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Direto da redação

Casarões e mistérios

Uma das coisas que me fazem gostar tanto de viagens é a oportunidade de experimentar um sentimento que considero dos mais prazerosos que há: o de estar em um local histórico. Difícil explicar, mas saber que estou pisando no mesmo chão onde já pisaram, anos ou séculos antes, pessoas sobre as quais soubemos em livros ou filmes, ou simplesmente ouvimos falar, é algo que me fascina. Melhor ainda quando, de alguma forma, conseguimos adentrar na intimidade delas, por meio de pertences pessoais ou manuscritos que eventualmente são expostos em museus.

Acredito que esse prazer esteja relacionado a uma certa ilusão. Como se o fato de estarmos ali nos colocasse em contato com essas pessoas e esses episódios; como se fôssemos contemporâneos a eles por alguns instantes. Não sei. Mas é muito bom.

Na verdade, nem é preciso ir longe para encontrar essas saborosas conexões com o passado. Santa Cruz está cheia delas! Toda vez que vou ao Palacinho, por exemplo, gosto de ficar pensando em tudo e todos que aquelas paredes já viram. Quantas decisões, leis, reuniões, encontros, debates importantes não passaram por aquele lugar – onde, aliás, além da Prefeitura, por muito tempo funcionou também a Câmara. Penso nisso quando passo em frente à antiga Estação Férrea, ao antigo Fórum ou ao antigo Presídio – aliás, comemorei em silêncio quando os vereadores rejeitaram a sua venda no ano passado. Mas a minha preferida é a Casa Textor, que nunca tive a chance de ver por dentro, mas considero a mais bela e intrigante construção do município. E não há nada mais legal do que ver fotos antigas das ruas e das fachadas, como essas que um pessoal vem compartilhando no Facebook nos últimos tempos.

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É uma sensação parecida à que eu tinha quando frequentava o Colégio São Luís e circulava por seus corredores que parecem cheios de segredos. Foi onde tive minhas primeiras amizades, paixões, descobertas, frustrações, e adorava imaginar quantos antes de mim não haviam passado pelas mesmas coisas ali. Na minha época de estudante, ainda gostávamos de alimentar algumas lendas sobre aquele prédio, como a de que haveria um túnel secreto que ligava a escola à catedral por baixo da terra. Outra era de que, muitos anos atrás, um ator frustrado teria se enforcado no auditório, e seu fantasma teria ficado vagando eternamente por entre as cadeiras. Por via das dúvidas, sempre evitei entrar desacompanhado lá.

Talvez seja por isso que tanto nos dói – a mim ao menos dói – quando vemos uma residência ou prédio histórico de nossa cidade desaparecer. Sei bem que a “máquina do mundo” precisa girar e que não é fácil (e barato) para herdeiros e tampouco para o poder público manter essas edificações em pé. Bom seria, penso eu, se empresas ou entidades privadas tomassem essa iniciativa, pois cada casarão que se vai leva junto um mistério.

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