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CAMINHOS DO TABACO

Produtores sofrem os transtornos da falta de energia

Foto: Alencar da Rosa

Produtores tiveram perdas superiores a R$ 800 mil com as quedas de energia elétrica

A falta de energia e as oscilações na rede elétrica constituem problema na secagem do tabaco em diversas cidades nas regiões produtoras em todo o Sul do Brasil. A interrupção no fornecimento quando há folhas nas estufas, em diferentes estágios de cura, com a alternância na temperatura que precisa ser observada, implica em comprometimento de qualidade do produto, até o ponto de ele perder totalmente seu valor de mercado. Foi o que a expedição Os Caminhos do Tabaco 2021 pôde conferir na tarde desta terça-feira, 9, na localidade de Poço Frio dos Moreiras, a 9 quilômetros da sede de Piên, no Leste do Paraná, já na proximidade de Rio Negro.

Nessa comunidade, cerca de 50 produtores sofreram prejuízos significativos, de variadas intensidades, em virtude da queda no fornecimento de energia elétrica quando estavam com tabaco nas estufas em meio ao processo de secagem. Só a família de Douglas Jacson Anhaia, 33 anos, por exemplo, estima as perdas financeiras em R$ 45 mil, por conta de quatro estufas de folhas completamente estragadas em função da falta de energia.

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Em virtude disso é que ele e seus vizinhos, alguns inclusive de outros municípios da região, decidiram fazer um manifesto na frente da subestação da companhia fornecedora de energia, a Copel – Companhia Paranaense de Energia, no dia 31 de janeiro, um domingo. Do ato resultou uma audiência com a direção da Copel, no dia 2 de fevereiro, para debater a situação, encontro acompanhado por produtores, lideranças e até por um advogado contratado pelo grupo a fim de lhes assessorar nessa demanda.

Anhaia explica que as quedas de energia ou a oscilação na rede em época de verão, no forte da colheita do tabaco, são comuns já há muitos anos. Mas no início de 2021 o contratempo foi muito além do esperado. Em 18 de janeiro faltou luz o dia todo, e, além da perda de qualidade nas folhas de tabaco, um dos motores de seu sistema da estufa queimou. Ele teve de substituir o equipamento, num gasto de R$ 1,2 mil. Só que houve nova queda de luz entre os dias 28 e 30 de janeiro, 48 horas seguidas, e então a perda do tabaco em secagem foi total. Anhaia teve quatro estufas perdidas, e os seus vizinhos ficaram na mesma situação; o grupo ingressou com uma ação na expectativa de ter o ressarcimento do prejuízo. “Além do tabaco, em outros momentos a oscilação na rede compromete os eletrodomésticos da gente”, frisa.

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Nessa terça-feira Anhaia recebeu a comitiva da expedição ao lado da esposa Alexsandra Karoline Kurovski, 30, e do filho Vinicius, de 5 anos. Ele explica que na verdade Alexsandra é quem responde pela condução dos trabalhos na propriedade, ao lado de outros familiares. O casal tem 12 hectares e planta 30 mil pés de tabaco, tendo na cultura a principal fonte de renda. Já o cunhado Leandro Kurovski e a sogra Anesia de Oliveira Kurovski também plantam, totalizando 90 mil pés na família, produto secado em quatro estufas elétricas de ar forçado.

Outros vizinhos de Anhaia engrossaram o coro no sentido de ter uma satisfação quanto ao problema e de verificarem uma melhoria geral na qualidade da energia fornecida na comunidade. Até o deputado estadual Emerson Bacil e o vereador e presidente da Câmara de Vereadores de Piên, Eduardo Pires Ferreira, se solidarizaram com o grupo. Ferreira é ele próprio produtor de tabaco residente na localidade. Só ali as perdas estimadas seriam superiores a R$ 800 mil.

Entre os produtores de tabaco atingidos estão Ivo Gomes, 56, que planta 60 mil pés; José Luiz Rohrbacher, 36, que cultiva 70 mil pés; Fábio Júnior Pereira, 35, que cultiva 60 mil pés; e Jaisson Braz Wotroba, 38, que planta 60 mil pés em Lageado das Mortes, no interior do município vizinho de Rio Negro, e ali sofre com o mesmo problema, como de resto milhares de produtores em todo o Sul do Brasil.

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Entre o tabaco e as uvas

Por Giovane Luiz Weber

Olá, pessoal! Tudo bem? Estivemos ontem no município de Piên, a convite do agricultor Douglas Anhaia. Na propriedade dele, reuniu um grupo de produtores de tabaco para conversar conosco. Entre eles estava o casal Jaisson Braz Wotroba e Gislaine Aparecida Valério, ao lado das filhas Keneli, 3 anos e 8 meses, e Kefelin, de 1 ano e 11 meses, que moram em Lageado das Mortes, no interior de Rio Negro (PR). Wotroba sofre com os problemas da falta de energia elétrica, como a reportagem ao lado detalha, mas também diversifica a propriedade com um hectare de vinhedo. Eles possuem 1.800 pés de parreira, desde 2011, e a produção se iniciou em 2013. O forte é a venda de uva in natura na propriedade, e igualmente já elaboram sucos, com marca própria, embora ainda não registrada. E planejam com convicção investir na elaboração de vinho, inclusive com a construção de uma adega à moda antiga. Mesmo com a aposta na viticultura, não pretendem deixar de plantar tabaco, ao menos por ora, porque constatam que ainda não têm garantia de retorno financeiro, algo que o tabaco lhes assegura.

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A distância a ser percorrida

Algo que sempre me chama a atenção é a distância que esses produtores precisam percorrer até chegarem à cidade ou ao asfalto. Da propriedade da família Anhaia em direção a Rio Negro, cumprimos ontem 42 quilômetros, sendo que 35 em estrada de chão, e até em condições precárias, em virtude das recentes chuvas fortes. Se no tabaco há o transtorno da falta de energia elétrica, além da dificuldade de escoamento da produção por vias tão danificadas, em outras culturas essas distâncias a percorrer igualmente inibem investimentos. Em todos os casos, o acesso por estradas de chão, em longos percursos, é um impeditivo.

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