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Direto da redação

Seu Simão

Assuntos não faltariam para preencher as linhas que seguem. As coisas andam tão sinistras por essas bandas que sobram motivos para reflexões coletivas. Eu poderia falar de Bolsonaro, Queiroz, Fux, Battisti, Gleisi. Mas não. Vou falar do Seu Simão.

Simão Sklar também inspirou manchetes nos últimos dias. Diferente dos demais que citei, não foi por tentar sabotar a Justiça ou por apertar a mão de ditadores por aí. E sim porque, aos 94 anos, Seu Simão formou-se em Direito.

Era apenas uma história curiosa para mim até que ouvi Simão em pessoa falar à Rádio Gazeta na tarde de quarta-feira. Percebi então que havia mais, muito mais a tirar daquela imagem que havia sido estampada em jornais de um velhinho com ralos cabelos brancos, trajando uma toga e que, com um sorriso orgulhoso cortando o rosto, recebia o canudo em mãos.

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O que me encantou nesse simpático morador de Cachoeira do Sul não foi a vitalidade, evidenciada na voz firme e na lucidez com que articulou as ideias durante a entrevista. E sim o fato de ele querer usar seu valioso tempo e toda essa energia para estudar. Foram sete anos de curso e agora, mal recebeu o diploma, já se prepara para uma pós-graduação.

Poderia-se questionar o que leva um cidadão, a esta altura da vida em que poucos chegam com saúde e disposição, a não priorizar o lazer, o sossego ou tão somente a companhia dos seus. Ou ainda, o que afinal pretende com uma formação superior alguém que se encaminha para o século de vida?

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Ocorre que a pergunta parte de uma premissa equivocada. Acostumamo-nos a tratar a educação com um viés utilitário, como se o conhecimento que valesse a pena fosse apenas o que pode nos garantir o ganha-pão ou o que nos serve para as tarefas cotidianas. Não é à toa que as “fábricas de diplomas” se multiplicam a cada esquina. Em contrapartida, o “conhecimento pelo conhecimento”, aquele que apenas nos permite ver as coisas com outros olhos, é desprezado.

Por isso a história de Seu Simão é tão fantástica. Nestes tempos em que, em plena era da informação, até mentes jovens se fecham para ouvir o que destoa de suas convicções talhadas na superficialidade, um senhor, com a licença que suas mais de nove décadas lhe confeririam para se acomodar, opta por correr atrás de aprendizado, com todos os desafios que a idade lhe impõe.

Seu Simão poderia querer qualquer coisa, mas quis estudar. Poderia ter se conformado com a experiência que a longevidade lhe concedeu, mas quis mais. Não pela titulação ou visando a algum benefício prático; simplesmente para saber mais sobre esse vasto mundo, ainda tão misterioso. “Eu não demorei sete anos pra me formar, eu ganhei sete anos”, disse o Seu Simão. Quanta sabedoria. Que exemplo!

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