Rádios ao vivo

Leia a Gazeta Digital

Publicidade

LUÍS FERNANDO FERREIRA

Para não machucá-las

Janusz Korczak amava crianças. Nascido na Polônia, médico pediatra, pedagogo e escritor, ele foi um precursor na defesa dos direitos da infância e desenvolveu teorias que inspiram educadores até hoje. Há um episódio histórico que envolve seu nome. Em 1940, em plena Segunda Guerra, Korczak dirigia um orfanato de crianças judias que, com a ocupação nazista, foi transferido para o Gueto de Varsóvia. Mesmo tendo a chance de viver em outra parte da cidade, recusou-se a abandonar os órfãos e ficou ao lado deles até julho de 1942, quando houve a expulsão em massa dos judeus do gueto para campos de concentração.

Mais uma vez, Korczak, figura respeitada em Varsóvia, teve oportunidade de escapar. Porém, ele preferiu acompanhar cerca de 200 crianças e alguns funcionários do orfanato até os trens que partiam para o campo de Treblinka, em uma marcha que se tornou lendária. Até o fim, o “Velho Doutor”, como era conhecido, esforçou-se para proteger os órfãos pelos quais se sentia responsável. Um mês depois, ele morreu em Treblinka. Essa história é contada no filme As 200 Crianças do Dr. Korczak, de Andrzej Wajda, lançado em 1990. 

Mas por que lembrar disso, alguém pode perguntar. Porque Korczak, mesmo não sendo pai de nenhuma daquelas crianças, deu sua vida por elas. É algo para se pensar em dias como os de hoje, no Brasil, onde o assassinato brutal e irracional de um menino de 4 anos causa estarrecimento. Por mais que a tragédia fosse anunciada, com sinais de alerta para várias pessoas, não houve ninguém para proteger Henry Borel. Nem a mãe.

Publicidade

Há muitas crianças sofrendo violências, talvez neste instante, inclusive longe de apartamentos de luxo. Que fazer? Para começar, talvez lembrar de Janusz Korczak. No início de seu livro Quando eu voltar a ser criança, ele questiona adultos que se dizem cansados de lidar com os filhos pequenos, pois precisam “descer ao seu nível de compreensão”. É um equívoco, ensina o Doutor: não se trata jamais de descer, mas sim de elevar-nos até alcançar o nível de sentimentos das crianças. “Elevar-nos, subir, ficar na ponta dos pés, estender a mão. Para não machucá-las.” 

LEIA OUTRAS COLUNAS DE LUÍS FERNANDO FERREIRA

Publicidade

Aviso de cookies

Nós utilizamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdos de seu interesse. Para saber mais, consulte a nossa Política de Privacidade.