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Poder de compra

Quem tivesse guardado as compras que fez com uma nota de R$ 100,00, lançada em julho de 1994, quando da implantação definitiva do Plano Real, hoje perceberia que, com aquele mesmo valor, só conseguiria comprar um pouco mais de 12% daqueles produtos. Isso significa que o poder de compra ou poder aquisitivo daquela nota de R$ 100 teve uma perda de 88%.

Aliás, independente de razões técnicas apresentadas pelo Banco Central para o recente lançamento da nova cédula de R$ 200,00, o fato é que o poder de compra do brasileiro diminuiu muito nos últimos anos, sendo necessário mais dinheiro para comprar as mesmas coisas.

A pandemia do coronavírus provocou grandes estragos, em várias áreas de nossas vidas, sendo que na econômica a maioria das pessoas, com exceção de funcionários públicos, perdeu com ela. Num lado, houve perda da renda que para os pobres foi de 42%, enquanto para os ricos apenas 3% – muitos até tiveram ganhos -, conforme estudo conjunto de pesquisadores da PUC-RS, Observatório das Metrópoles e Observatório da Dívida Social na América Latina. De outro, o aumento de preços nos primeiros nove meses do ano para as família mais pobres (ganho domiciliar até R$ 1.650,50) foi de 2,5% e para as famílias de renda mais alta (ganho domiciliar superior a R$ 16.509,66) foi de 0,2%.

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Uma das principais reclamações dos brasileiros é, justamente, com relação ao índice oficial da inflação. No caso, as pessoas se perguntam como o aumento de preços ou inflação, no ano de 2020, é de apenas de 1,34% ou mesmo o acumulado de 3,14% nos últimos 12 meses se o arroz chegou a subir 41%, o feijão 34%, o leite 30% e o óleo de soja 51%? É muito simples, embora questionável: a inflação oficial é expressa através do IPCA (índice de preços ao consumidor ampliado), que leva em conta a variação média do preço de mais de 400 itens de bens e serviços, utilizados por famílias com renda de um até 40 salários mínimos.

A forte alta, concentrada nos últimos meses nos principais produtos de alimentação não se manifestou de todo naquele índice porque, por exemplo, houve quedas em outros itens da cesta que compõem o IPCA, como a redução de 55% nas passagens aéreas, de 9% nos preços de hospedagem e de 1,7% nas mensalidades de creches.

A alta de preços no mercado não é novidade, mas o ponto importante é que esse encarecimento é sentido de forma diferente pelas famílias, dependendo da proporção do orçamento que elas destinam para comprar arroz, feijão e outros alimentos. O problema é que os itens que estão sofrendo altas exorbitantes são justamente os de alimentação, que representam os maiores gastos para as famílias mais pobres. Essas famílias destinam por volta de 30% de seus ganhos para alimentos.

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Além de problemas específicos, decorrentes da pandemia do coronavírus, e situações pontuais, como a alta do dólar que encareceu alguns produtos importados e favoreceu a exportação de outros (arroz, soja, carne), diminuindo a oferta interna – todos sabemos que quando diminui a oferta de algum produto a consequência imediata é o aumento de seu preço – ocorre uma crise invisível que, ao longo dos anos, está dilapidando nosso poder de compra.

Por vivermos no automático, simplesmente recebendo o salário ou a renda e pagando contas, não nos damos conta ou não nos preocupamos em rever nossos gastos. Não se trata de só pesquisar preços, anotar os valores gastos, mas de analisar como nos comportamos ao fazer as compras. É isso que pretende a educação financeira: ir além das finanças pessoais que se restringe a questões técnicas e começar a observar o comportamento.

Muitos especialistas recomendam aumentar ou diversificar as fontes de renda, desenvolvendo alguma atividade extra com o que poderíamos melhorar nosso poder de compra. É uma boa ideia, mas que pode encontrar dificuldades para ser realizada, ainda mais em tempos de crise, como o atual, em que as oportunidades de trabalho são poucas.

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Mas, o que pode ser feito imediatamente para aumentar o poder de compra é diminuir os custos com desperdícios e excessos de água, luz, mercado, roupas, sapatos, etc. Uma das experiências propostas é passar um ano inteiro sem comprar ou gastar em nada que não seja essencial, como roupas, sapatos, bolsas. Muitas pessoas já fizeram isso e, no fim de um ano, constataram que só com o que tinham em casa – alguns itens ainda com a etiqueta de compra – conseguiram sobreviver tranquilamente.

Todo mundo gosta de fazer compras e pode cometer algum excesso, inclusive quem lida com a educação financeira. Afinal, somos humanos e o ato de compras pode ser acionado antes por motivos emocionais do que racionais. Alguns fazem da compra uma verdadeira terapia para sentir-se bem. Mas, a quarentena do coronavírus parece que mexeu com isso. A maioria dos consumidores brasileiros – 88.4% – pretende comprar menos por impulso, pensando mais no que vão gastar. Aquela história de gastar por gastar parece que, pelo menos por enquanto, ficou no passado.

Por isso, Reinaldo Domingos, criador da DSOP Educação Financeira e pós-doctor em educação financeira, sugere cinco passos para as pessoas e famílias observarem a partir deste novo momento de pós-pandemia:
1º) realizar uma reunião familiar para levantar os desejos e objetivos individuais e coletivos:
 – apurar o custo de cada um;
 – em quanto tempo querem realizá-los;
 – quanto podem guardar mensalmente para a finalidade;
 – de onde vão buscar o dinheiro para realizar esses objetivos;
2º) efetuar um diagnóstico da situação financeira atual;
3º) ter um orçamento, priorizando sonhos e propósitos;
4º) poupar: guardar recursos para a realização dos sonhos e propósitos;
5º) investir: deixar o dinheiro poupado em alguma aplicação financeira.

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