Rádios ao vivo

Leia a Gazeta Digital

Publicidade

Tabaco

Produtores reclamam do baixo preço da safra

Com 6% da safra comercializada até o momento, os produtores de tabaco já mostram insatisfação com o rigor na classificação das empresas. O temor de haver problemas na valorização da colheita diante dos resultados positivos nas lavouras com o clima favorável se confirmou com as primeiras vendas. Diante do descontentamento dos agricultores, as entidades representativas começaram a articulação com o objetivo de pressionar as indústrias para remunerar a produção de acordo com a qualidade.

O produtor Lauro Schmidt, 55 anos, da localidade de Rincão da Serra, interior de Vera Cruz, até agora vendeu 200 arrobas a duas empresas. E afirma que o preço “foi ruim”. Schmidt recebeu R$ 135,00, em média, por arroba, quando esperava de R$ 160,00 a R$ 165,00. Ressalta que o valor está bem abaixo do que esperava. Ele e a esposa Irene, 51 anos, plantaram 80 mil pés de tabaco na safra 2016/2017. Já concluíram a colheita e calculam que a produção é de 900 arrobas.

Schmidt e a esposa dizem ter entregue fumo da classe BO1 e que as empresas o classificaram como BO2 e BO3. O casal afirma que a colheita desta safra tem melhor qualidade do que a anterior, mas as compradoras dizem que não e chegam a baixar duas vezes a classificação. “Em relação à safra passada, estamos perdendo R$ 35,00 por arroba”, ressaltou Schmidt, observando que o custo de produção aumentou e eles contrataram cinco trabalhadores na colheita.

Publicidade

Irene salienta que se o preço ficar como está, vai dar para pagar as contas e preparar a nova safra. Mas não sobrará para as despesas da família e nem à manutenção da propriedade. Com a permanência da atual situação, Schmidt pensa em reduzir o plantio em 50% no próximo ciclo. 

O fumicultor Juarez Winck, 45 anos, também de Rincão da Serra, diz que “vai chegar um ponto em que o colono não terá mais condições de plantar fumo, pois o preço pago ao produtor não acompanha o custo de produção”. Winck e a esposa Raquel Stum, 42 anos, plantaram 100 mil pés. Tiveram um pouco de perda devido às chuvas e a produção é estimada em 900 arrobas. Já fizeram duas vendas, totalizando 190 arrobas, e consideram o preço pago “muito ruim, principalmente em relação à safra passada”. Uma empresa pagou R$ 130,00 a arroba e a outra, R$ 141,00. Ele garante que o tabaco era de boa qualidade e avalia de R$ 150,00 a R$ 160,00 a arroba. “Era BO1, BO2 e cinco fardos de BR2 e as firmas classificaram bem abaixo”, explica.

Sem avanços

Publicidade

As negociações entre as entidades representativas dos produtores e as empresas sobre o preço da safra de tabaco não tiveram mais avanços nas últimas semanas. Na primeira rodada de negociações, no final de novembro do ano passado, houve apenas a assinatura do protocolo com a Souza Cruz, que estabelece o reajuste em 8,35% para a safra 2016/2017 sobre a tabela do ano anterior. O índice representa 1,05 ponto percentual acima da variação do custo de produção, de 7,3%. Com isso, o preço de tabela pelo quilo do fumo do tipo TO2 é R$ 9,35 e o BO1 vale R$ 11,64.

A rodada de negociação do preço em 17 de janeiro se encerrou sem acordos, pois nenhuma das demais empresas chegou ao percentual de reajuste de 8,35%. As propostas apresentadas foram apenas para a variedade Virgínia. A Philip Morris ofereceu reajuste de 5,3% para as posições B e T e as posições X e C, conforme tabela da safra passada. A JTI propôs 6,7% de aumento. Já a Universal Leaf apresentou acréscimo de 7,5% para as posições B e T e nas X e C, a manutenção da tabela da safra passada; e nas classes XL1, XL2, CL1 e CL2, redução de 7%. A Alliance One, China Brasil e Premium não apresentaram propostas. 

Comercialização atinge 10% na região de Santa Cruz do Sul

Publicidade

Até agora, o maior volume de comercialização é de produtores da área de Araranguá, no litoral de Santa Catarina, com 30%, seguido por Tubarão e Braço do Norte, com 22%. Na região de Santa Cruz houve a venda de 10% da produção e nas demais localidades não passa de 5%. Com isso, a média geral de compra da safra atinge 6%. O presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), Benício Werner, explica que a grande maioria dos agricultores está insatisfeita, pois as empresas mudaram a forma de compra em relação ao ano passado, quando correram atrás do produtor e ofereceram preços acima da média normal. Nesta safra, elas mostram grande rigor na classificação.

Acompanhado por um técnico com curso de classificador oficial, o presidente da Afubra visitou produtores que se queixaram do rigor na classificação no momento da venda. Conforme Werner, o tabaco apresentou ótima qualidade, com a tonalidade para classificação na linha O, pelo qual as empresas mostram preferência. Mas a classificação no produto vendido foi bem abaixo da expectativa. Diante disso, em entrevista à Rádio Gazeta esta semana, o dirigente disse que certamente haverá cautela maior na comercialização em relação à safra passada. Afirmou ainda que as entidades terão que fazer maior pressão para as indústrias mudarem sua posição.

Werner observa que as empresas estão muito exigentes e pedem aos produtores a comercialização das folhas do alto ao meio pé. “Particularmente somos contra isso, pois o ideal é começar a venda pelo que se colhe primeiro, ou seja, pelo baixeiro”, observa. O presidente da Afubra explica que a qualidade da safra não deixa nada a desejar em consequência do clima favorável. Observa que visitou na semana passada produtores do oeste de Santa Catarina, onde há mais tabaco da variedade Burley, e a produtividade é bem superior à do ano passado.

Publicidade

A Afubra recomenda aos produtores com dúvidas sobre a classificação durante a comercialização, na esteira das empresas, que procurem os técnicos da Emater/RS-Ascar. Um convênio com a entidade prevê a prestação de serviço de acompanhamento da classificação do tabaco durante o período de recebimento da safra nas indústrias do Rio Grande do Sul. A Emater atua como um intermediário, como um facilitador na classificação do fumo.

Auxílios por granizo

A Afubra inicia no dia 21 deste mês o repasse dos auxílios por granizo aos produtores que quitarem suas ordens de pagamento. O valor total previsto que os produtores deverão receber é de R$ 63,54 milhões por danos em lavouras causados por chuvas de pedras de gelo. As perdas na safra atual foram abaixo da média histórica, ao contrário do ciclo 2015/2016, quando houve muitos prejuízos com as incidências de granizo e excesso de chuva, principalmente na parte baixa do Vale do Rio Pardo. No ano passado, até o início da segunda quinzena de fevereiro, o total dos auxílios previstos era de R$ 121,57 milhões.

Publicidade

Na safra atual (2016/2017), foram atingidas por granizo, até o final da semana passada, 17.469 lavouras. Já no ciclo anterior, 38.373 plantações foram afetadas. Com a queda na produção e produtividade em consequência dos problemas climáticos, Venâncio Aires perdeu no ano passado a posição de maior município produtor de tabaco para Canguçu, no Sul do Estado.

Aviso de cookies

Nós utilizamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdos de seu interesse. Para saber mais, consulte a nossa Política de Privacidade.