A batalha diária em busca de melhorias materiais por vezes ofusca nossas conquistas não mensuradas monetariamente. A ameaça da perda de um ente querido, por exemplo, é capaz de nos trazer à razão humana para lembrar os afetos que amealhamos ao longo da existência, tão esquecidos na correria do nosso dia a dia. A convivência fraterna com amigo, familiares ou colegas próximos é um bálsamo, fonte de consolo, de estímulo e reflexão a mostrar que nem tudo está perdido. O mundo material, lastreado pela cultura do consumismo, do exibicionismo e de que tudo é descartável produz uma anestesia diante do emocional. 

A necessidade de manter uma postura austera, mascarando sentimentos – como se isso fosse de sinal de fraqueza – reduz a capacidade de valorizar os verdadeiros amigos. Aqueles que estão ao lado quando cessam as energias. Identificar parceiros leais para superar dificuldades é um patrimônio incomensurável. As redes sociais, por vezes permeadas pelo ódio do semianonimato, também é canal para demonstrar o apreço por pessoas especiais.

A materialização desse sentimento vem por meio de fotos de filhos, afilhados, netos, pais, avós ou parceiros de vida. Também eternizam momentos de viagens inesquecíveis, de ocasiões especiais, de um simples prato feito com esmero ou para dar publicidade às conquistas resultantes de muito trabalho.

Para alguns, o Facebook é um festival de pieguice por exibir milhões de fotos significativas apenas para os seus autores. Confesso que já pensei dessa maneira. Vi, porém, no pouco tempo que mantenho uma página nesta rede social, que muitos solitários encontram guarida para suas angústias existenciais no compartilhamento de momentos especiais. Independentemente das opiniões alheias, a maioria dos internautas continua ostentando seus gostos, amores e lugares especiais. Um passarinho pousado de maneira fortuita na borda da janela, num momento tristeza, é capaz de despertar energia para enfrentar os contratempos da vida moderna. Depressão, medos, indisposição, desânimo. A era da comunicação global e da conexão permanente é, ao mesmo tempo, a era da solidão e do individualismo corrosivo.

Identificar, em nosso círculo de relações, personagens que sirvam de referencial para desanuviar os momentos de aflição vale ouro. Existe sempre, mesmo diante das piores crises, um farol a apontar a direção certa, a chave para desvendar mistérios insolúveis à primeira vista. Amigos, sempre eles, são o milagre da vida.