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Coluna Clóvis Haeser

A carroça desgovernada

Na crônica anterior, reportei-me à colheita do tabaco e do envolvimento dos piás no trabalho. Era hora de retornar para casa, porém na volta quem comandava as rédeas e conduzia a junta de bois, Mimoso e Pintado, era o pai dos amigos.
Seu Giehl sabia da dificuldade em descer a ladeira com a carroça carregada de tabaco.  Teria que usar os freios. E esse manuseio não poderia ser feito pelos guris. Não teriam força para acioná-los.

 Fixado ao lado da carroça, esse breque era composto por uma manivela que girava uma haste de aço com rosca, que puxava um arame grosso, que acionava um pau transversal equipado, nas extremidades, com couro grosso que fazia as vezes de lona de freio, pressionando as rodas. Quanto maior a descida, maior deveria ser o atrito. Tarefa para os adultos.
 Chegamos sãos e salvos ao galpão da propriedade da família e o próximo trabalho era descarregar a carroça de tabaco e armazená-lo sobre um tablado de madeira, acima do chão. Na sua frente colocava-se um cavalete, construído em forma de xis nas duas pontas. Entre as forquilhas estendia-se uma vara de taquara, usada para amarrar as folhas de tabaco.

 Nessa hora, a piazada era chamada para ajudar. Serviço leve, que consistia em alcançar os maços de três a cinco folhas de tabaco ao adulto encarregado de fixá-las ao longo da taquara. Os menores gostavam de auxiliar os adultos e a compensação vinha em forma de um lauto café da tarde.

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 Frau Giehl caprichava em oferecer o que havia de melhor em casa: pão de milho, melado cremoso, käseschmier, nata e uma gostosa linguiça ou torresmo (kriba) feito em casa, o que satisfazia o paladar dos alemães ao misturar o doce com o salgado. O café coado em um bule e o leite fervido não poderiam faltar na mesa. Autêntico café colonial!

 Outro dia, acompanhamos o seu Giehl para buscar pasto para os animais. O colega de aula,  Fernandão, que era alto, magro e um tanto desengonçado e aparentava ser mais velho do que nós, apesar de ter a mesma idade, nos acompanhou até a roça. Mimoso e Pintado já conheciam o trajeto.

Voltamos com a carroça carregada de pasto. Fernandão, metido a entendido, insistiu em pegar as rédeas. Apesar da relutância, seu Giehl consentiu. Veio a pé, fumando seu palheiro. Transcorria tudo bem, porém havia a maldita descida. Fernandão não conseguiu adicionar os freios. Os bois e a carroça dispararam cerro abaixo. Não havia Cristo que acalmasse os animais. Até o pai dos colegas corria atrás, mas não alcançou a carroça. Mimoso e Pintado estavam desgovernados. Pegaram o rumo da cerca de arame farpado. Antes do desastre consumado, estancaram.

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 Para espantar o susto, nada melhor do que tomar um banho no Plums e limpar os calções, que certamente saíram borrados da aventura.           

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