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Cinema

O enredo que resulta no filme de nossas vidas

O Filme da Minha Vida, a nova produção do cineasta mineiro Selton Mello, que estreou em todo o País na última quinta-feira, tem arrancado efusivos elogios da crítica. Se a história que é apresentada nas telas é bela e emocionante, um alento para os espectadores em tempos de tensão, angústia e insegurança, os bastidores por si só dariam enredo para outro filme. Pelos acasos e pelas sincronicidades envolvidas. Acima de tudo pairam a competência e a mestria de um escritor, o chileno Antonio Skármeta, autor de O carteiro e o poeta – que, adaptado para o cinema, ganhou ampla projeção internacional – e de Um pai de cinema, a novela que serviu de base para O Filme da Minha Vida, e de um ator e diretor, Selton Mello. Essa é a rara parceria que se cristalizou nas telas.

Em entrevista a Pedro Bial, no programa “Conversa com Bial”, da Rede Globo, de quinta-feira, Selton mencionou, com generosidade, que tudo se iniciou em Santa Cruz do Sul. E assim foi. No princípio de tudo está o interesse pelos livros e pelo fomento à leitura. Em 2012, Skármeta, a quem eu havia entrevistado em duas ocasiões, uma em Berlim e outra em Santiago do Chile, foi convidado a ser o patrono da 25ª Feira do Livro de Santa Cruz, a primeira estrela efetivamente internacional do evento. Em sua estada na cidade, encantou-se com o clima e se tornou, de imediato, entusiasta dos potenciais locais.

Tanto simpatizou com Santa Cruz que, em conversas informais, disse alimentar o sonho de ver sua novela Um pai de cinema, lançada pela Record em 2011, adaptada para as telas no Brasil. “E penso que o clima de Santa Cruz e da região se ajusta muito bem a essa história”, dizia, ainda que originalmente o livro esteja ambientado em uma cidade chilena. Fez o comentário uma vez, fez outra, e para bom entendedor o recado estava dado. Num café entre amigos, a ideia foi ventilada e começou a ser levada a sério. Nomes de possíveis cineastas que poderiam aceitar a empreitada foram referidos, e um logo se impôs, o de Selton Mello, cujo O Palhaço estava na memória recente de todos.

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Pronto. Estava ali o nome de um diretor que talvez pudesse se deixar capturar pelo belo e poético romance de Skármeta. A produtora Vânia Cattani, da Bananeira Filmes, do Rio, que assinara a realização de O Palhaço, foi a primeira a ser procurada, por e-mail. O tom era mais ou menos o seguinte: “Antonio Skármeta desejaria que um de seus livros fosse adaptado no Brasil. Será que o Selton se interessaria?”

A resposta demorou alguns dias, e talvez o e-mail parecesse mesmo trote. Mas veio. E ao que veio, Skármeta, Selton e Vânia foram colocados em contato, e tudo estava feito. Em 2013, numa de suas vindas ao Brasil, Skármeta encontrou-se com Selton em São Paulo, e a parceria foi efetivada. Nascia ali O Filme da Minha Vida, cujo roteiro viria a ser assinado por Selton em conjunto com Marcelo Vindicatto.

Encontro alinhavado em Santa Cruz

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Santa Cruz permaneceu no campo de visão do filme. Convidado especial da antologia Nem te conto II, da Editora Gazeta, organizada por mim e pelo escritor Rudinei Kopp, Skármeta esteve na cidade, em novembro de 2013. Selton e Vindicatto haviam agendado para os mesmos dias a primeira viagem de prospecção para as filmagens. Visitaram a Serra e de lá vieram a Santa Cruz para uma reunião com Skármeta, no Hotel Charrua. A opção por filmar no Estado já estava tomada, e a Serra imediatamente se engajou em atrair a produção. Hoje, paisagens de Bento Gonçalves, Monte Belo do Sul, Cotiporã e arredores se impõem na tela e projetam a região para o mundo.

“Espero que a energia de um autor chileno com a sensibilidade do diretor brasileiro possam resultar numa explosão de talento, digno de emocionar o público”, disse Skármeta, na oportunidade. O resultado final o público já pode conferir desde quinta nos cinemas (infelizmente, Santa Cruz ainda precisará aguardar para que o filme entre em cartaz).

Pela receptividade da crítica, o sucesso já é fato. “Pérola preciosa”, define Eduardo Escorel, da Piauí. “Tem os ingredientes para se tornar um clássico.” E já são muitas as alusões ao potencial do filme de ser o indicado do País para o Oscar, escolha que acontecerá ao final do mês. Tudo, claro, é síntese da competência, da grandeza e da generosidade de dois artistas de rara estirpe: Antonio Skármeta e Selton Mello. Ninguém melhor do que eles, nessa parceria, para nos emocionar, no que, aliás, são especialistas.

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