A idade não é empecilho para a aposentada Eva Alves ir em busca de seus ideais. Aos 83 anos, a moradora de Pinhal Santo Antônio sonha com o dia em que poderá ler as notícias por conta própria. Nascida na localidade, no interior de Sinimbu, nunca frequentou a escola, assim como seus três irmãos. A grafia do nome aprendeu com os pais José Meir e Lídia Hoy, que também tinham pouca escolaridade. Após uma vida inteira apenas apreciando as imagens dos jornais, agora ela está mais perto do que nunca de alcançar seus objetivos. 

Eva está entre os 12 alunos de uma turma repleta de entusiasmo e vontade de aprender. Em uma pequena sala de aula em Pinhal Santo Antônio, a professora Neli Lemos ensina o universo das letras para os estudantes, em uma nova etapa do Programa Alfabetizando para Profissionalizar (Alfa), desenvolvido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-RS) e sindicatos parceiros. Em todo o Rio Grande do Sul, são 190 turmas em 97 municípios inseridos na 16ª edição. As aulas, que começaram este mês, seguem até o dia 2 de outubro.

Para a agricultora, que é a colega mais madura da classe e faz questão de sentar na primeira fileira, é um novo mundo que surge no quadro negro. “Se a gente tem vontade de fazer as coisas, a gente consegue fazer”, comenta. Assim que ficou sabendo do projeto, Eva conta que imediatamente teve interesse de participar das aulas, sempre com o incentivo da filha, dos dois netos e do genro. “Eu não sabia nem pegar o lápis, mas aos poucos tudo vai ficar mais fácil.” E o plano é não faltar nenhuma aula, faça sol ou faça chuva.

Para a professora da turma, a sede de conhecimento dos discentes é recompensadora. “É muito gratificante ver pessoas de diferentes idades sentadas em uma sala de aula, insistindo para aprender a ler e escrever”, comenta Neli, de 57 anos, que se aposentou como alfabetizadora e desde o ano passado aceitou o desafio do Programa Alfa. Após formar 19 alunos em 2014, a educadora retomou as aulas em abril. Os encontros acontecem três vezes por semana, nas tardes de segunda, quarta e quinta-feira, somando 210 horas de capacitação.

Segundo o presidente do Sindicato Rural de Santa Cruz do Sul, Marco Antonio dos Santos, depois da alfabetização muitos egressos se matriculam em outros cursos. “Temos um compromisso muito grande com a aprendizagem e o Alfa abre novas possibilidades para os agricultores”, destaca. Somente no ano passado, a entidade articulou mais de 130 cursos em sua área de atuação: Santa Cruz, Passo do Sobrado, Vale Verde, Vera Cruz, Vale do Sol, Sinimbu, Herveiras e Gramado Xavier.

Sobre o Alfa

A 16ª edição do Programa Alfabetizando para Profissionalizar (Alfa), do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Estado (Senar-RS), já transformou a vida de mais de 20 mil gaúchos. Este ano outros três mil produtores rurais participam das aulas em 190 turmas, distribuídas em 97 municípios do Estado. Conforme a gestora do programa, Seres Helena Martins, são pessoas analfabetas ou de baixa escolaridade envolvidas na proposta e que recebem todo o suporte para estudar: material escolar, uniforme, alimentação e transporte. As aulas gratuitas começaram no dia 6 de abril e seguem até o dia 2 de outubro, integrando 49 sindicatos do Sistema Farsul. Com 15 anos de existência, o Alfa é reconhecido como projeto social pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e já recebeu diversos prêmios de responsabilidade social.