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Direto da redação

Exercer o poder

Um 2019 em que cada um possa exercer suas capacidades e talentos, da melhor maneira, é o desejo desta primeira coluna de 2019. Que o exercício do “poder” seja o objetivo a ser perseguido – inclusive, é claro, por quem nos governa. Mas não no sentido que usualmente se atribui a essa palavra. Não, isso não tem nada a ver com caçar “inimigos” reais ou imaginários para derrotá-los ou eliminá-los. É outra coisa. Claro, escrevo sem a pretensão de querer dar conselhos sobre o que fazer ou deixar de fazer, pois nunca fui exemplo para ninguém. Sou falho, bem mais do que gostaria, e tenho poucas virtudes para expor na vitrine. Mas como acredito que a quantidade de cidadãos realmente perfeitos e intocáveis é pequena, talvez insignificante, quem sabe inexistente, isso alivia um pouco meu desconforto.   

Voltando: é que a palavra “poder” tem um duplo sentido. Um é a posse de poder sobre outra pessoa, a capacidade de dominá-la ou subjugá-la; o outro sentido é o poder para fazer algo, é ser capaz, ser potente. Esse significado nada tem a ver com dominação, ele exprime mestria no sentido de capacidade, a potência de fazer as coisas acontecerem. Trata-se de ação e criatividade. Assim, “poder” pode significar uma dessas duas coisas, dominação ou potência. Longe de serem idênticas, elas se excluem mutuamente. Cito essa diferenciação básica a partir de um texto de Erich Fromm, psicanalista alemão da velha guarda, em um famoso livro, O medo à liberdade. Para ele, na medida em que um indivíduo é potente, isto é, consegue concretizar suas potencialidades de forma criativa, ele não tem necessidade de dominar nem tem sede de poder. (Algo talvez otimista demais, mas tudo bem, sejamos otimistas no começo do ano.) Desse modo, “poder sobre” seria uma perversão, uma deturpação de “poder para”.

“Se eu tenho poder suficiente sobre outra pessoa para matá-la, subjugá-la, sou mais ‘forte’ do que ela. Porém, em uma acepção psicológica, a ânsia de poder não se origina da força, mas da fraqueza. Ela é a expressão da incapacidade do eu individual de ficar sozinho e viver. É um esforço desesperado para conseguir força simulada quando se tem falta de força autêntica”, diz Fromm. De modo que a dominação, aqui, ombreia com a morte; e a potência, com a vida. O autor não deixa de observar que, se um indivíduo pode forçar outro a servi-lo, sua própria capacidade produtiva tende a se enfraquecer cada vez mais. Cria as condições de sua própria decadência. No fim das contas, o verdadeiro poder só pode ser exercido em conjunto, de forma plural. A cada um, então, que saiba como e em que condições expandir o seu poder neste ano.

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