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Direto da redação

Por que mudar?

A crise política – a mais recente – eclodiu há poucos dias, e já é quase preciso fazer um esforço para lembrar como era o País antes. Parece que se ensaiava uma recuperação econômica, ainda lenta e de resultado incerto. Também havia algo sobre reformas, outro tema recorrente no Brasil. Após o plano real, na metade dos anos 90, já se falava na necessidade de modificações mais profundas na previdência e nas relações de trabalho, mas nenhum governo se dispôs a levar isso adiante. 

Nas crises muito agudas, como essa, tudo muda rapidamente. Portanto, sempre é um risco falar de um aspecto em particular – a realidade pode se configurar diferente de um dia para o outro. No momento em que escrevo, Michel Temer insiste em dizer que continuará no cargo e um ou outro novo aspecto das denúncias – com os desmentidos dos envolvidos – é revelado. Da mesma forma, segue a discussão sobre o que fazer depois, caso o posto de presidente volte a ficar vago. Devemos seguir a Constituição, que prevê eleição indireta em seu artigo 81, parágrafo 1º, ou mudá-la para que a população possa ir às urnas?

O fato de termos esse debate já é revelador de um traço incômodo de nós brasileiros: a tendência de não ligar muito para o respeito às leis. Quando concluímos que determinado político ou empresário cometeu crime, o que estamos falando é que ele infringiu alguma lei. Na comparação com o comportamento esperado da maioria, que toca sua vida de forma “regular”, aquela pessoa deixou de observar algum aspecto legal. E se reagimos mal a isso, no sentido de reprovar o comportamento, estamos dizendo que, no fundo, temos o desejo de aperfeiçoar o País. E o caminho mais adequado seria exigir o cumprimento das leis, certo?

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No entanto, sob a perspectiva de saída do presidente, qual é uma das primeiras reações de boa parte dos políticos e da sociedade? Mudar a Constituição… Pregamos o respeito à lei, mas diante da tempestade atacamos justamente o que deveria nos dar estabilidade e abrigo. Dá para entender o motivo de políticos quererem eleições diretas agora – na defesa de seus interesses, vislumbram a possibilidade de serem vitoriosos, de uma maneira ou de outra. Mas fora do jogo da política partidária, por que parte significativa de nós se alinha à ideia de mudar as regras em meio à crise, justamente o que não se recomenda? 

Neste momento, no lugar da propalada defesa da ética e da honestidade – onda na qual todos querem pegar carona –, é mais urgente um movimento que tenha como meta a proteção da Constituição e do que ela prevê em uma situação como a atual. Porque fora dela, talvez realmente não exista nada, além de ideias mágicas de salvação e líderes carismáticos. E a considerar o que aconteceu nos últimos anos, penso que já preenchemos nossa cota disso.

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