Rádios ao vivo

Leia a Gazeta Digital

Publicidade

Direto da redação

Aos Pfeifer, com saudades

Acordei cedo e sem muita pressa fui para o Lago Dourado. O dia estava lindo e quis aproveitar um pouquinho do sol que presenteava Santa Cruz aquele domingo. Não sei vocês, mas depois das duas semanas de chuva ininterruptas em junho, eu passei a curtir ainda mais o sol. E o céu azul, limpo, sem uma nuvenzinha sequer. Até nem dei muita bola para o ritmo da caminhada. Fui no meu tempo. Mais do que gastar calorias, quis oxigenar o cérebro. E sentir o vento no rosto. 

Ouvir o barulho da natureza é bom, mas vida com trilha sonora é melhor ainda. E a música, nesses momentos em que reservo para conversar comigo mesma, é indispensável. Aquele dia fui do rock à MPB, mas o pensamento foi longe quando os acordes do violão anunciavam Michelle, canção dos Beatles, do álbum Rubber Soul. Na hora me transportei para uma tarde de fevereiro de 2016, quando fazia exatamente o mesmo.  Caminhava na companhia dos meus fones pelos campos gelados de Třeboň, cidadezinha com 8 mil habitantes da República Tcheca. Fazia algum tempo que eu não via o sol brilhar. Por semanas era só frio, neve e tempo fechado. Até que, ainda de manhã, ele começou a aparecer. E eu, tipo boba, espiava pela janela da escola onde trabalhava o brilho dos raios sobre o gramado. Não pensei duas vezes. “À tarde eu vou para a rua!”

Cheguei na casa dos Pfeifer, onde permanecia aquela semana, e perguntei aos meus “pais” emprestados se havia algum parque pelas redondezas. Eles até tentaram indicar, mas como sou um fracasso para me localizar (não há Google Maps que me salve),  fingi que havia entendido. É claro que não assimilei “bulhufas”, mas segui o meu instinto. Qualquer dúvida era só perguntar para o povo da rua, né? 

Publicidade

Então eu fui, indo, indo e me acostumando com aquele vento cortante. Ingênua, não coloquei luvas. Mãos congeladas, petrificadas, mas sabe o quê? coração feliz. Naquele embalo de observar o ritmo da cidade, eu caminhei um bocado e, quando percebi, um parque lindo se mostrou para mim. Ele era enorme, verde, limpo. Árvores, lagos, campo vasto.  Nem acreditava que pudesse ser da pequena Třeboň.  Lembro que, mesmo já cansada, não queria que aquela caminhada terminasse. Talvez fosse o sol, a alegria de finalmente estar ali, realizando meu sonhado intercâmbio, ou, simplesmente, um momento em que estava de bem comigo mesma. Na verdade, acho que foi o conjunto.Voltei para casa com o peito cheio e contei para a minha host family a descoberta da tarde. Amados, empolgaram-se comigo e reforçaram o convite para passar o fim de semana por lá. Depois disso, tomei um banho e reservei a noite para ensinar as crianças a fazer brigadeiro. (Imaginem, vocês, a farra) Ao escrever essas linhas, bateu uma saudade. Mas não saudade de querer que o tempo volte. Saudade boa de uma passagem da minha vida em que conheci pessoas incríveis. 

Só me entristece pensar que não saberei quando vou ver os Pfeifer novamente. Se aqueles dias foram tão especiais, devo isso a eles. Em terra estrangeira, não me faltou suporte, atenção e, no fim das contas, amor. Minha família emprestada me adotou como uma verdadeira filha. Eu fiz parte dos planos deles e eles dos meus. É por isso que eu sonho em voltar. E se um dia eu visitar a República Tcheca novamente, eles serão os primeiros a saber.

Publicidade

Aviso de cookies

Nós utilizamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdos de seu interesse. Para saber mais, consulte a nossa Política de Privacidade.