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Amor de mãe

Uma dança que une mães e filhos na Apae em Santa Cruz

Os passos são os mesmos zelosos do dia a dia, mas com muito mais poesia. E as mãos que tanto cuidam, remediam, confortam e acarinham, executam gestos desenhados não pela rotina, mas pela emoção. Nos ensaios, uma vez por semana, ou nas frequentes apresentações, mães de alunos da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) que formam, com os filhos, um grupo de danças, vivenciam um momento ímpar de afeto e contemplação.

O time foi criado há cerca de quatro anos, para realizar uma performance diferenciada por ocasião do meio século da instituição em Santa Cruz do Sul. O resultado não só encantou os espectadores, mas também proporcionou uma atividade de intensa conexão entre mães e filhos. A satisfação dos envolvidos foi tanta, que a decisão não poderia ser outra. O grupo foi mantido.

Desde então, os “dançarinos” ensaiam na Sala de Dança da Apae, sob a coordenação da professora de educação física Viviane Lopes. Também realizam apresentações, que sensibilizam as plateias por onde passam. Não há medo da exposição. Não há preocupação com os eventuais erros nas coreografias, pois existem as limitações cognitivas e físicas, que são compensadas pela doação e superação de cada um.

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Difícil só é saber quem gosta mais da iniciativa, as mães ou os filhos. A aposentada Lenise Lau Voese participa desde o início com a filha Stela, de 44 anos. Ela relata que a exemplo do que ocorre com quem as assiste, as músicas e as danças também as emocionam e aproximam. Além disso, é uma forma de acompanhar de perto, de viver o dia a dia da instituição. Maria Celoi, mãe de Francieli, de 25 anos, conta que a experiência é única e que  é gratificante poder fazer parte de uma das atividades que a filha mais gosta: música e dança. “A gente vê a felicidade deles. Basta eu mostrar a roupa do grupo para a Fran, que ela já se mobiliza.”

Rosane Stertz, mãe de Deivid Geraldo Stertz, de 30 anos, diz que o filho não queria mais frequentar a Apae. Então, entraram no grupo e ele adorou. É uma realização para ambos, um momento em que voltam a se sentir crianças. Shirley Escouto, mãe de Carlos Alberto Escouto, de 35 anos, evidencia também outro aspecto: além da alegria dos filhos, o contato e a troca de experiências entre as mães. É a sensação que Iracema Agnes, mãe de Lucas, de 17 anos, está experimentando este ano, depois que juntaram-se aos demais.  “É uma oportunidade enriquecedora em todos os sentidos.”

Para Selmira Weizmann Soares, mãe de Fernanda, de 26 anos, com o grupo foi possível participar bem mais da vida da filha. Tantas coisas que no dia a dia se faz no “piloto automático”, na dança são realmente sentidas, aproveitadas. Tudo é feito de coração. E com superação. Afinal,  “nós não somos mais crianças, e nossos filhos são bem crianças ainda”, resume.

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A coordenadora pedagógica da Apae, Sandra Kirst, observa que o grupo é formado por mães muito especiais, que precisam fazer uma  “ginástica” para poder honrar esse compromisso, que às vezes toma também seu sábado ou domingo. Mas, o que se vê entre elas, apesar das dificuldades evidentes que enfrentam, é satisfação. A própria autoestima saiu ganhando com tudo isso. Principalmente, por mostrar à sociedade que elas, e seus filhos, são capazes e fazem parte da comunidade.

Grupo mostra as famílias que convivem com a diferença

O objetivo do projeto Passos que fazem a diferença na inclusão de alunos com deficiência: dançando com mães e filhos, explica a professora Viviane Lopes, é desenvolver e favorecer a formação da personalidade além do âmbito específico, programático, emocional, comunicativo, criativo e cognitivo dos alunos. A intenção é proporcionar algo prazeroso, que oportunize a interação e a troca de carinhos entre eles, ampliando também suas capacidades. “É uma dança de alma e coração”, observa Viviane. 

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Para a diretora da Apae, Ciséle de Borba, o grupo de Mães e Filhos representa a vida das famílias que têm um filho com deficiência. Isso se evidencia desde a escolha das músicas, que é feita pela professora Viviane, até a coreografia, pois expressa toda a cumplicidade, doação, responsabilidade, afeto e amor de uma mãe para com seu filho, que tanto depende dela e de toda a família para seu desenvolvimento e cuidados. “Sabemos que ser mãe não é um papel fácil, mas ser mãe de um filho com deficiência exige que essa progenitora seja uma supermãe, que praticamente se anule como mulher para viver a vida do filho.”

Sonho

Além de integrarem o grupo, as mães e suas famílias são responsáveis também pelos custos com os trajes das apresentações e com o deslocamento para os espetáculos (com exceção de quando são convidados para outros municípios, que normalmente providenciam o transporte). Mas elas não se queixam quanto a isso. Em contrapartida, sonham. Gostariam que a sala de dança onde ensaiam (além de outros sete grupos de danças de alunos que a Apae de Santa Cruz mantém) pudesse ser ampliada, para se tornar ainda mais confortável e estimulante. Quem sabe essas mães que protagonizam uma iniciativa sobre a qual não se tem conhecimento de outra igual entre as Apaes consigam torná-lo realidade, como já fizeram com tantas outras coisas que parecem quase impossíveis. 

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