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Clima de guerra

Polícia Civil identifica o líder da quadrilha que assaltou banco em Vale Verde

A calmaria que domina a rotina dos moradores de Vale Verde foi interrompida por uma quadrilha de pelo menos cinco assaltantes armados e encapuzados no início da tarde dessa quinta-feira, 8. Os alvos dos criminosos foram a agência do Sicredi e uma lotérica que fica ao lado do banco, na Rua Assis Brasil. O bando chegou ao local pouco depois das 13h30, obrigou reféns a formarem um cordão humano e fugiu após o assalto em direção à General Câmara.

Na fuga, os ladrões capotaram o veículo, amarraram um adolescente, renderam duas idosas e obrigaram um verdureiro a dirigir para a quadrilha. Apesar da forte mobilização policial, ninguém foi localizado até o momento. Apesar de não ter sido capturado, o líder da quadrilha foi identificado pela Polícia Civil. Conforme o delegado regional Luciano Menezes, o criminoso que estava no comando do grupo estaria em prisão domiciliar em Lajeado.

O crime

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A loja de materiais de construção que fica ao lado da agência do Sicredi de Vale Verde havia acabado de abrir as portas, por volta das 13h30 de ontem, quando os dois funcionários que trabalham no local começaram a ouvir gritos estranhos vindos do lado de fora. “Para o chão”, dizia uma das vozes.

Um caminhão que transportava uma piscina de fibra estava estacionado em frente e impedia os vendedores de enxergarem o que acontecia. Após perceber que poderia se tratar de um assalto, a dupla correu para os fundos da loja e tentou se esconder em um banheiro. Uma mulher de 37 anos, que pediu para não se identificar, conseguiu entrar no banheiro a tempo, mas o colega Allan Nascimento, de 20 anos, foi visto por um dos assaltantes.

“Os ladrões perguntaram se ele estava sozinho, e o Allan disse que sim. Fiquei morrendo de medo de que eles abrissem a porta, descobrissem que eu estava ali e quisessem me matar”, relata a funcionária. A mulher, que chegou a ver um homem alto e encapuzado do lado de fora da loja, conta que o criminoso disse que “precisava levar alguém” antes de conduzir o colega para a rua.

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Do lado de fora, Allan foi uma das 12 pessoas utilizadas pelo bando para formar um cordão humano e precisou tirar a camiseta, assim como os demais homens feitos reféns. “Eles estavam muito tranquilos, como se fizessem aquilo todo dia. Chegaram a me perguntar como estava o dia e disseram que eu podia ficar com meu celular e o dinheiro da loja, porque eles só queriam levar o que era do banco. Ficamos de frente para a rua, depois eles entraram no carro e disseram que a gente estava liberada”, conta.

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Ainda segundo a vítima, os bandidos teriam um fuzil e quatro espingardas calibre 12. Eles teriam conversado entre si sobre a hipótese de levar algum refém ou veículo na fuga. O alvo seria uma funcionária do banco, mas os ladrões desistiram da ideia e saíram do local sozinhos. Conforme Allan e a colega, que ficou escondida até o fim do ataque, pelo menos 30 tiros foram disparados para o alto. “Eu nunca tinha ouvido tiro e achei que eram bombinhas. Foram muitos disparos, eu nunca passei tanto medo na minha vida. Só pensava nas minhas filhas”, recorda a funcionária.

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Novo cangaço

Os criminosos reproduziram em Vale Verde a prática que vem sendo chamada no meio policial de “novo cangaço”, quando a quadrilha sitia o município e forma um escudo humano com os moradores enquanto ataca as agências bancárias.

Segundo vítimas e testemunhas, o bando dessa quinta era formado por cinco homens que portavam armas longas. Quatro estariam vestidos de preto, um estava de roupa camuflada e todos usavam toucas-ninja. Doze pessoas foram usadas no cordão humano, inclusive uma mulher grávida. Durante a ação, que durou cerca de dez minutos, os criminosos mantiveram os reféns sob a mira das armas e dispararam diversas vezes para o alto. Pelo menos 30 tiros teriam sido ouvidos.

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Em frente ao banco, a polícia encontrou cartuchos deflagrados de escopeta e de fuzil. Antes de fugir, o bando tentou roubar uma caminhonete que estava estacionada perto do banco, mas o dono não estava no local. Eles também teriam cogitado levar uma das funcionárias como refém, mas desistiram. Teriam sido levadas quantias do Sicredi e da agência lotérica, além de um colete à prova de balas do segurança do banco. Os valores roubados não chegaram a ser informados pelos estabelecimentos.

Foto: Bruno PedryApós o ataque, o Instituto Geral de Perícias (IGP) de Santa Cruz fez um levantamento da cena do crime e coletou cartuchos deflagrados e outras provas
Após o ataque, o Instituto Geral de Perícias (IGP) de Santa Cruz fez um levantamento da cena do crime e coletou cartuchos deflagrados e outras provas

 

A fuga

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Os criminosos deixaram o centro de Vale Verde em um Citröen C4 branco, que foi abandonado em seguida em um matagal na localidade de Lomba Alta. De lá, fugiram por uma estrada do interior em um Honda Civic, que teria sido deixado lá antes do assalto.

Em uma estrada de chão batido que leva a General Câmara, acabaram capotando o Civic, que havia sido roubado em Fazenda Vila Nova e estava com placas clonadas de Anta Gorda. Dentro do veículo havia miguelitos, uma touca ninja e um par de placas clonadas de Pelotas, que possivelmente seriam colocadas no automóvel na sequência, para despistar a polícia. Depois de capotar o carro, o bando seguiu a pé.

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Foto: Bruno PedryEm uma estrada de chão batido que leva ao município de General Câmara, o bando capotou o segundo carro usado na fuga e precisou continuar a pé
Em uma estrada de chão batido que leva ao município de General Câmara, o bando capotou o segundo carro usado na fuga e precisou continuar a pé

 

Mais reféns e tiroteio

Após capotar o carro, a primeira parada da quadrilha foi em uma casa a poucos metros do local do acidente, onde um adolescente foi rendido e amarrado. O jovem teve o celular roubado, mas não ficou ferido. Logo após deixar a residência, quatro dos criminosos teriam entrada em uma segunda moradia, onde duas senhoras, de 70 e 71 anos, tomavam chimarrão. Uma das mulheres teve as mãos amarradas e ambas ficaram sob a mira das armas. Os bandidos exigiram que elas entregassem as chaves de uma moto e de um carro, que seriam do filho de uma das vítimas, mas esta não sabia onde elas estavam guardadas.

Passados alguns minutos, o verdureiro Vilson da Silva, de 52 anos, chegou ao local. Morador de São Sebastião do Caí, ele estava fazendo entregas na região e acabou sendo rendido pelo bando. Os assaltantes queriam que ele fizesse uma ligação direta no carro do filho da moradora, mas Vilson não sabia como fazer. “Eles me calçaram com uma calibre 12 e um fuzil, e me fizeram entrar na casa. Disseram que não queriam matar ninguém, só escapar, e me pediram para dirigir o caminhão. Disseram que tinham um pacote para mim se eu ajudasse”, conta. Sob a mira das armas, Silva levou os quadrilheiros de volta à primeira casa onde eles haviam parado, para buscar um comparsa que teria ficado para trás, mas não encontraram o homem e deram a volta.

Foto: Bruno PedryCaminhão de verdureiro obrigado a dirigir para os criminosos acabou sendo atingido na troca de tiros
Caminhão de verdureiro obrigado a dirigir para os criminosos acabou sendo atingido na troca de tiros

 

No caminho, quase em frente à segunda propriedade, foram surpreendidos pela Brigada Militar. “Estávamos com uma viatura discreta (sem emblemas) na frente deles e o POE vinha atrás. Os criminosos abriram fogo e nós revidamos, mas eles fugiram para o mato”, afirma o major Cristiano Cuozzo Marconatto. Em um primeiro momento, os PMs pensaram que o verdureiro fazia parte da quadrilha e o mantiveram sob custódia até esclarecerem a situação.

As buscas

Logo após o ataque, policiais civis e militares da região mobilizaram-se para localizar os criminosos. Foram ouvidas vítimas e testemunhas e percorridas diversas localidades do interior. As buscas se concentraram principalmente no local onde os ladrões foram vistos pela última vez, antes de entrarem no matagal.

O Pelotão de Operações Especiais (POE) fez uma varredura na mata e encontrou um colete balístico e uma arma calibre 12 que teriam sido abandonados pela quadrilha. A Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) de Santa Cruz do Sul apoiou as buscas, revistando propriedades, e as outras equipes da Brigada Militar também percorreram a região. Um helicóptero da Polícia Civil e outro da BM auxiliaram nas buscas pelo ar.

No fim da tarde, o Batalhão de Operações Especiais (Bope) de Porto Alegre entrou no matagal por onde os criminosos escaparam e a BM local manteve o cerco com efetivos posicionados em pontos estratégicos e rondas pelas localidades. Os reféns foram ouvidos no fim do dia pela Polícia Civil. 

Foto: Bruno PedryBatalhão de Operações Especiais (Bope) de Porto Alegre foi acionado para procurar os ladrões pela mata
Batalhão de Operações Especiais (Bope) de Porto Alegre foi acionado para procurar os ladrões pela mata

 

Outros ataques

O assalto dessa quinta em Vale Verde ocorreu 37 dias após a agência do Sicredi de Monte Alverne, no interior de Santa Cruz, ter sido alvo de um ataque semelhante. O Sicredi de Vale Verde, por sua vez, já foi alvo de criminosos duas vezes, ambas em 2016. No dia 4 de julho, os ladrões explodiram os caixas eletrônicos pouco depois da meia-noite, mas não conseguiram acessar o compartimento onde fica o dinheiro. Já no dia 2 de setembro, sete pessoas foram mantidas reféns durante um ataque. Cinco homens encapuzados, usando armas longas, chegaram em frente ao banco em um Sandero, logo após a meia-noite. Suspeitos de integrarem o bando foram presos pela Polícia Civil ainda durante a madrugada daquele dia, em Venâncio Aires e Lajeado.

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Foto: Bruno PedryPoliciais civis de Santa Cruz do Sul realizaram varreduras nas propriedades rurais e ouviram os reféns
Policiais civis de Santa Cruz do Sul realizaram varreduras nas propriedades rurais e ouviram os reféns

 

 

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