Uma semana no novo ano, uma semana sem água em Santa Cruz do Sul. O problema que foi assunto durante todos os dias de 2017 continuou no sábado e ontem, e deixou 30 mil pessoas  desabastecidas. Desde a semana passada, todos os bairros registraram falta de água em pelo menos um dia.

Ontem as torneiras ficaram secas nos bairros Goiás, Avenida, Santo Inácio, Renascença e Várzea por causa do rompimento de uma rede localizada na esquina das ruas São José e Félix Hoppe. Funcionários de uma empresa contratada pela Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) iniciaram os reparos por volta das 2 horas e concluíram às 14 horas, quando o abastecimento foi retomado ao poucos.

A estudante Juliana Betina Werner, moradora do Bairro Várzea, era uma das poucas que ainda não haviam enfrentado o desabastecimento neste ano, mas ontem foi afetada pelo problema. Ela percebeu que estava sem água por volta das 5 horas. A ausência de uma caixa-d’água fez com que utilizasse o conteúdo da piscina, para usos emergenciais, como banheiro. Já para o consumo e preparo do almoço, usou algumas garrafas que estavam na geladeira.

O mesmo aconteceu na residência do autônomo Marcos Luciano Lemos Pinto, morador do Bairro Avenida. Ele, além de utilizar a água que havia guardado em garrafas na geladeira, chegou a derreter o gelo armazenado para que as duas filhas pudessem tomar. Na pia da cozinha, houve acúmulo de louça, já que não foi possível executar a tarefa de manhã. “No domingo é ruim porque, mesmo que as crianças acordem mais tarde, todos ficam em casa e não tem como fazer nada, nem usar o banheiro”, reclamou.

Marcos não pôde lavar a louça, pois faltou água na madrugada

Marcos percebeu a falta de água por volta das 6 horas, mas em um grupo de vizinhos no WhatsApp, a informação chegou às 3h40. Segundo ele, o desabastecimento é normal no local, mas geralmente o restabelecimento é rápido.

Vazamento deixa moradores em alerta

Outro problema registrado em Santa Cruz ontem foi um vazamento na esquina das ruas Thomaz Flores e Major Pedro Santana de Oliveira. Quem passou pelo local percebeu que a água formou uma correnteza sobre o paralelepípedo. Mesmo assim, os moradores das proximidades não ficaram sem abastecimento, mas notaram pouca pressão na água saindo das torneiras e chuveiros.

Essa situação foi registrada pelo morador da Rua Thomaz Flores, Carlos Leopoldo Schuck Filho. Ao entrar para o banho, agilizou o procedimento, pois, segundo ele, a impressão era de que a água estava terminando. Em relação ao vazamento, Schuck contou que há alguns dias a Corsan estava trabalhando no local, substituindo o encanamento.

Ao entrar em contato com a companhia, o prazo informado para realização de reparos no vazamento foi de 48 horas, mas ainda na tarde de ontem já iniciaram o conserto. Na última quarta-feira, a área enfrentou a falta de água. Schuck vive no local há 50 anos e disse que é muito raro o desabastecimento.

Problema antigo

Conforme o gerente da Corsan em Santa Cruz do Sul, Armin Haupt, os rompimentos são causados por diversos fatores que mostram a precariedade da estrutura que abastece a zona urbana. Segundo ele, as tubulações são antigas e não resistem à pressão necessária para suprir os pontos mais altos da cidade. Além disso, explica, a cada conserto, bolsas de ar se formam nos canos e acabam tornando rachaduras e vazamentos um problema crônico. 

Haupt também aponta o aumento nas temperaturas como um agravante para a frequência da falta de água, porque o consumo aumenta no verão e há maior proliferação de algas no Lago Dourado. Isso, diz ele, obriga a companhia a lavar os filtros seguidamente, por causa do uso do carvão ativado. Outro fator que pode estar comprometendo o encanamento são as chuvas recorrentes.

Prefeito convocou reunião para hoje

A sequência dos rompimentos de redes, que causaram falta de água em milhares de residências desde o início do ano, levou o prefeito Telmo Kirst (PP) a convocar uma reunião de emergência da Comissão Especial para Acompanhamento e Fiscalização do Plano Municipal de Saneamento Básico. O encontro será realizado hoje. Na pauta está incluída a verificação de quais ações do Plano Emergencial previsto no contrato da Corsan já foram executadas pela companhia.

Em setembro do ano passado, a Prefeitura chegou a multar a Corsan em R$ 13,2 mil devido ao atraso no cumprimento do planejamento. O contrato previa investimentos de R$ 40 milhões nos dois primeiros anos mais a implantação de reservatórios e de um programa de redução de perdas.

Linha do tempo

1º de janeiro – domingo
No primeiro dia do ano, moradores dos bairros Schulz, Centro, Higienópolis, Arroio Grande, Belvedere, Margarida, Ana Nery, Bonfim, Pedreira e Santuário se depararam com as torneiras secas.

2 de janeiro – segunda-feira
O vazamento em uma adutora de 300 milímetros localizada na esquina das ruas São José e Farroupilha fez com que fosse necessário o desligamento da estação de tratamento para a execução de reparos. Com isso, residências dos bairros Arroio Grande, Bom Jesus, Carlota, Faxinal Menino Deus, Goiás, Renascença, Santo Inácio, Universitário, Avenida, Várzea e Centro ficaram sem água.

3 de janeiro – terça-feira
Problemas no fornecimento atingiram os bairros Arroio Grande, Carlota e Rauber.

4 de janeiro – quarta-feira
Os bairros Higienópolis, Arroio Grande, Faxinal Menino Deus, Carlota, Ana Nery, Margarida, Bonfim, Belvedere e Centro ficaram sem água para que a Corsan realizasse melhorias no município, além de consertar uma adutora de 250 milímetros na esquina das ruas Marechal Deodoro e Joaquim Murtinho, que rompeu por volta das 5 horas, e conectar com a nova rede, da Rua Thomaz Flores.

5 de janeiro – quinta-feira
Por cerca de 20 horas, uma equipe trabalhou para corrigir o rompimento de uma adutora na Avenida Senador Pasqualini, próximo ao Shopping Santa Cruz, no Bairro Santo Inácio. Outro conserto de rede também comprometeu os bairros Bom Jesus e Santuário.

6 de janeiro – sexta-feira
n n Durante quase todo o dia, o Bairro Jardim Europa e o Condomínio Reserva dos Pássaros ficaram sem água.

7 de janeiro – sábado
Ainda pela manhã, uma rede rompeu na esquina das ruas Osvaldo Cruz e Gaspar Silveira Martins, no Bairro Higienópolis. O problema foi resolvido antes do fim da tarde, mas moradores do Higienópolis, Santo Inácio e Loteamento Kaspary ficaram sem abastecimento até o fim do conserto.