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Santa Cruz do Sul

Suicídio em escola reacende sinal de alerta na região

Menos de cinco dias depois de aparecer como a melhor escola pública de Santa Cruz do Sul no ranking do Enem, a Ernesto Alves de Oliveira mergulhou em um clima de tristeza e luto. O segundo período de aulas da tarde estava apenas começando, nessa sexta-feira, quando professores encontraram um aluno morto, no banheiro do segundo andar. O garoto de apenas 16 anos, estudante do segundo ano do ensino médio, havia se enforcado com um cadarço do tênis. O incidente evidencia uma situação que vem preocupando psicólogos e psiquiatras não só em Santa Cruz, mas em todo o Estado – o aumento dos casos de suicídio entre menores.

A vítima foi encontrada depois que seu professor estranhou a demora do aluno em retornar à sala de aula, após pedir para ir ao banheiro. Conforme a diretora, Lizete Gassen, professores de Educação Física ainda tentaram procedimentos de ressuscitação. O Samu foi acionado e fez novas tentativas, sem sucesso. 

De acordo com a delegada Raquel Schneider, da Delegacia de Pronto Atendimento, não surgiram indícios apontando para algum incidente gerador do suicídio. Ela ressaltou não haver nenhum sinal de que o estudante estivesse sofrendo bullying. “Ao contrário. Ela mantinha boas relações com os colegas”, informou.

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A diretora confirma. De acordo com Lizete, o aluno se dava bem com os colegas, mas sofria com problemas de ordem pessoal. Ele vinha passando por acompanhamento e havia sido encaminhado pela escola para tratamento no Centro de Atendimento Psicossocial (Caps). “Era um menino muito querido, muito educado. Embora estivesse deprimido, não dava mostras de que faria algo tão grave. Estamos chocados.”

Segundo ela, ainda na quinta-feira o aluno havia passado por acompanhamento junto à orientadora educacional da escola, sem demonstrar indícios de que planejava o suicídio. Em clima de luto, a direção suspendeu os jogos escolares, que ocorreriam nos próximos dias, e está estudando mais ações de prevenção ao suicídio. “Já vínhamos realizando atividades desta natureza. Notamos que, cada vez mais, os adolescentes demonstram estar deprimidos. Isso é geral, não é só aqui.”
Para Lizete, é hora dos pais também ficarem mais atentos. “Na escola os alunos só ficam quatro horas. É preciso que os pais também se envolvam na educação, que transmitam valores sociais e espirituais. É preciso mostrar que a vida tem valor, que é bom viver. ”

A coordenadora-adjunta da 6ª Coordenadoria Regional de Educação,  Janaína Venzon, disse que serão estudados mais programas de combate à depressão e ao suicídio. Ela salientou que várias atividades já são realizadas, por meio do Centro Regional de Combate ao Bullying e à Violências (Cipavi). “É uma questão que precisa ser bem trabalhada, e não só na rede estadual.”

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É o 3º caso envolvendo menor em um ano

Com o caso registrado nessa sexta-feira, chega a três o número de suicídios de menores no município nos últimos 12 meses. O dado é do Comitê de Combate aos Suicídios de Santa Cruz. Para Marliza Schwingel, integrante do comitê, o índice é preocupante. “Ele sugere que os adolescentes  estão desesperançosos em relação ao futuro. É algo que precisa ser debatido pela sociedade.” Tanto, que o tema vai nortear a próxima reunião do grupo.

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Psicóloga parceira do Cipavi, Michelle Raabe também vê com apreensão o aumento do número de casos de adolescentes deprimidos. Para ela, o fenômeno se deve à falta de diálogo entre pais e filhos. “Temos cada vez mais crianças órfãs de pais vivos. Elas gritam por atenção, mas sentem-se cada vez mais sozinhas”, comenta.

Michelle alerta que, muitas vezes, os sintomas de depressão se confundem com as características comuns da personalidade do adolescente. Nesta fase, sinais de irritação, tristeza e revolta são comuns. “Porém, no adolescente saudável eles oscilam. O menino pode estar irritado hoje, mas estará feliz amanhã. Mas quando o humor ficar alterado por muito tempo, por três a quatro semanas, é necessário atenção, pois algo está errado.”

PREOCUPA

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43 casos de suicídio de jovens com idades entre 15 e 29 anos foram registrados em Santa Cruz entre 2003 e 2014, conforme o Comitê de Combate aos Suicídios

Especialista atribui índices aos conflitos nas famílias

Minutos antes de conceder entrevista para esta reportagem, o médico psiquiatra Ricardo de Campos Nogueira, especialista em suicídios, ministrava consulta a um menino de 10 anos, de Canoas, que havia tentado se asfixiar com um cinto. Deprimido, o garotinho se isolou no quarto depois da mãe, irritada, ter dito que não queria mais vê-lo. Nos últimos dias, Nogueira também atendeu duas adolescentes que deram entrada na UTI do hospital de Viamão após terem ingerido remédios faixa preta, também tentando tirar a própria vida.

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Os três pacientes vinham de famílias com uma característica em comum. “Eram famílias desestruturadas, caóticas. Isto gera um sentimento de insegurança e desespero, que culmina na depressão”, afirma o especialista.
Nogueira classifica como desestruturada a família onde ocorrem, entre os pais e entre pais e filhos, agressões verbais e físicas. O consumo abusivo de álcool pelos adultos e a falta de atenção aos filhos também são fatores.

ATENÇÃO AOS SINAIS

Segundo Ricardo Nogueira e Michelle Raabe, crianças e adolescentes deprimidos:

  • Permanecem longos períodos (mais de três semanas) irritados ou tristes, sem vontade de sair de casa para fazer as atividades de que gostam.
  • Se isolam em seus quartos e ficam muitas horas na internet.
  • Regridem no rendimento escolar.
  • Param de se alimentar e abdicam da higiene.

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