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happy hour

A nova casa do subprefeito Haeser

A profissão que meu pai abraçou foi a de alfaiate. Conseguia manter a sua família com dificuldade depois que surgiram os ternos prontos de fábrica. Pela sua participação política na localidade, era um cabo eleitoral forte dos candidatos a prefeito, vereadores, deputados e senadores do PSD.

Com a vitória do prefeito de sua agremiação partidária, foi convidado para assumir o cargo de subprefeito de Trombudo. Finalmente conseguiu ganhar um salário fixo mensal.

Paralelamente, acumulava a função de subdelegado gratuitamente. Para dar respeito, usava uma arma na cintura que ganhara de herança do pai. Porém, nos testes que fez com a pistola, essa sempre negou fogo. Seu Haeser já iniciara mal essa empreitada como homem da lei.

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Alugamos nossa casa e nos mudamos para a sede da subprefeitura, no centro de Trombudo. Além dos móveis e utensílios domésticos, também levamos a vaca Mimosa, as galinhas, cachorro e gatos.     

Na nova morada, tivemos alguns problemas de adaptação. As nossas galinhas eram danadas!  Não se acostumaram com o pátio pequeno. Criadas soltas, sob o comando do galo Garboso, invadiam os terrenos dos vizinhos, que reclamavam do estrago que faziam em suas hortas.

Só faltava os vizinhos colocarem armadilhas para pegar nossas aves. Poderiam querer pegar o nosso galo e galinhas e usar a infalível arapuca, recheada de grãos de milho, para fazer muitas galinhadas com as penosas da dona Elzira, minha mãe. Ainda bem que o galo Garboso nunca caiu em alguma arapuca.

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Nossa vaquinha Mimosa estava feliz na sua nova estrebaria. Até começou a produzir mais leite. A minha mãe lhe dedicava um carinho especial. Na hora da ordenha, levava minha caneca para aparar o leite quentinho que saía das suas tetas, que formava uma densa camada de espuma – quando sorvido, deixava um bigode branco abaixo do meu nariz. A mãe dizia que criança que tomava leite direto da vaca ficaria forte e saudável. Tinha razão. Meu cavalo de taquara era rápido como uma flecha.

Nesses anos que moramos na subprefeitura, meu pai era considerado uma autoridade em Trombudo e eu sentia orgulho de ser filho do seu Edwino. Escutava discussões violentas nas rixas entre os colonos. A maioria dos casos eram brigas por divisas de terras. Vinham resolver suas pendengas com o subdelegado Haeser, ainda mais quando o caminho da roça de uso comum entre as partes era fechado por um dos incomodados. Inimigos por alguma desavença entre si ou dos familiares, um dos colonos proibia a passagem da carroça em suas terras. Parecia impossível conciliar os briguentos, que se falavam mal na língua alemã. Que confusão que se armava no pequeno escritório. “Dubisteinephlafluntehundgkedicatsinadashaahschlegen…”.
Meus leitores tentem decifrar os impropérios dos briguentos. Brabos, os “alemons” eram incorrigíveis.

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