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ELENOR SCHNEIDER

Essas flores são minhas

Muitas pessoas viram, há poucos dias, imagem de um casal passeando com seu cãozinho na rua duma praia gaúcha. A rua estava deserta, talvez já tarde da noite, talvez antes do nascer do sol. Diante de um canteiro bem cuidado, a caravana parou. Olhando para todos os lados, vários edifícios próximos, perscrutando alguma possível testemunha, a mulher, sentindo-se segura, subiu no canteiro e subtraiu uma planta viçosa para fazer companhia a outra que já trazia em seus braços. A cena foi filmada e certamente restará como vergonha por algumas gerações.

O fato me fez lembrar um episódio que vivi aqui em nossa cidade. Passando pela praça central, vi uma mulher apanhando flores. Parei e disse: “Senhora, essas flores são minhas.” Ela retrucou: “Como assim? Elas são da prefeitura.” Entendi. Da prefeitura são também as praças com seus bancos e brinquedos, as lâmpadas da iluminação pública, as placas de orientação do trânsito, as árvores das ruas, os bueiros e tantas coisas mais. E, sendo da prefeitura, dá para depredar, dá para levar para casa.

Atrás disso se esconde um pensamento egoísta e uma impressionante falta de consciência social. Os bens públicos merecem tanto respeito quanto os particulares. Mais até, eu diria, porque pertencem a muito mais pessoas, servem a toda a coletividade. Fico indignado quando vejo árvores recémplantadas, zelosamente cercadas com telas, quebradas ou arrancadas pelo simples prazer da destruição. O lixo descartado nas ruas, as folhas varridas para a sarjeta cobram o seu preço. “Cuê-pucha!… é mesmo bicho mau, o homem”, escreveu Simões Lopes Neto ao final do comovente conto “O boi velho”.

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Na praia que costumo frequentar, há um ponto de festa muito concorrido. É inacreditável o espetáculo deprimente de lixo que resta pela manhã. As próprias praias, no final de um dia, mostram cenários vergonhosos proporcionados por pessoas de todas as classes sociais, mas principalmente por muitas que aprenderam que essa é uma atitude abominável. Não pode sair da nossa memória uma cena que vimos na Copa de 2014. Ao final de um jogo, em Porto Alegre, os torcedores japoneses recolheram todo o lixo que produziram enquanto ali presentes. Uma aula de civilização. Mas, como acontece com tantas aulas, a lição não foi aprendida.

É certo que muito dessa consciência ambiental, desse respeito à natureza e aos bens públicos vem de casa, do berço. Aos pais ou responsáveis cabe o compromisso de educar seus filhos nesse sentido. Eles são a primeira fonte de formação e informação. O segundo espaço, quase sagrado, para isso é a escola. Os professores não podem desistir, não podem cansar de falar sobre esse tema, porque, assim, contribuem de maneira incomensurável para a formação de cidadãos. E mais até: formarão educadores que levarão a mensagem a quem não a proporcionou quando e como deveria ter sido feito.

Quando diretor da Escola Educar-se, um menino matou um filhote de quero-quero. Levamos a escola inteira e, ao redor do corpo, refletimos sobre esse gesto sem sentido. Os pássaros, livres, canoros, coloridos, são de todos nós, assim como as flores que a prefeitura planta em qualquer espaço público de nossa cidade e que enchem nossos olhos de encantamento.

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