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Vida real

O homem do chapéu preto

Nas laterais da porta, das janelas e até nas duas lajes que formam degraus para se chegar ao chalé, há santinhos por toda parte. Do mesmo tamanho e em cores diversas, em cada um deles, 15 no total, aparece a imagem daquele que o morador acredita ser o seu protetor e do universo: Jesus. Em um deles, especialmente, abaixo de uma foto já amarelada, está escrito: “Eu estarei sempre com você”.

André Schmidt, 35 anos, confia na mensagem. É assim que, em suas noites solitárias, sente-se acompanhado e ora antes de apagar a luz do lampião a querosene. “Por Deus e por Jesus”, reafirma, enquanto passa suavemente a mão nas orelhas do Xis, seu inseparável bicho de estimação. “Esse aqui é meu parceiro. Minha irmã não quis e acabei ficando com ele.”

André é conhecido na cidade não só por andar sempre na companhia do famoso Xis, mas também por estar quase sempre com o mesmo visual: calça jeans arregaçada, camisa branca ou preta, barba por fazer, um crucifixo no pescoço e, o mais emblemático: o chapéu preto com abas em zigue-zague. “Este aqui ganhei da minha madrinha quando fiz minha primeira comunhão”, conta, ao alcançar o chapéu, de forma solene, como se tocássemos em um objeto sagrado. Pois é ele, o chapéu, que só é tirado nos momentos em que André vai à igreja.  E ele garante: “Eu rezo muito pela minha família, meus irmãos, meus pais, rezo pra que eles fiquem unidos”.

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O que ele pede de prece aos outros, na verdade, talvez não seja o que realmente acontece quando se trata de carinho e proteção permanente que ele também deveria receber. Na casa de André, os dois cômodos estão às escuras. Há geladeira, banheiro, mas ele toma banho de mangueira e não tem tanque para lavar suas roupas. A energia elétrica, há algum tempo, foi sugerida por um familiar que fosse cortada.

SOLIDARIEDADE

André Schmidt, popularmente conhecido como “o homem do chapéu preto”, tem um certo grau de deficiência intelectual. “Eu tenho problema na cabeça desde pequeno. Mas eu sei escrever meu nome”, comenta ele ao mostrar um documento com sua assinatura. Apesar da aparente fragilidade,  também faz serviços de jardinagem. “Eu limpo o pátio da casa das ‘pessoa’ pra ganhar um trocado”, relata.

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Naquele dia, perto do horário de almoço, no fogão, em duas panelas sem cabo, André mostra o cardápio que nem para ele seria: “Isso aqui é pro Xis. Ele gosta de feijão e polenta”, sorri, enquanto o cachorro balança o rabo como se entendesse que a refeição seria servida em instantes. Ali,  nas proximidades de onde mora, na Rua Irmão Willibaldo, do Bairro Margarida, todo mundo o conhece. “Eu vejo seu André todos os dias. Ele é uma pessoa do bem. Mas alguém teria que cuidar dele”, diz uma senhora.

Os cuidados de que ele precisa são muitos. Embora tenha acompanhamento psiquiátrico toda semana, ele precisa de auxílio para que alguém organize sua casa. Também necessita de roupas, alimentos e calçados. “Se alguém quiser me ajudar vou ficar muito faceiro”, diz, ao despedir-se com sorrisos e um aceno sem fim.

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