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Direto da redação

Meu vizinho Belchior

Semana passada ouvi alguém dizer que se as pessoas saíssem às ruas para protestar contra a corrupção tão rápido quanto saíram para ver o Luciano Huck subir a torre da Catedral, o Brasil estaria bem melhor.

Bobagem. Nada mais humano do que se agitar diante de um encontro inesperado com um famoso. Uma figura como Huck pode significar pouco para muita gente – embora haja quem diga (e a sério) que ele vai concorrer a presidente –, mas ninguém está imune a essa fraqueza. Lembro bem, lá no final dos anos 90, das aglomerações em frente ao Clube União (em breve Lojas Renner) para ver o Paulo Betti e a Fernanda Torres, que andavam por aqui gravando cenas de uma minissérie.

Uma vez entrei em um avião que vinha de Brasília e ia para Buenos Aires e dei de cara com o Maradona – roncando e de boca aberta. Com meus pais aconteceu uma boa: o falecido Nico Fagundes estava no voo deles, e o capitão fez questão de, ao saudar os passageiros, registrar a presença do “ilustre Antônio Fagundes”. Isso fez com que uma mulher, excitadíssima, saltasse da poltrona para a classe executiva atrás de autógrafo – mas pensando que se tratava do outro Antônio Fagundes, o ator da Globo. “É mentira, ele nem tá lá”, disse, decepcionada, ao retornar.

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Meus pais, aliás, têm sorte nesse quesito. Em suas viagens, já deram de encontrar com Bill Clinton, o rei da Holanda e a Kate Middleton. Eu, nem tanto: vi a Ingrid Guimarães num aeroporto em São Paulo e o Netinho de Paula em um restaurante de Porto Alegre. Ah, e uma vez estavam na mesma sessão de cinema que eu a Lya Luft e a Martha Medeiros.

Mas nada disso é puro deslumbre. É, sim, a experiência de quebrar, por  um instante, a tela de led que nos separa do mundo. Um instante em que somos todos reais, nós e “eles”.

Talvez por isso o estranhamento que senti há alguns dias quando, após ir dormir como um reles mortal, acordei vizinho de bairro do Belchior. O autor de Como Nossos Pais estava a algumas quadras de mim há mais de um ano! Talvez tenha cruzado com ele na rua ou dado licença para ele passar no mercado. E pensando bem, tinha um bigodudo muito esquisito na feirinha outro dia.

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O fato é que, à exceção dos amigos com quem ele convivia, ninguém imaginou que um decano da música popular brasileira poderia estar no nosso quintal. A reclusão de Belchior em Santa Cruz nos mostrou que o mundo, afinal, é menor do que parece.

Depois dessa, até fiquei pensando se não há mais famosos escondidos por aqui. Faz muito tempo que não temos notícias de Geraldo Vandré e João Gilberto, por exemplo. E se Elvis realmente não morreu e comprou um sobradinho na Verena? Vai saber! Por via das dúvidas, agora espio para dentro de todas as casas por onde passo.

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