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O Dia Internacional da Mulher – além dos bombons e das flores

No dia 8 de março de 1875, 129 operárias morreram carbonizadas, dentro de uma fábrica de tecidos, em Nova Iorque, depois de vários dias de greve em protesto contra as desumanas condições de trabalho. A partir daquela tragédia e  em homenagem às operárias mortas, em 1975, a ONU oficializou o 8 de março como o Dia Internacional da Mulher. 

Há quem veja no Dia Internacional da Mulher uma invencionice, moderna e artificial, um movimento feminista e fartamente explorado pelo comércio. Com base nas condições de hoje, não se identificariam tantas razões que justificassem essa data especial. Entretanto, sob o contexto histórico, da luta da mulher – e de homens que entenderam e abraçaram a causa – que precisou romper conceitos e preconceitos para chegar à realidade atual, a comemoração, que não pode ser considerada uma divisão ou agressão entre gêneros, é um reconhecimento, uma reafirmação das conquistas civilizatórias, em que todos somos beneficiários: o direito ao ensino superior, em 1879, mas com restrições; ao voto, em 1932; a trabalhar sem autorização do marido, em 1943; a ter um CPF e conta bancária separada do marido, só em 1962; a poder exercer várias atividades profissionais que, velada ou expressamente, vetavam as mulheres. 

O que ainda significa ser mulher 

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De modo geral, o fato de ser mulher pode significar salário menor, carreira limitada, impedimento em seleções ou promoções profissionais, além de outras restrições, algumas até inconfessáveis ou em ambientes que pregam a inclusão feminina, como, por exemplo, na política, sem falar nos assédios morais e sexuais.

Uma das grandes dificuldades das mulheres é conseguir conciliar vida pessoal e profissional, sem afetar a qualidade das relações interpessoais. Nesse particular, a maternidade ainda é vista como um problema, por muitas empresas, pelo afastamento compulsório na licença legal e ausências eventuais, durante a gravidez, e, posteriormente, para atender a alguma demanda especial e urgente dos filhos.

Na política, mesmo com a recente e mal sucedida experiência da primeira mulher como presidente do Brasil, partidos  deixam de cumprir as cotas obrigatórias de participação feminina, alegando o desinteresse das mulheres, o que é um dos motivos para que câmaras de vereadores, assembleias legislativas e o Congresso Nacional estejam longe de ter suas cadeiras ocupadas por, pelo menos, 30% de mulheres, conforme recomenda a ONU. Casualmente, na divulgação de suspeitas de candidaturas “laranjas”, nas eleições de 2018, todas eram de mulheres, usadas para a finalidade por dirigentes políticos inescrupulosos.

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Salários e promoções profissionais

Com relação aos salários, no Brasil as mulheres ainda ganham menos que os homens, mesmo quando exercem  cargos idênticos. Paradoxalmente, um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) apurou que essa desvantagem é inversamente proporcional: quanto mais as mulheres estudam, menos ganham, comparadas aos colegas homens, com o mesmo nível escolar. 

De acordo com relatório global da Mercer “When Women Thrive” 2020, com base em pesquisas realizadas em 54 países, inclusive em nosso país, no Brasil apenas 20% tem cargos exclusivos em Diversidade e Inclusão de mulheres, contra 33% apurado no resto do mundo. A igualdade tem relação direta com o ambiente corporativo, cabendo então à alta administração arregaçar as mangas e abordar o tema de maneira aberta, mostrando o quanto essas mudanças serão benéficas para todos. É a única maneira de se eliminar o preconceito contra as mulheres, existente na cultura corporativa, em que os homens são maioria.    

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Administradoras das finanças pessoais e familiares

Falar em dinheiro ainda é um tabu entre as mulheres. Para piorar a situação, são acusadas, injustamente, de  “gastadeiras”, no sentido de consumistas por excelência, embora em alguns casos realmente o sejam. Uma consultoria americana observou o comportamento de consumidores em 27 países, inclusive no Brasil, constatando que as mulheres são mais racionais, preparadas e disciplinadas para comprar, limitando-se  à “listinha” e disponibilidade financeira. Já os homens fazem compras por impulso, principalmente novidades tecnológicas; gastam mais em artigos fora da lista e são desorientados para encontrar o que precisam. Nos orçamentos domésticos, também, o poder de controle está cada vez mais nas mãos de mulheres, mesmo quando não são elas as principais provedoras do lar. Aliás, é crescente o número de mulheres que sustentam seus lares. Quando uma mulher recebe educação financeira e toma as rédeas das finanças de uma casa, tende a geri-las de forma mais eficiente que o homem, evitando correr riscos e sendo mais propensa ao planejamento com base em metas financeiras. 

Investidoras

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Na área de investimentos, ocupada, predominantemente, pelos homens, tem crescido a participação das mulheres. Não só na tradicional poupança, mas também, em fundos de investimentos, ações e, mais recentemente, como investidoras ou empreendedoras em startups (início de novos negócios) e criptomoedas. Com o aumento do interesse pelo mercado financeiro, as salas de aula de cursos voltados para o tema registram a presença de um número cada vez maior de alunas. Segundo o professo Ricardo Rocha, do Insper, “as mulheres são mais analíticas, menos explosivas, têm maior capacidade de solução de conflitos e de aglutinar decisões”. 

Empreendedoras

Empreender já é algo desafiador, ainda mais para as mulheres que podem enfrentar problemas maiores, como preconceitos no meio empresarial. Na avaliação de Luzia Costa, fundadora da Sóbrancelhas, as mulheres empreendedoras enfrentam quatro desafios principais:
1) julgamento desigual : os homens ainda são considerados mais competentes;
2) medo de fracassar;
3) equilíbrio na vida profissional e familiar; 
4) falta de apoio.

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O  empreendedorismo está crescendo muito, no Brasil, talvez em parte por falta de emprego. Em 2019, o número de empresas abertas por mulheres aumentou 118%, comparado a 2018. Hoje, de acordo com o Sebrae, já são 24 milhões de mulheres empreendedoras no Brasil.  Diversificando suas atividades, muitas mulheres estão adquirindo, cada vez mais franquias, principalmente pelos mercados de beleza e moda, em que mais se identificam, além de outros segmentos empresariais, alguns até pioneiros. 

O ônus

A maior conquista de espaços na sociedade implicou, também, maiores fontes de estresse pela sobrecarga de atribuições – jornadas duplas ou até triplas -, pela falta de dinheiro, pelo endividamento, entre outras. Ocorre, também, uma crescente assimilação de hábitos ou vícios – dependendo de pontos de vista -, considerados, há pouco tempo, de homem, como fumar e beber, e o envolvimento no crime, com roubos, drogas e mortes violentas. Um estudo da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas e SPC Brasil constatou que mais de um terço das empresárias brasileiras abririam mão do relacionamento caso o marido ou companheiro se tornasse uma barreira para seu sucesso profissional. Outras 40%, iriam pensar a respeito.

Ainda existem desafios

É fato que muitas mulheres ainda são, literalmente, subjugadas em suas relações afetivas e familiares – até assassinadas, quando resolvem por fim a relacionamentos doentios ou opressores, o que criou a figura jurídica do feminicídio – e desvalorizadas nos ambientes de trabalho, sociais e até religiosos. Neste particular, é espantosa a forma como o presidente Bolsonaro atacou, recentemente e sem razão, diga-se de passagem, duas jornalistas mulheres – Patrícia Campos Mello, da Folha de São Paulo, que esmiuçou, em reportagem de 2018, da existência da máquina de fake news a favor do então candidato Jair Bolsonaro, e Vera Magalhães, do Estadão, que tornou público um compartilhamento do presidente de dois vídeos, convocando para manifestações em defesa do governo, no dia 15 de março. Ser jornalista mulher é não ceder a linchamentos pelas redes sociais, em que “dar um furo” pode servir de chacota até por parte de um presidente da República.

Existem, também, intolerâncias por parte das próprias mulheres a qualquer outra que pense diferente ou que não faça da “questão de gênero”, por exemplo, uma bandeira. 

Nesta data especial, então, em que se fala tanto nas conquistas das mulheres, contribuiria muito se, antes ou junto às flores e bombons, houvesse cada vez mais oportunidades, em todos os espaços, para a expressão e prática das qualidades femininas –  diálogo, flexibilidade, multitarefa, cooperação, sensibilidade, intuição, cuidado e outras -, gerando impactos positivos nas famílias, nas empresas e em todos os ambientes sociais. O 8 de março pode até ser marcado como um dia de luta feminina, mas onde homens e mulheres saem ganhando. A escritora Rosana Braga sintetiza isso, quando diz: “Não falo de uma conquista cujo adversário se chama homem! Não precisamos de adversários, mas de companheiros, aliados, protetores e amigos”.

Parabéns às mulheres!

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