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Acadêmicos e ganhadores do Nobel assinam carta contra ataques à ciência no Brasil

Mais de 200 pesquisadores do mundo inteiro, incluindo três laureados pelo Prêmio Nobel, assinaram uma carta aberta em solidariedade a acadêmicos e cientistas brasileiros. No documento, os signatários afirmam que a ciência brasileira sofre com cortes orçamentários, perseguições e a instrumentalização de pesquisas para fins eleitorais. O grupo também critica a gestão do presidente Jair Bolsonaro na pandemia de Covid-19 e pede a responsabilização do governante.

Entre os signatários estão nomes como Michel Mayor (Nobel de física em 2019), Peter Ratcliffe (Nobel de medicina em 2019) e Charles Rice (Nobel de medicina em 2020), além de Peter Wagner (Universidade de Barcelona, Espanha), Jacques Rancière (Universidade Paris 8, França), Helena Hirata (CNRS, França) e Susan McGrath (Universidade de York, Canadá). Acadêmicos brasileiros membros de diferentes universidades e institutos científicos também assinam a carta.

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A pesquisadora Glenda Andrade, doutoranda na Universidade Paris 8, foi quem redigiu o documento em 6 de abril, motivada por conversas com as acadêmicas brasileiras Helena Hirata, professora emérita da CNRS-França, Liliana Segnini, da Unicamp, e Graça Druck, da Universidade Federal da Bahia. Segundo Glenda, nos círculos universitários há grande comoção com a crise brasileira agravada pela gestão Bolsonaro, e a carta é uma iniciativa simbólica.

“Nós nos preocupamos com o agravamento da crise sanitária no Brasil e com os ataques à ciência. Por meio desta carta aberta, nós, acadêmicos de todo o mundo, demonstramos nossa solidariedade com os colegas no Brasil, cujas liberdades estão ameaçadas, e com a população brasileira, que é afetada diariamente por essa política destrutiva”, diz a carta.

O texto destaca as repetidas investidas do governo federal contra a contenção da pandemia, relembra a má condução do presidente em pautas ambientais e pede a correta responsabilização. “Em um contexto de crise sanitária, de agravamento das desigualdades e de mudanças climáticas, este tipo de conduta é inaceitável, e o autor deve ser responsabilizado”. O documento também denuncia o negacionismo, a negligência e a proliferação de notícias falsas por parte do governo federal.

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“Bolsonaro desencorajou ainda a vacinação, chegando a sugerir, por exemplo, que as pessoas poderiam se transformar em ‘jacaré’. Em meio ao negacionismo, proliferação de falsas informações e ataques à ciência, em plena crise sanitária o presidente chegou a mudar quatro vezes de ministro da Saúde”, diz outro trecho do documento.

A carta também menciona os recordes diários de mortes pela Covid-19 no Brasil e aponta o País como uma “gigantesca fábrica de variantes” do vírus. “Ao desmentir a ciência, Bolsonaro não somente fere a comunidade científica, mas toda a sociedade brasileira”, diz o documento.

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Confira, a seguir, a carta na íntegra:

Carta Aberta: solidariedade internacional aos pesquisadore(a)s e cientistas no Brasil e ao povo brasileiro.

Pesquisadore(a)s do mundo todo

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O Brasil registra 4.195 mortes pela Covid. Ao todo, são mais de 340.000 óbitos contabilizados desde o começo da pandemia. Se o coronavírus afeta todos os países do globo, a amplitude da catástrofe sanitária que acomete o país não pode ser dissociada da gestão desastrosa do presidente Jair Bolsonaro. O presidente deve ser responsabilizado pela condução da crise sanitária no Brasil, que não somente fez explodir o número de mortes mas acentuou as desigualdades no país.

Em inúmeros momentos, o dirigente da república brasileira se referiu à covid-19 como “gripezinha”, minimizando a gravidade da doença. Bolsonaro criticou as medidas preventivas, como o isolamento físico e o uso de máscaras, e por diversas vezes provocou aglomerações. Chegou a propagar o uso da cloroquina, embora cientistas alertassem para os efeitos tóxicos do uso do fármaco para combater a covid. Pesquisadores que publicaram estudos que demonstravam que o uso do medicamento aumentava o risco de morte em pacientes com covid chegaram a ser ameaçados no Brasil.

Bolsonaro desencorajou ainda a vacinação, chegando a sugerir, por exemplo, que as pessoas poderiam se transformar em “jacaré”. Em meio ao negacionismo, proliferação de falsas informações e ataques à ciência, em plena crise sanitária, o presidente chegou a mudar quatro vezes de ministro da saúde.

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A ciência brasileira está sofrendo diversos ataques: cortes e mais cortes orçamentários que ameaçam pesquisas e colocam o trabalho de cientistas em xeque; instrumentalização da ciência à fins eleitoreiros, como bem mostram as declarações do presidente descredibilizando o trabalho de cientistas durante a crise sanitária. Esses ataques, no entanto, vão além do contexto da covid-19. Basta lembrar os ataques feitos por Bolsonaro ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em um contexto alarmante diante dos níveis de desmatamento da Amazônia.

Ao desmentir a ciência, Bolsonaro não somente fere a comunidade científica, mas toda a sociedade brasileira : são diários os recordes de mortes pela covid, dados da Fiocruz indicam por exemplo a circulação de 92 cepas do coronavírus no Brasil, o que torna o país uma gigantesca fábrica de variantes; para além temos ainda os impactos sobre o meio ambiente, povos tradicionais da Amazônia e o clima global.

Em um contexto de crise sanitária, de agravamento das desigualdades, de mudanças climáticas, este tipo de conduta é inaceitável e o autor deve ser responsabilizado. Nós nos preocupamos com o agravamento da crise sanitária no Brasil, com os ataques à ciência e por meio desta carta aberta nós, acadêmico(a)s de todo o mundo, demonstramos nossa solidariedade com os/as colegas no Brasil, cujas liberdades estão ameaçadas e com a população brasileira que é afetada diariamente por essa política destrutiva.

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