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Ideias e bate-papo

Verão e infância

Nasci na colônia, hoje bairro Bela Vista, em Arroio do Meio, à época (nasci em 1960) localidade ligada à zona urbana por estrada de terra. O verão remete à infância, tempo em que a tecnologia ainda era algo distante, restrito aos filmes de ficção científica, como 2001, Uma Odisséia no Espaço. Meu padrinho, Dittmar Kirsch, de Lajeado, me levou ao cinema à noite, uma aventura inimaginável para um piá.

Os passatempos daquela época se restringiam a pescarias em arroios próximos de casa, mas sempre na companhia de um adulto, o que restringia essa opção. Afinal, os adultos trabalham, mas sempre se dava um jeito de fugir, dizendo à mãe que íamos jogar bola no potreiro do vizinho.

Para pescar, o primeiro desafio era cavar pra encontrar minhocas transformadas em isca para fisgar lambaris, jundiás e carás, estes últimos os mais cobiçados. Era uma espécie difícil de capturar porque lutava com bravura, mergulhando fundo, exigindo paciência. A água, por sinal, estava sempre presente em nossas vidas.
Muitas vizinhas lavavam roupa nas sangas próximas, sem falar nos intermináveis banhos nas tardes mormacentas de janeiro e fevereiro. No inverno, o excesso de chuvas provocava enchentes, principalmente no final de setembro, quando minha mãe ensinava:

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– Se trovejar de fazer tremer as vidraças… é enchente na certa!

Mais tarde, já mais crescidos, passávamos o dia pescando ao percorrer todo o curso dos arroios, da foz até desembocar no Rio Taquari. Na volta, o atalho – não por coincidência! – era feito através de lavouras de milho, cujos pés tinham um verde inesquecível. 

Além das fieiras lotadas de lambaris, espigas eram escamoteadas na mochila, cobertas por pacotes de bolacha Maria. À noite, dona Gerti – minha mãe – e minha bisavó, Claudina Wienandts, com quase 90 anos, preparara generosas fritadas de peixe com tenras espigas de milho. Longe da tevê e sem nunca ter ouvido falar em computador ou celular, curtíamos a vida adoidado. À nossa maneira, entre amigos, familiares e vizinhos.

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