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Amor que transborda

Maternidade em três gerações

Na época de Maria Mercedes de Souza, 78 anos, bebê vinha ao mundo com auxílio de parteira. E com ela não foi diferente. Deu à luz as filhas, Hilda e Tânia, em casa, sob o zelo da inesquecível Júlia. Duas décadas depois, quando Hilda, a mais nova, engravidou e fez mãe virar avó e filha virar mãe, o parto (normal) aconteceu no hospital. Desta vez com acompanhamento de uma equipe formada por ginecologista e enfermeiros. A transformação das mulheres da família, entretanto, não parou por aí. Não tardou para que Maria Mercedes acumulasse mais uma função (das boas).

Com a gravidez da neta, Patrícia Rossa, 31, cuja filha Luisa nasceu por meio de cesárea, virou bisavó. Às vésperas do Dia das Mães, a Gazeta do Sul mostra os aprendizados desse encontro de gerações. Lições de maternidade que atravessam o tempo e se apresentam em forma de sabedoria, afeto, respeito e, acima de tudo, gratidão. Afinal, são poucas que têm o privilégio de escutar histórias da bisa, da avó e da mãe ao mesmo tempo. E nós trazemos isso agora, mostramos algumas delas.


Luisa, de apenas 3 anos, tem o privilégio de poucos – convive com a bisa, a avó e a mãe, que trocam lições e acompanham as mudanças ocorridas na maternidade

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Se parar para refletir, dona Maria Mercedes acha até curioso. Mas quando as filhas, Tânia (já falecida) e Hilda, 55 anos, ficavam doentes, ela se virava com chás e demais receitas caseiras. Não lembra de ter levado as pequenas uma vez sequer ao hospital, exceto, é claro, para fazer vacinas. Sem a ajuda do Google, Maria Mercedes aprendeu com a escola da vida que quando a criança tinha febre, bastava passar um paninho úmido nos pés e nas mãos. 

Se o mal era outro, o chá resolvia. “Poejo, folha de laranja e capim de febre eram os que eu mais usava.” Já Hilda, com suas quatro gurias (Patrícia, 31, Jaqueline, 32, Gabriela, 27, e Mariana, 22), marcava médico e no outro dia batia ponto no consultório. Enquanto isso, a Pati, última a se tornar mamãe da turma, desfruta da tecnologia. Envia dúvidas para a pediatra por mensagens no aplicativo WhatsApp  e, havendo a necessidade, providencia uma consulta para garantir que tudo está bem. 

Mas não pense que a filha Hilda e a neta Patrícia não se aproveitam do conhecimento de quem hoje assume função tripla. “Quando a Luisa tem tosse, coloco um paninho úmido com cachaça e afumento o peitinho dela. Isso eu aprendi com a mãe, que aprendeu com a vó”, diz Patrícia. É a hora em que dona Maria Mercedes sorri, toda feliz e orgulhosa. É que maternidade tem dessas coisas. O zelo ultrapassa gerações.

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Bonecas de pano e vídeo no celular

Todas as roupinhas que Hilda Rossa usou quando bebê foram feitas em casa e pela mãe. Os brinquedos – na maioria, bonecas de pano – também. “Não tínhamos condições de comprar coisas fora. Tudo era bem ‘simplezinho’ e as meninas adoravam”, diz dona Mercedes.

A televisão, hoje quase ultrapassada na competição com o smartphone, foi aparecer no pequeno chalé em que a família residia somente quando Hilda tinha 7 anos, na primeira comunhão. Antes disso, o meio de comunicação presente era o rádio. “O dia em que compramos a primeira TV foi um evento. Parecia coisa de outro mundo”, lembra Hilda. Diferente também não eram só os brinquedos, mas a forma de brincar. 

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Enquanto Hilda e até mesmo Patrícia tiveram mais acesso à rua e à turma de vizinhos, a pequena Luisa, de 3 anos, brinca de forma mais individual. Quando não está na creche, se distrai em casa com os desenhos na TV ou as dezenas de brinquedos espalhados pela sala, como quebra-cabeça, bichos de pelúcia e bonecas. Quando a mãe autoriza, a pequena “voa” para qualquer dispositivo móvel, para as muitas possibilidades de vídeos oferecidas pelo Youtube. “Ela aprendeu sozinha. É impressionante”, diz Patricia.

Quando a mãe abdicava da profissão para ficar em casa

Para criar a pequena Luisa, Patrícia faz malabarismo. Mãe solteira, trabalha em média dez horas por dia no salão de beleza de que é proprietária, busca a pequena na creche, brinca, dá banho, troca roupa e, enfim, descansa. Sorte dela é que pode contar com a ajuda de uma dupla insubstituível. Vó e bisa se colocam à disposição para fazer companhia à pequena quando necessário. “Ainda bem. Igual à comidinha da bisa não tem”, brinca Patrícia. Já nos fins de semana, a responsabilidade fica com o pai. 

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A rotina encarada por Patrícia hoje é bem diferente da que sua mãe e avó viveram. Isso porque Maria Mercedes e Hilda abdicaram do trabalho para se dedicarem à criação dos filhos. “No início eu até trabalhava fora, mas depois meu marido pediu que cuidasse só da casa e dos filhos”, lembra Hilda. 
Já para Maria Mercedes, nem opção havia. No tempo em que a aposentada tinha as filhas pequenas, não existia geladeira, nem máquina de lavar roupa. Enquanto o marido trabalhava, sua função era se dedicar apenas aos afazeres domésticos. Creche, então, era um sistema desconhecido. Ainda bem que mudou.

Mais espaço para o diálogo e para respeitar as opções

Quarenta e sete anos separam a avó Maria Mercedes da neta Patrícia Rossa. E nesse meio tempo, o “ser mãe” se transformou. Evoluiu. Cedeu espaço para que a conversa aconteça de forma aberta, sem medos ou pré-julgamentos. Se na época de dona Maria Mercedes falar sobre relacionamento em casa era assunto proibido – “Tudo era ‘feio’”, lembra ela –, hoje a cabeleireira Patrícia quer mais é que a filha solte o verbo quando entrar na adolescência. 

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“A Luisa vai poder ser o que ela quiser. Se ela me apresentar uma namorada ou um namorado, tanto faz. Só quero que ela seja feliz”, diz Patrícia, sob o olhar assustado da vó. E a mãe, Hilda, dá risada. “Eu sempre fui muito aberta com as minhas filhas. Para mim, diálogo é fundamental. Mas também entendo o fato de, na época da mãe (Mercedes), esse tipo de conversa não existir. Era cultural”, diz. Consciente sobre a diferença entre gerações, a cabeleireira Patrícia ainda acrescenta. “A criação muda, mas o fundamento da relação é o mesmo: respeito independente da época.”

É nesse contexto que Maria Mercedes, Hilda e Patrícia entendem, mesmo quando a criação de uma diverge da forma como a outra pensa, até onde podem ir. Naquele espaço de convivência, mãe é mãe, avó é avó e bisavó é bisavó. Se ajudam quando requisitadas e buscam, à medida que o tempo assim as ensina, dar espaço para cada uma desempenhar o seu papel. Quem mais ganha com isso? As três. 

Luisa tem o privilégio de conviver com três gerações de mães. Patrícia conta com o suporte de duas mães. Hilda convive com neta, filha e mãe. E dona Mercedes, mesmo com seus experientes 78 anos, segue se reinventando com as novas descobertas da maternidade

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