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Entrevista

“O árbitro precisa ter autoridade”, diz Carlos Simon

Com 27 anos de carreira e mais de 1 mil jogos no currículo, Simon trabalha no Fox Sports

Com 27 anos de carreira e 1.198 jogos (devidamente registrados em um caderno), Carlos Eugênio Simon, 54 anos, entende que a arbitragem nacional passa por um momento regular. Segundo o gaúcho, nascido em Braga, no Norte do Rio Grande do Sul, a comissão da CBF, conduzida pelo também gaúcho Leonardo Gaciba, precisa de mais autonomia para valorizar os profissionais.

Em entrevista à Gazeta do Sul, Simon falou sobre a utilização do VAR no futebol mundial, as principais partidas que apitou e defendeu que o juiz precisa ser mais respeitado pelos jogadores. Atualmente comentarista de arbitragem nos canais Fox Sports, lembrou da época em que se formou jornalista e dos duelos jogos mais importantes no currículo.

Árbitro brasileiro que mais apitou Copas do Mundo – sete partidas, em três edições –, ele garantiu que as críticas fazem parte da época em que estava exercendo a função; porém, afirmou que recebe mais elogios pelos lugares nos quais encontra torcedores.

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ENTREVISTA

Gazeta do Sul – Como o senhor avalia o momento atual da arbitragem brasileira?
Carlos Simon – Regular. O Gaciba assumiu (a comissão de arbitragem da CBF), foi um grande árbitro, mas está sozinho; é apenas mais um naquele círculo vicioso que se encontra lá. Tanto é que está há um ano (no cargo) e não vimos grandes avanços na arbitragem brasileira. O que eu defendo é uma autonomia maior para a comissão de arbitragem.

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Qual a importância da atualização?
É fundamental. O árbitro tem de estar sempre estudando, a par do que acontece no mundo do futebol, as novas tecnologias, os novos esquemas táticos. O árbitro tem de ser um profundo conhecedor do futebol, e, evidentemente, da regra do jogo, que tem mudado muito de 2016 para cá. Ele tem de ficar atento e estudando.

Até que o ponto o VAR pode ser visto, efetivamente, como uma ferramenta de apoio?
Ele não veio para fazer justiça no futebol, como muito já se pregou. Por exemplo, se um lance que é de tiro de meta e o árbitro marca escanteio e, desse escanteio, sai o gol, onde que está a justiça? Nesse tipo de lance, o árbitro (de vídeo) não pode intervir, só nas questões de pênaltis, gols, cartão vermelho e identificação de jogador. Essa ferramenta veio para dar uma tranquilidade ao árbitro, porque, quando entra em campo, ele sabe que não vai cometer um grande erro.

Na Copa de 2010, na África do Sul (duelo entre Alemanha e Inglaterra), o Lampard (meia inglês) chutou a bola do semi-círculo, deu no travessão e quicou um metro e meio dentro do gol (não validado). Com o VAR, esse tipo de erro não existe mais. Nesse lances, não teremos mais equívocos da arbitragem. É uma tranquilidade, desde que bem usado. Não pode o árbitro, toda hora, querer avaliar ou deixar para que o VAR apite. Aqui no Brasil, tem-se usado como uma bengala. O árbitro de campo não apita, deixando para que o de vídeo decida, e não pode.

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Que comparações podem ser feitas da época em que o senhor apitou?
Se tivesse o VAR, seria muito mais tranquilo. Na minha época, tínhamos mais autoridade. Quando eu entrava em campo, Oscar Roberto de Godoy, Cláudio Vinícius Cerdeira, Sidrack Marinho e tantos outros grandes árbitros, que apitaram, tu sentias que era respeitado. Hoje, o jogador peita, coloca o dedo na cara, vai nos dois assistentes. O árbitro precisa ter autoridade, que é diferente de autoritarismo. Também é necessário técnica de arbitragem. Hoje, muitos só correm. Modéstia à parte, sempre apitava em cima do lance, sendo privilegiado na condição física, porque treinava muito. Tem de ter a leitura do jogo e, muitas vezes, no Brasil está se perdendo isso.

O que dá para dizer da arbitragem gaúcha?
É uma das expoentes do País. Acho que o Daronco (Anderson) e o Vuaden (Leandro) apitam qualquer jogo no futebol brasileiro. Sempre tivemos grandes árbitros, desde o tempo do Agomar Martins, do Carlos Martins, além de grandes árbitros assistentes, o José Carlos de Oliveira e o Altemir Hausmann, que foram os maiores da história. A escola é muito forte e a renovação está vindo. O Daronco está lutando, pleiteando pela próxima Copa do Mundo (no Catar, em 2022), é um dos candidatos. Para mim, Anderson Daronco, Raphael Claus (paulista) e Wilton Sampaio (goiano), desses três, provavelmente dois irão, um como árbitro (de campo), outro como árbitro de vídeo.

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Como a profissão de jornalista tem ajudado na análise de arbitragem?
Bastante. Me formei na PUC em 1993, sempre gostei de jornalismo. Me ajudou muito como árbitro, de entender a crítica. Quando era uma crítica feita pelo professor Ruy Carlos Ostermann, eu fazia uma reflexão: ‘Opa, esse cara, sabe o que está falando’, e isso me ajuda muito nessa compreensão. Quando eram outros que criticavam pela crítica, não dava bola, botava na lata de lixo. Isso me ajudou na relação com a imprensa. Eu dava entrevistas na minha época, atendia a todos. O árbitro é uma figura pública, tem de, muitas vezes, falar o ponto de vista e a opinião dele. Como comentarista de arbitragem, me ajudou pela vivência que tive em campo; foram 27 anos apitando futebol. Elogio quando tem de elogiar e critico quando tem de criticar.

Como o senhor reage às críticas da época em que apitava?
Recebo muito mais elogios e aplausos, agora mais do que nunca. As pessoas dizem: ‘Como tu faz falta ao futebol, Simon’. Claro que cometi equívocos, mas muito mais acertos; minha carreira foi extremamente vitoriosa. Apitei 1.198 jogos. As pessoas me tratam numa boa, converso com todo mundo, sem agressão, sem violência. Para minha satisfação, por onde eu ando, no Brasil, e, principalmente, na América do Sul, amigos, ex-companheiros vão me visitar no hotel. Tenho um reconhecimento muito grande no meu nome, e do qual me orgulho bastante.

Quais foram os principais jogos na carreira?
Os setes jogos na Copa do Mundo. Fui o árbitro brasileiro que mais apitou (2002, Japão/Coreia do Sul; 2006, Alemanha; e 2010, África do Sul), os 19 Gre-Nais, as finais de Brasileiro (seis, no total), cinco finais de Copa do Brasil, Mundiais de Clubes, além de todos os clássicos em nível estadual e nacional.

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