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Direto da redação

Como virei mergulhadora

Meu pai tinha mais de 60 anos quando nasci. E eu a caçula. Então sempre fui muito protegida. Devo a isso o fato de ser até hoje um tanto mimada e teimosa. É verdade. O excesso de proteção é também um dos motivos pelos quais não aprendi a nadar. Aliado, claro, à minha pouca coordenação. Meu irmão se aventurava nas águas. Minha irmã e eu nadávamos na piscininha de plástico. Era muito perigoso deixar as pequenas se aventurarem. 

Assim, com 27 anos eu ainda não sabia nadar. E morria de medo de água. Tudo bem. Eu não precisava mesmo. Até que um dia, o Dmitri, meu namorado, voltou de uma viagem querendo ser o novo mergulhador do pedaço. Aqueles mergulhos com cilindro. E eu, teimosa, decidi não ficar para trás. Ia ser mergulhadora! Só precisava conseguir entrar na água. Na primeira aula de natação, pensei que ia me afogar naquele 1,40 de água. Meu professor, muito bem-humorado, me dizia que outros alunos dele, assim como eu, também tinham medo. A única diferença é que eles eram crianças de 4 anos. Aula vai, aula vem, aprendi que não ia morrer assim tão fácil. 

Alguns meses depois, comecei meu curso de mergulho. Eu era um desastre. Já era difícil me manter dentro da água, imagina com nadadeiras, regulador, máscara, colete, snorkel… Mas sobrevivi. Aprendi a me virar dentro da piscina. Mas, para receber minha certificação, precisava ir ao mar. A primeira vez em que caí na água pensei que ia morrer. A correnteza ia me arrastar. Me apavorei. Me afoguei um pouco. Sobrevivi. Mas não passei. Treinei muito em outra piscina. E lá me fui de novo. Teimosa, eu disse. 

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Decidi terminar o curso em Maceió. Lá as águas seriam mais tranquilas. Ou deveriam ser. No dia da prova, o temporal chegou e as ondas cresceram. O barco sacudia. E eu precisava me jogar na água. Pensei outra vez que fosse morrer. Chorei. Fiz manha. Disse que não ia de jeito nenhum. Fui a última a me jogar. E queria voltar. Até que percebi que o mar não ia me matar. Que era só ficar calma. E, enfim, consegui minha certificação de mergulhadora. 

Depois disso, fiz mergulho noturno, em naufrágios, em correnteza, em pedreiras. Mas, muitas vezes, eu ainda tinha medo. E chorava. Iniciei o curso avançado, mas não consegui fazer um mergulho de 36 metros de profundidade. Tive medo. O Dmitri me dizia que eu podia desistir. Acho que ele sentia uma certa culpa. Mas sempre que eu voltava do mar me sentia tão cheia de coragem, como na vez em que resolvi fazer um mochilão sozinha por cinco países. Dona de mim. 

Às vezes eu ainda tenho medo.  Ainda não terminei o avançado. Mas, nas nossas últimas férias, eu me dei conta do quanto me sentia feliz no mar. Contente de estar ali. Nem parecia eu. Orgulhosa de tudo. E, nessa hora, penso que eu poderia nunca ter tentado. E no quanto eu teria deixado de viver nesses últimos anos. Acho que às vezes desistimos de tantas coisas por achar que não vamos dar conta. Por não nos sentirmos capazes. E talvez só nos falte um pouco mais de coragem para mergulhar.

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