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Caso Crestani

Primeiros depoimentos têm conflito de versões

Foto: Jacson Stülp/Câmara de Vereadores

O primeiro dia de depoimentos do processo de cassação do vereador Alceu Crestani (PSD) na Câmara de Santa Cruz do Sul foi marcado por conflitos de versões em relação às irregularidades atribuídas ao parlamentar. O ex-assessor Cornélio Mayer reiterou a denúncia feita por ele ao Ministério Público de que teve de repassar metade de seu salário a Crestani, mas a versão não foi confirmada por nenhuma outra testemunha.

Filiado ao PSDB, antigo partido de Crestani, Mayer foi o primeiro a depor. Diante da comissão processante e de dois advogados de Crestani, ele afirmou que, durante todo o período em que atuou na Câmara, entre abril de 2015 e maio de 2016, repassou 50% dos seus vencimentos ao vereador. A entrega, segundo ele, ocorria sempre no dia do pagamento, quando sacava o valor na Caixa Econômica Federal e entregava diretamente a Crestani em seu gabinete em um envelope.

Embora tenha afirmado que não foi forçado a fazer os repasses, Mayer disse que a proposta partiu de Crestani, que ainda teria pedido sigilo sobre a situação. “Ele disse que eu não poderia conversar com ninguém, nem com presidente de partido, nem com minha mulher. Era para ficar entre nós”, relatou. Mayer disse ainda que aceitou a “rachadinha” porque estava desempregado e, mesmo com o desconto no vencimento, receberia um “valor razoável”.

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Mayer relatou ainda ter feito campanha para Crestani em 2016 e que, com a reeleição dele, esperava assumir outro cargo a partir de janeiro de 2017, o que não ocorreu. Usando termos como “traição” e “safadeza”, reconheceu que esse foi um dos motivos que o levaram a denunciar Crestani ao MP. Disse ainda que teria informado ao vereador que não aceitaria mais dividir salário e que acredita que, por conta disso, não foi chamado para retornar à Câmara.

Um dos questionamentos dirigidos a Mayer foi sobre uma viagem ao exterior feita por ele quando era assessor. Em 2017, quando veio à tona a sua denúncia, Crestani afirmou à Gazeta do Sul que teria pedido à Câmara que descontasse os dias da viagem do salário de Mayer e que ele teria se ausentado mesmo sem ter direito a férias e sem comunicar à direção da Casa. Disse ainda que isso estaria por trás da ida de Mayer ao MP. No depoimento, porém, o ex-assessor apresentou um documento que teria enviado à então presidente Solange Finger comunicando sobre a viagem.

O ex-assessor também foi questionado em diversos momento sobre a condenação por improbidade administrativa que sofreu em maio de 2014 por irregularidades cometidas quando era secretário municipal de Habitação. Mayer classificou o caso como “armação”. “Jamais me apropriei de um prego sequer da Prefeitura”, disse. Segundo a denúncia, ele autorizou o repasse de materiais de construção para uma obra habitacional que era financiada pela Caixa Econômica Federal. Além disso, foram identificadas situações de materiais comprados de uma empresa do município e que não foram entregues.

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Outras nove pessoas ainda serão ouvidas pela comissão na semana que vem, incluindo o próprio Crestani e o ex-vereador Paulo Lersch, que está preso.

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“MOLECADA”, DIZ ADVOGADO
O depoimento de Cornélio Mayer foi o mais longo: durou cerca de uma hora, a maior parte dedicada às perguntas dos advogados do vereador Alceu Crestani. Um dos advogados, Leo Schwingel, disse que as provas apresentadas à Justiça pelo Ministério Público – que incluem extratos bancários que apontam que Mayer sacava metade de seu salário todos os meses – são “frágeis, inidôneas e não provam nada”. Em dado momento,

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Schwingel chegou a chamar a denúncia de Mayer de “molecada”. “E ao procurar o Ministério Público, o senhor encontrou eco a essa molecada”, disparou. Schwingel lembrou ainda que Mayer também fez uma denúncia de compra de votos contra Crestani à Polícia Federal e que, após duas testemunhas indicadas por ele terem sido ouvidas, o caso foi arquivado por falta de provas.

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Diálogo contradiz
Durante o depoimento, quando questionado pelo advogado Ezequiel Vetoretti se em algum momento teria dito que aceitaria dividir salário para voltar a atuar na Câmara, Mayer negou. Após o depoimento, porém, Vetoretti apresentou cópia de uma conversa que contradiz Mayer e indica que, em fevereiro de 2017, Mayer propôs repartir o seu vencimento para convencer Crestani a nomeá-lo para um cargo.

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O diálogo entre Mayer e outro ex-assessor de Crestani, Julio César Mahl, ocorreu no dia 15 daquele mês, pela internet. Mayer afirma que o vereador estaria deixando ele de lado na distribuição de cargos e se mostra angustiado com a situação. “Júlio, eu preciso trabalhar. Essa foi a campanha que eu mais me esforcei na minha vida e conseguimos elegê-lo”, diz. Na sequência, Júlio afirma que Crestani estaria tentando conseguir um cargo no governo do Estado para Mayer. Ele, então, afirma que irá aguardar e cita a possibilidade de dividir o salário. “Eu me proponho a dividir meu salário com quem ele quiser”, escreveu.

A defesa pediu que o diálogo seja juntado ao processo. “Ele (Mayer) faltou com a verdade diante dessa comissão”, disse Vetoretti.

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Testemunhas negam que havia “assessor fantasma”
Além de Cornélio Mayer, outras oito pessoas indicadas na denúncia prestaram depoimento ontem. Todas negaram ter conhecimento sobre o suposto esquema de “rachadinha” no gabinete de Alceu Crestani.

Uma delas foi Clero Ghisleni, ex-presidente municipal do PSDB. Mayer alegou ter procurado Ghisleni na época em que trabalhava na Câmara para informá-lo sobre as supostas cobranças irregulares. Ghisleni, porém, negou que tenha sido procurado. “Nunca o partido foi acionado”, disse.

Também foram ouvidos os dois atuais assessores de Crestani, Taiana Dall’Ongaro e Djorne Storch, que afirmaram que jamais o vereador exigiu parcelas de seus salários. Taiana afirmou ainda que Crestani é “íntegro, ético e idôneo”. “Quem conhece, sabe da honestidade dele”, falou.

Outros quatro assessores e exassessores da Câmara prestaram depoimento. Embora alguns reconhecessem terem ouvido de Mayer relatos sobre a suposta cobrança após a denúncia ao MP, todos negaram ter conhecimento de qualquer situação que comprove a irregularidade.

Alguns dos assessores também foram questionados sobre outra acusação do MP contra Crestani, a de que ele teria mantido um “servidor fantasma” em seu gabinete. Conforme a denúncia, o ex-assessor Júlio César Mahl trabalhava em sua própria residência em Monte Alverne, sem estar sujeito a nenhum tipo de controle de horário e de serviço prestado, e dedicava a maior parte do seu tempo a uma atividade particular de caricaturista. Todos, porém, afirmaram que ele cumpria suas atribuições e frequentava a Câmara, embora não todos os dias.

Um dos advogados de Crestani, Leo Schwingel, insistiu em diversos momentos que não há previsão na legislação municipal da obrigação de que assessores parlamentares cumpram expediente dentro da Câmara. Chamou ainda de “esdrúxula e ilegal” a portaria publicada pela Câmara no fim de 2018, que estabeleceu a obrigatoriedade de registro de ponto pelos CCs.

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Promotor se oferece para depor após sofrer críticas
A sessão também foi marcada por críticas do advogado Leo Schwingel à atuação do promotor de Defesa Comunitária, Érico Barin, responsável pela investigação contra Crestani. Durante o depoimento da assessora de Crestani, Taiana Dall’Ongaro, Schwingel questionou-a sobre uma reunião realizada por Barin com todos os assessores da Câmara no ano passado na qual colocou a Promotoria à disposição caso alguém estivesse sendo vítima de esquemas de cobrança de salários. Conforme Taiana, na reunião, que ocorreu após a prisão do ex-vereador Paulo Lersch, Barin afirmou que já teria conhecimento de irregularidades envolvendo outros parlamentares e disse que as portas do MP estavam abertas para quem quisesse denunciar.

Taiana afirmou que encarou a reunião como uma tentativa de “intimidar os assessores”. Nesse momento, Schwingel acrescentou: “Para a área jurídica e para a torcida do Flamengo, do Corinthians, do Grêmio e do Internacional, isso também se denomina intimidação”, disse. Em outro momento, Schwingel acusou Barin de ter tornado pública a investigação contra Crestani antes do vereador ter sido citado.

Essas não foram as primeiras críticas a Barin. Na quarta-feira, durante os primeiros depoimentos do processo de cassação de Elo Schneiders (PSD), o advogado do vereador, Marcos Morsch, questionou a três testemunhas se elas haviam sido induzidas em seus depoimentos ao promotor. Todas negaram.

Na tarde dessa quinta-feira, 7, Barin rebateu as críticas. “Se o advogado (Morsch) quer me acusar de algo, que o faça explicitamente, até para que eu possa adotar providências legais em relação a isso”, disse. Em relação aos comentários sobre a reunião com os assessores, Barin disse que promoveu o encontro “para que ninguém mais se submetesse à exigência de parte dos salários” e para informar que o MP estava à disposição para receber denúncias. “Me coloco à disposição das comissões para prestar depoimento, já que tenho sido referido ou imputado como autor de ilegalidades ou crimes”, alegou.

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