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Vida Real

A “paz & amor” da Adolfo Pritsch

Maria Zulmira Soares chega do banho toda perfumada. Tereza, a filha, traz as cadeiras na varanda e naturalmente deixa-se a mais confortável para a tataravó da casa. “Oi, comadre”, grita alguém da rua em frente. “Oi, compadre”, responde e acena dona Maria. Ali, na Rua Adolfo Pritsch, do Bairro Bom Jesus, todos dirigem-se a ela com o respeito devido. Não só porque é a moradora mais antiga do lugar. Mas, especialmente, pelos conselhos que ela dá aos mais jovens. “Eu sempre digo pra essa gurizada: tem que trabalhar pra conseguir o que a gente quer, mas trabalhar direito, pelo caminho certo”, declara ela. 

Aos 86 anos e há mais de 70 morando no mesmo lugar, a mesma orientação é repassada à família. Na casa azul de número 156, de onde saíram sete filhos, 32 netos, bisnetos e tataranetos, todos conhecem a rigidez de dona Maria quando o assunto é educação e respeito. “Eu sempre digo pra todo mundo, não aceito, de jeito nenhum, que alguém vire bandido.” 

O dia quente e abafado, que antecedeu o vendaval da última terça-feira, faz essa senhora lembrar das situações vividas na infância. Por volta de 1940, então com 8 anos, ela e os irmãos Manoel Nicolau, Manoel Ramão e Maria Tereza resolveram sair de Caçapava do Sul, sua cidade de origem, para vir a pé até Santa Cruz do Sul. Foram dias de caminhada. “Andamos muito debaixo de sol quente, cada um com uma trouxa de roupa nas costas. De noite a gente dormia em algum galpão abandonado, ou no meio do mato. Passamos muita fome, porque nem sempre as casas onde a gente parava davam um prato de comida”, relembra.  

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Ao chegar em Santa Cruz acomodaram-se em um porão, onde viveram por cerca de um ano. “Meu irmão fez uma cama de taquara e colchão de palha”, recorda. No dia seguinte, saíram para buscar serviço nos arredores da cidade. Dona Maria trabalhou em lavouras de fumo, de arroz, depois como doméstica. Aos 20 anos casou-se com José Soares, já falecido. “Fiquei viúva muito nova, tive que criar os sete filhos sozinha. Eu solita e Deus, mas graças a Ele ninguém se desencaminhou.” 

Hoje, toda vez que alguém bate à porta de dona Maria, é sempre bem recebido. “Aqui vem muita gente pedir um copo de água, um pão, um prato de comida. E eu nunca julgo ninguém, cada um sabe de si. Porque assim como me ajudaram um dia, também procuro ajudar. O que me deixa agoniada é ver essa gurizada que parece não querer trabalhar hoje em dia.” 

CARNAVAL

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Além de Maria Zulmira, Marta Zinn, de 96 anos, também é uma moradora antiga do lugar. “As mais velhas daqui somos eu e a Marta, mas ela sofreu um acidente e agora foi morar com a filha lá no Viver Bem. Tinha também a Delires e a Tita, muito amigas minhas, mas já morreram. Agora sobrou eu aqui pra abençoar as pessoas. Sabia que eu era da ala das baianas, no carnaval? Tereza, procura os retratos aí dentro?”, sugere dona Maria. E a filha aparece com dezenas de álbuns. “Essa é a foto do carnaval de 2010, mas agora não posso mais porque as pernas não me ajudam”, brinca e conclui dona Maria.

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