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Filme

Uma boa história triste ainda comove o público jovem

Existem os filmes teen adaptados de sagas livrescas – não propriamente ‘literárias’ – como Jogos Vorazes e a série Divergente. Arrebentaram nas bilheterias e projetaram heroínas como as interpretadas por Jennifer Lawrence e Shailene Woodley. E existe um outro tipo de hit teen, menos heroico, mais intimista. São filmes adaptados também de livros – geralmente best sellers – e que tratam de amores tristes, contaminados por doenças. Romeu e Julieta eram vítimas do entorno social, das lutas e rivalidades entre Capuletos e Montecchios. Tudo e Todas as Coisas, que estreou na quinta, 15, inscreve-se, como romance teen, em outra vertente.

Há três ou quatro anos, o filme mais visto no Brasil foi uma adaptação de John Green – A Culpa é das Estrelas, de Josh Boone. Shailene Woodley – ela! – era uma paciente terminal que conhecia Ansel Elgort num grupo de apoio a pacientes com câncer. Na verdade, os dois já se conheciam da série Divergente, na qual contracenaram. 

Brincadeirinha. O rapaz e a garota terminais apaixonavam-se, e era um amor condenado que fez chorarem milhões de espectadores em todo o mundo. A Culpa é das Estrelas não era ruim, tinha certo charme, mas não se comparava a Como Eu Era Antes de Você.

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Outro livro – de Jojo Moyes. Uma garota meio sem graça, um herdeiro revoltado porque a fatalidade – um acidente – o deixou tetraplégico. Havia química entre Sam Clafin e Emilia Clarke, como também houve entre Shailene e Elgort. Esses filmes só funcionam quando há química. Como Eu Era é ótimo, muito bem dirigido por Thea Sharrock. Numa cena, Sam tenta explicar a Emilia o que significa para ele estar preso dentro de um corpo morto. 

Conta a sensação num café, em Paris, num dia de sol, vendo a vida passar, as belas garotas. No fundo, é a história de dois prisioneiros. Sam, naquele corpo. Emilia, na falta de graça, na pequenez de seu mundo que Sam vai abrir. Como Eu Era, além de ser melhor, construía-se num permanente embate entre luz e sombra. Seu tema, no limite, era o direito à morte – como libertação, recomeço -, que a diretora, na hora H, filmava sem firulas.

Tudo e Todas as Coisas lida de novo com a doença. Baseia-se no livro de Nicola Yoon, a diretora é Stella Meghie, uma canadense de ascendência afro, famosa por haver recebido o troféu Spirit de melhor roteiro de estreante por Jean of the Joneses. Uma garota que sofre de uma doença rara – síndrome de imunodeficiência. 

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Vive isolada, numa redoma. Só têm acesso a ela a mãe, a cuidadora e a filha dessa. Como Sam Clafin, Amandla Stenberg tenta definir o que é sua vida. E cria uma bela metáfora. Sente-se como um astronauta preso fora da Terra. A diretora apanha a ideia e a visualiza. O astronauta invade o espaço para ocupar tudo e todas as coisas que a garota, Maddie, não pode fazer. E, então, ocorre – o quê? A casa ao lado é ocupada por novos vizinhos. Um garoto por quem Maddie fica instantaneamente apaixonada. Ele corresponde. Trocam mensagens – que a diretora põe na tela no formato de gráficos.

Apesar da doença, apesar de tudo, Maddie e Olly (Nick Robinson) se amam, mas é um amor condenado – a mãe está ali presente o tempo todo para lembrar. A doença como irremediável, mas… Espere aí. Essa história tem reviravoltas – no plural. No limite, Tudo e Todas as Coisas é um filme sobre… a culpa dos pais. É bem feito, tem ideias, atores adequados. Amandla passa o estranhamento de quem se sente fora do mundo. Robinson é o irmão mais velho de Jurassic World. 

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Face ao universo asséptico de Amandla, ele responde com outro tipo de assepsia. Parece o garoto perfeito demais, um príncipe de conto de fadas. Talvez tenha sido essa a ideia da diretora. Um conto de fadas em que a bruxa que lança a maldição é… Olha o spoiler. Tudo e Todas as Coisas pode ser o menos bom, o menos atraente dessa série que inclui A Culpa é das Estrelas e Como Eu Era Antes de Você. Mas são filmes que, por diferentes vias e movimentos, colocam na tela a inadequação da juventude, de uma certa juventude. O maior mérito desses filmes é mostrar que, no fundo o público jovem não quer só alegria nem efeitos. Uma boa história triste ainda comove.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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