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Por que jogadores têm demorado mais para retornar aos gramados após cirurgia de joelho?

Por: dr. João Hollanda, médico ortopedista especialista em joelho e médico da Seleção Brasileira de Futebol Feminino

A lesão do Ligamento Cruzado Anterior é um dos maiores temores dos jogadores de futebol, e não é para menos. Ricardo Oliveira, Paulo Henrique Ganso, Fred, Alan Kardek, Conca e Ibrahimovic são apenas alguns dos grandes nomes que tiveram que se afastar temporariamente do futebol em razão desta lesão. Apenas em 2018, 10 jogadores da série A do Campeonato Brasileiro foram submetidos à cirurgia para reconstrução do Ligamento.

Se tempos atrás a lesão levou ao fim de muitas carreiras promissoras ou já bem consolidadas, hoje em dia a situação é bem diferente. Com a evolução das técnicas cirúrgicas, a possibilidade de retorno no mesmo nível de antes da lesão é bem maior. No caminho contrário do que seria de se esperar, porém, o retorno aos gramados, que até há pouco era previsto para cinco ou seis meses após a cirurgia, muitas vezes tem acontecido de forma tardia, com sete, oito ou até mesmo nove meses de pós-operatório. Por que isso está acontecendo? Este atraso se justifica? Veremos aqui as evidências que temos para isso.

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O primeiro estudo que chamou a atenção para o fato de que muitos atletas estavam retornando de forma precoce ao futebol foi realizado em conjunto por pesquisadores da Noruega e da cidade americana de Delawere, e publicado em 2016 no renomado jornal The British Journal of Sports Medicine. Este estudo demonstrou três fatos importantes:

– 6 meses após a cirurgia, apenas 14% dos atletas obedeciam a todos os critérios para retorno ao futebol competitivo.

– Para cada mês de atraso no retorno ao futebol, o risco de uma nova lesão de forma precoce foi reduzindo em 50%, até os nove meses de cirurgia. Atrasar o retorno mais do que nove meses não demonstrou benefício extra.

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– Entre os atletas que retornaram de forma precoce, mas que já obedeciam a todos os critérios para retorno, não foi observado risco aumentado de re-lesão.

De fato, muitos atletas se sentem em condições de retornar ao futebol após os seis meses, mas, ao se realizarem os testes de força, muitas vezes ainda se observa uma deficiência significativa de força, colocando o joelho sob risco para novas lesões. A primeira estrutura que estabiliza o joelho não é o ligamento, mas sim a musculatura. Quando a musculatura falha, o ligamento passa a atuar. Caso a musculatura não esteja trabalhando da forma ideal, maior esforço será transmitido para os ligamentos, aumentando o risco de lesão. Reequilibrar a musculatura, portanto, é essencial antes de se liberar o retorno ao futebol.

Não basta, também, ter uma musculatura equilibrada nos testes de força: é preciso também que o atleta esteja correndo, fazendo acelerações e desacelerações, saltos e mudanças de direções; é preciso que esteja conseguindo driblar, chutar, enfim, que esteja confortável com os gestos esportivos do futebol antes de partir para um jogo onde terá que dividir bola e onde terá maior exigência sobre o ligamento. Isso usualmente envolve entre um e dois meses de treino específico.

A maior parte das lesões do Ligamento Cruzado Anterior ocorre nos finais do primeiro ou segundo tempo, quando o jogador está cansado e a musculatura não mais responde de forma eficiente. O jogador precisa, portanto, estar bem fisicamente como um todo, e não apenas bem do joelho. O retorno deverá ser progressivo, participando inicialmente apenas de parte do jogo antes de partir para um jogo completo.

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Como regra geral, portanto, o tempo total de recuperação após uma cirurgia de reconstrução ligamentar tem se estendido e uma expectativa ao redor de 7 ou 8 meses tende a ser mais realista. Nada impede, porém, que um atleta que apresente uma boa resposta a todo o processo de recuperação, que já tenha passado por todas as fases da reabilitação e que apresente musculatura bem equilibrada nos testes de força e resposta satisfatória nos testes de agilidade e potência possa eventualmente retornar após os seis meses de cirurgia.

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