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ELENOR SCHNEIDER

Profissão a perigo

Outubro, como quase todos os meses, destaca várias datas significativas, o que sempre permite reflexões oportunas e pertinentes. Todas as profissões têm sua importância e seu papel particular, muitas vezes único. O conjunto delas forma a harmonia da sociedade.

Por ter transitado na área, detenho-me a examinar algumas questões em torno do professor, do magistério (do latim magister, professor, pedagogo, conselheiro). Vivendo por dentro a realidade, por muitos anos acompanhei salas de aula lotadas de pessoas decididas a seguirem essa profissão (o que de fato fizeram), até um esvaziamento melancólico, que aponta para um futuro nebuloso e incerto da educação e do ensino.

Diversos países, ao se darem conta de um cenário estagnado, perceberam onde residia a fragilidade. E, sem titubear, investiram pesadamente na educação, a começar por uma excelente formação de professores e remuneração condizente a profissão tão essencial, princípio de qualquer programa de desenvolvimento. Boas escolas, com infraestrutura condizente, com professores comprometidos, qualificados e devidamente recompensados, cativam os alunos e promovem as grandes transformações.

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Divulgando os cursos da universidade e também ouvindo o depoimento de muitos professores de escolas, sempre me impressionei quando, perguntando aos alunos sobre cursos desejados, pouquíssimos (em geral nenhum numa turma) tinha o magistério como projeto pessoal e profissional. Essa onda foi crescente, e hoje os cursos de licenciatura lutam homericamente para sobreviver. Quer dizer, falta matéria-prima para prover as escolas com os necessários e qualificados profissionais.

E nem se trata necessariamente de falta de condições financeiras, embora os candidatos, em expressivo número, venham de classe menos abastada. Uma professora de universidade federal me contou que para matemática, sua área, até aparecem alguns candidatos, porém a maioria desiste nos primeiros passos da caminhada. Torna-se indispensável, assim, perceber o perfil desses candidatos, muitos sem livros em casa, sem histórico cultural, às vezes desanimados ou desamparados na escola, acolhê-los e proporcionar-lhes a devida formação. Eu muito usei uma frase quando, já na universidade, um aluno me dizia que nunca lera um livro (infelizmente realidade comum): “Então, vais começar essa história comigo!”

A empregabilidade nessa área é muito boa. Lembro que, com frequência, escolas e secretarias de educação buscavam professores entre acadêmicos ainda não devidamente preparados. É evidente que essa situação emergencial é inadequada para o jovem guindado subitamente a professor sem a necessária formação didática e pedagógica. Em consequência, rebatia e rebate no ensino e, como vemos a toda hora, nos maus resultados dos estudantes brasileiros nos testes nacionais e internacionais.

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No Dia do Professor, há pouco celebrado, as redes sociais foram pródigas em depoimentos de gratidão por aqueles que encontraram no professor a mola propulsora de sua formação. É claro que existem dificuldades (em qual profissão não existem?); no entanto, a paz que emana de tantas pessoas agradecidas faz do magistério um campo de plena realização.

Que seja professor quem realmente queira e saiba ensinar, que não apenas aprenda pirotecnia, mas antes de tudo seja profundo conhecedor daquilo que vai ensinar e tenha a grandeza e a humildade de acolher quem tanto precisa.

E um sonho final: que alguns dos melhores alunos de nossas escolas queiram se tornar professores!

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