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Happy hour

Minha terra natal

Toda a minha vivência no interior se limita à década de 50.  Nasci em Trombudo, na velha casa que ainda hoje resiste ao tempo, na entrada para Formosa. O parto naquele tempo era feito pela parteira da vila, famosa por ter assistido o nascimento de dezenas de bebês. Tinha habilidades adquiridas pelo tempo em que exercia a função. Atendia também nas bibocas do distrito.

Se fosse muito longo o percurso, deslocava-se com seu cavalo e, dependendo da urgência, algum vizinho buscava com uma caminhoneta de propriedade do comerciante. Em último caso, pegava um “carro de praça” (táxi), isso se o colono tivesse recursos financeiros para pagar a corrida. E rezava para que o parto fosse normal. Se houvesse complicações, teria que ser removida para o hospital.

A nossa casa era pequena, composta de cozinha, dois quartos e a sala, usada pelo pai como alfaiataria. A janela frontal servia de vitrine, onde estava exposto um manequim masculino de bigode preto, vestido com um casaco confeccionado pelo seu “Edwin Hesa”. Alguns colonos, quando passavam de carroça ou na sua montaria, cumprimentavam efusivamente o boneco e, em sinal de respeito, levantavam levemente o chapéu de palha.

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Naquele tempo era raro haver água encanada. As casas tinham seu poço, cavado no pátio próximo da residência. Evitava longas caminhadas para buscar o precioso líquido. Era revestido por pedras ou tijolos. Possuía uma tampa, cuidadosamente fechada para que nenhuma criança ou adulto sofresse um acidente. Alguns moradores anexavam uma bomba manual. A maioria tinha uma corda amarrada a um balde com o que içavam a água, tarefa reservada aos adultos.

No inverno, o banho acontecia uma vez por semana. Sábado era o dia temido pelas crianças… A mãe mantinha as chaleiras e uma panela grande sobre o fogão a lenha para esquentar a água, misturando-a com a fria no galão que, na sua extremidade inferior, tinha um chuveirinho soldado. Uma corda grossa presa no caibro a uma roldana controlava a altura do recipiente e uma mais fina, o fluxo d’água.

O quarto de banho, construído de madeira, ficava anexo à casa. O problema eram as frestas, que permitiam a entrada do minuano, tornando o banho um martírio.  Ainda bem que durante a semana, depois de passar o dia brincando, a mãe só exigia que lavasse os pés, o rosto e atrás das orelhas. Era comum não usarmos calçados nos pés. O tênis Kichute era raro.

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Cansado de brincar durante o dia, às nove da noite era hora de dormir na cama de colchão de palhas e acolchoados feitos de penas, crivada de pulgas, apesar do veneno que a mãe espalhava no quarto. Aquelas que resistiam, alimentavam-se à vontade.

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