer  dizer: quantos reais são necessários para se comprar alguma moeda estrangeira. No Brasil, como na maioria dos países do mundo, a moeda estrangeira mais negociada ainda é o dólar americano. Diariamente, o Banco Central divulga a média da taxa de câmbio que está sendo adotada no dia, tendo o dólar como moeda de referência.

Numa economia com câmbio flutuante, isto é, onde as taxas de câmbio são praticadas livremente entre as partes contratantes, a cotação do dólar varia  como o preço de qualquer  produto comercializado,  seguindo a lei da oferta e da procura. Claro, existem outras variáveis em jogo, inclusive eventuais manipulações, mas, basicamente, quando há dólares sobrando no mercado, seu valor diminui; já quando falta devido à grande procura, por qualquer razão, sendo a principal a perda de confiança no país, o valor dele aumenta. É o que está acontecendo no Brasil. O rápido enfraquecimento do real ou, como mais se diz por aí, a valorização do dólar, é sinal de que nossa economia está com problemas sérios. É evidente que a destruição dos fundamentos da economia brasileira, durante os últimos anos, não poderia ficar impune. Como predadores do presente e do futuro do Brasil, instituíram a contabilidade criativa – as  pedaladas fiscais -, para ocultar despesas do governo federal; promoveram o irresponsável  descontrole das contas públicas, com gastos exorbitantes em obras públicas, programas sociais e eventos esportivos (Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas de 2016). Tudo isso exigiu o ajuste fiscal,  gerando  o aumento da inflação, encolhimento do PIB, redução ou fechamento de negócios, desemprego. Na esteira disso, a perda do grau de investimento, o aumento do seguro contra o calote brasileiro, a perda do valor de mercado de várias empresas nacionais. Enfim,  empurraram o Brasil para uma crise econômica, financeira, política, social e moral sem precedentes. Assim, quem pode – empresas, pessoas físicas, instituições, etc – procuram proteger-se, comprando dólares, o que faz o seu valor aumentar. 

Publicidade

A alta do dólar não é apenas sintoma da atual crise econômica do Brasil, mas ela traz consequências, com  “perdedores” e “ganhadores”. O dólar mais caro tem um impacto na inflação, afetando diretamente o poder de compra das pessoas, principalmente as mais pobres,  que vão pagar mais caro pelo pão, pela massa, por computadores, celulares, tvs, medicamentos, autopeças, cosméticos, sem falar nas viagens para o exterior. Quem usou  o cartão de crédito no exterior vai pagar, agora, com a chegada da fatura, mais caro por suas compras. As empresas que já tem dívidas  em dólar e os importadores de mercadorias e máquinas também vão  ter que desembolsar mais reais para pagar suas dívidas. Daí que muitos investimentos serão, ou já foram,  suspensos ou cancelados, afetando negativamente o PIB,  a geração de empregos e impostos, num ciclo vicioso. Já os exportadores  vão  receber mais reais por aquilo que estão vendendo em dólares, o que pode estimular um pouco o crescimento  ou menos queda do PIB  do país, via exportações. 

Hoje, o Brasil está nesta crise, consequência da matriz “desenvolvimentista” dos últimos anos, inspirada por aquele ministro. Deu no que deu, respingando em eventual impeachment da presidente Dilma. Aliás, enquanto pairar esta indefinição, com a presidente Dilma fazendo o diabo para não perder o posto, já que o poder parece que está sendo exercido por Lula,  o país vai permanecer em estado de letargia. E o cidadão, como sempre, vai pagar a conta. O preocupante  é que a Fundação Perseu Abramo, que abriga  economistas de esquerda, lançou, no dia 28 de setembro, um documento em que critica a política econômica adotada no segundo mandato da presidente Dilma, dizendo que as dificuldades econômica do Brasil surgiram a partir da implantação das medidas de cortes de gastos e de investimento no primeiro semestre deste ano. Na avaliação do economista Alexandre Schwartsman, em artigo da Folha, esse pessoal esquece que as políticas que querem de volta, agora, foram justamente as que colocaram o Brasil nesta situação lastimável em que estamos.  Aquele ditado popular  “brasileiro não desiste nunca” deveria ser mudado para “brasileiro não aprende nunca”. Talvez seja por  isso que  um empresário do Rio, numa paródia a  uma antiga  frase  sobre as saúvas que destruíam as plantações, disse “Ou o Brasil acaba com o PT, ou o PT acaba com o Brasil”.

Publicidade

 

Aviso de cookies

Nós utilizamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdos de seu interesse. Para saber mais, consulte a nossa Política de Privacidade.