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Happy Hour

Está na hora de dormir

As pessoas com mais de 50 anos ainda devem se lembrar da TV Piratini, canal 5, que todas as noites, pontualmente às nove horas, colocava o jingle dos cobertores Parahyba, comercializados pelas Casas Pernambucanas, dirigido especialmente para as crianças. A letra era mais ou menos assim:

Tá na hora de dormir/Não espere a mamãe mandar/Um bom sono pra você/E um alegre despertar.

As crianças, quando escutavam essa musiquinha, já sabiam que estava na hora de se recolherem para a cama e dormir. Nessa época, a TV era preto e branco e a imagem teimava em rodar verticalmente na tela. Era um senta-e-levanta para ajustar a imagem e essa ficar quietinha por alguns instantes. Assistir à novela ou algum filme era um teste para a nossa paciência.

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A motivação que me levou a escrever esta crônica foi voltar ainda mais para o passado vivido na colônia, quando nossa geração ainda era criança e a luz elétrica ainda consistia numa novidade para a maioria dos moradores que viviam afastados das vilas.

O trabalho dos colonos iniciava cedo. Os filhos, em idade escolar, arrumavam-se para ir à escola e o restante da família tratava os animais e ordenhava as vacas. 
Enquanto isso, a mãe preparava o lauto café da manhã, acompanhado de pão de milho, melado, schmier, nata, Käseschmier, linguiça, torresmo. A manhã na roça seria longa e penosa. O preparo da lavoura era todo manual e imperava a junta de bois. Os agricultores deveriam estar bem alimentados para aguentar essas pesadas tarefas.

Essa rotina cansava, mas tornava-se prazerosa na hora da colheita. O fumo, principal sustento da casa, havia sido de ótima qualidade. Entre chuva e sol, o tempo havia sido favorável. Certamente seria bem avaliado pela indústria parceira.

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Todavia, não era só de fumo que vivia a colônia. Colono caprichoso não deixava de plantar milho, mandioca, batata-doce, batatinha, feijão. No quintal, além da horta bem sortida cuidada pela mãe, também havia avica, um pasto complementar para os animais no inverno.

Diariamente essas lidas terminavam quando o sol se punha no horizonte. A junta de bois, as vacas, os cavalos, os burros, os porcos e as galinhas precisavam ser tratados. O pasto já era colhido na lavoura e transportado até o galpão, onde era depositado. Facilitava a tarefa dos tratadores. O milho ficava no paiol, local preferido dos ratos. Haja gato para caçar essa praga doméstica, além do veneno e das ratoeiras.
 
Finalmente chegara a noite. A mãe e as filhas já preparavam a janta. Antes disso, um chimarrão gostoso, que ninguém dispensava, na hora de fazer o balanço do trabalho daquele dia. Os lampiões à querosene já estavam iluminando o ambiente. A luz era precária, mas quebrava o galho. A comida já estava servida: feijão, arroz, batatinha, batata-doce, aipim e um molho com carne de porco. Aliás, a carne de porco ficava armazenada no latão com banha durante alguns meses. Esse jantar certamente restabelecia todas as energias gastas naquele dia.

Nove horas da noite. Está na hora de dormir, amanhã a rotina iniciará bem cedinho. A lua iluminava o quarto pelas frestas do velho chalé. No verão, nada melhor que dormir com as janelas abertas. Não havia ladrão para se preocupar.

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