Na noite da última sexta-feira, Welerson da Silva, de 20 anos, e Gerson Carvalho dos Santos, de 27, saíram de casa com a intenção de cometer um assalto. Eles precisavam de dinheiro, e Silva achou que um taxista seria um alvo fácil. Depois de algumas tentativas frustradas, a dupla, acompanhada da mulher de Silva e da ex-companheira de Santos, entrou no táxi de Luciano Kappel, de 57 anos, que acabou sendo morto. Na tarde de ontem, quatro dias após o assassinato, os criminosos foram capturados pela Polícia Civil de Santa Cruz do Sul.
A investigação teve início ainda na madrugada de sábado, sob o comando do delegado Marcelo Chiara Teixeira, titular da Delegacia Especializada em Furtos, Roubos, Entorpecentes, e Capturas (Defrec). A partir das imagens captadas por câmeras de segurança nas imediações do local onde o grupo ingressou no táxi, próximo ao cruzamento das ruas Senador Pinheiro Machado e Ernesto Alves, os policiais conseguiram identificar um dos suspeitos e chegar até a casa dos criminosos. Os quatro envolvidos moravam juntos em um chalé de fundos na Avenida Gaspar Bartholomay, no Bairro Schulz. Foi de lá que eles partiram para o Centro, a pé, para cometer o crime.
“Através das imagens e dos relatos de outros taxistas, nós conseguimos identificar os criminosos e, nessa segunda-feira, cumprimos um mandado de busca e apreensão na casa onde eles estavam morando”, contou Teixeira. Quando a polícia chegou, encontrou os dois suspeitos em casa. Ambos logo confessaram o crime. Foi Silva quem desferiu o golpe fatal no pescoço de Kappel, com uma faca de serra. O laudo apontando a causa da morte do taxista chegou às mãos da Defrec nessa terça-feira, e o mandado de prisão dos criminosos foi expedido ontem. A dupla foi capturada em casa por volta das 15h30 dessa quarta-feira e não resistiu à prisão.
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“O que é mais impressionante nesse caso é a banalidade com que a morte é tratada. Eles precisavam de dinheiro e mataram um homem por um motivo fútil, como se isso fosse uma coisa totalmente normal”, comentou o delegado regional Luciano Menezes. Silva e Santos vão responder por latrocínio – roubo seguido de morte. Eles foram encaminhados ao Presídio Regional de Santa Cruz do Sul, onde devem aguardar o julgamento recolhidos.
O mentor
Conforme os relatos dos assaltantes à Polícia Civil, Welerson Silva foi o mentor do crime. No início da noite de sexta-feira, ele convidou o amigo Gerson Carvalho dos Santos para cometer um roubo, pois estavam precisando de dinheiro. Os dois moravam em um mesmo chalé, junto com a companheira de Silva e com a ex-mulher de Santos, com quem ele tem um filho de 3 anos, além de outros familiares de Silva. Um dos argumentos de Welerson ao convidar o amigo foi usar o dinheiro roubado para levar o menino na Oktoberfest.
A primeira tentativa
Por volta das 23h30, Silva chamou um táxi para buscá-los em casa. O motorista seria a vítima. No entanto, quando o carro chegou, Silva percebeu que se tratava de um taxista conhecido, que poderia identificá-lo, e disse a ele que não precisava mais da corrida. O grupo, formado pelos dois assaltantes e as mulheres – junto também de dois cães –, seguiu então a pé até a praça do Senai, onde permaneceu até por volta das 2h30 de sábado. De lá, eles seguiram para a esquina das ruas Fernando Abott e Tenente Coronel Brito, onde um segundo táxi foi acionado. Após a ligação, contudo, Silva desistiu do assalto e o grupo seguiu à Rua Ernesto Alves. Na Ernesto eles permaneceram por cerca de 15 minutos nas proximidades do Fórum, e então, deslocaram-se para a Rua Senador Pinheiro Machado.
A corrida
A chamada que acionou o taxista Luciano Kappel foi feita na Senador, em uma parada de ônibus em frente a uma agropecuária. Quando já haviam telefonado, Silva se deu conta de que havia uma câmera por perto e eles retornaram à Ernesto Alves. O taxista foi avisado e se dirigiu ao local, onde o grupo entrou no veículo. Santos sentou no banco da frente e Silva no banco traseiro, atrás do motorista. Sua companheira e a outra mulher sentaram ao seu lado. O táxi dobrou na Rua Capitão Fernando Tatsch e seguiu pela Assis Brasil até a Avenida Independência, rumo a um endereço falso em Rio Pardinho – que foi mencionado como sendo da mãe de Silva. Após o carro atravessar a RSC-287, rumo à localidade, Silva disse que a mãe na verdade morava na 287, e o motorista foi orientado a fazer o retorno.
As facadas
Próximo ao trevo do Gaúcho Diesel, Kappel pediu aos passageiros o telefone da mãe de Silva, para confirmar o endereço. Silva passou um número falso e, enquanto o taxista tentava fazer a ligação, ele anunciou o assalto. Do banco de trás, ele golpeou Kappel no lado esquerdo do pescoço e quando a vítima reagiu, uma segunda facada foi desferida. Nesse momento, a ex-companheira de Santos saiu correndo do carro, em direção à BR-471. O taxista gritava e tentava reagir quando Gerson, no banco da frente, resolveu atacá-lo, também com uma faca. Kappel teria segurado a mão do assaltante, que acabou o atingindo no braço. Com esse golpe, a vítima soltou a mão de Santos e o criminoso lhe desferiu mais uma facada na cabeça. O laudo de necropsia aponta que ele sofreu ferimentos no lábio, na testa, no braço, barriga e pescoço. Os cortes no pescoço provocaram a hemorragia que o levou à morte.
A vítima implora pela vida
Segundo o relato dos próprios assassinos, enquanto estava sendo atacado, o taxista implorou pela vida: “Para, por favor. Eu dou a carteira para vocês”. A dupla fugiu em seguida, e Kappel ficou dentro do carro. Ele acionou a Radiotáxi, mas não conseguiu falar. O radiocomunicador do carro estava coberto de sangue quando os colegas o encontraram. Os criminosos seguiram em fuga a pé pela BR-471, onde encontraram a mulher que havia fugido do carro. A faca usada por Santos e a mochila de Silva, contendo o celular usado para fazer as chamadas e os documentos de sua companheira, foram jogados em um matagal próximo à cena do crime. Nessa segunda-feira, Santos se ofereceu para mostrar o lugar à polícia e os objetos foram encontrados.
A volta
Os criminosos voltaram para casa passando pelo meio dos bairros, para não serem vistos. Eles chegaram por volta das 5h30, quando Silva queimou a camiseta que usava, pois estava manchada de sangue. A faca de serra usada para matar Kappel ficou no banco do carona e também foi apreendida pela Defrec. Os três celulares da vítima ficaram no carro. A carteira do taxista também estava no veículo e continha R$ 4,00. A dupla disse à polícia que não roubou nada pois a situação fugiu do controle. Conforme o depoimento de Santos aos policiais, as duas mulheres não sabiam da intenção de cometer o assalto.
Taxistas fizeram questão de ver de perto os assassinos de Luciano Kappel e afirmam que se sentem inseguros no seu trabalho