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Santa Cruz

Vida de subprefeito: sem dia e sem hora para ajudar

Quando convidado para chefiar a subprefeitura do distrito de Alto Paredão, o agricultor Walter Roque Ferreira, 48 anos, recebeu o alerta: exerceria a função 24 horas por dia e todos os dias da semana. Mesmo com o aviso, aceitou o desafio de representar o Executivo na localidade onde nasceu e cresceu. Desde que assumiu o cargo, em 2013, afastou-se das atividades no comércio que possui, passando-as para a esposa e um dos filhos, e abandonou a fumicultura. “Ainda crio gado, mas pouco para dar conta de tudo.” Agora, sua principal função é estar com os ouvidos atentos às necessidades dos moradores e sua principal característica deve ser a prestatividade.

Embora sua atribuição seja exclusivamente administrativa, Roque põe a mão na massa para agilizar os serviços. Inclusive, enquanto concedia esta entrevista, foi chamado para consertar um vazamento de água e, sem equipe disponível, ele mesmo resolveu o problema. As demandas são as mais variadas e chegam quando e como menos se espera – por telefone, na sede, em casa ou em eventos. Segundo o subprefeito, as mais solicitadas são obras. Com quase 300 quilômetros de estradas, o desafio é mantê-las em boas condições. “Alto Paredão é um dos distritos com mais ladeiras e pedras. É difícil trabalhar”, comenta. “O pessoal cobra muito. Têm direito de reclamar, mas às vezes exigem demais. Falo que temos que observar as condições de trabalho.”

Em uma região distante 52 quilômetros da área central de Santa Cruz do Sul, Roque carrega boas e más histórias, mas procura extrair o melhor de cada situação. De um temporal de granizo que há dois anos assolou Paredão, deixando moradias destelhadas, por exemplo, ele prefere guardar a união e o reconhecimento. “Foi de um sábado para domingo. Aquilo foi um terror. Todo mundo desabou aqui. Fiz visitas e foi um momento de muita comoção. Chegar na casa das pessoas e ver tudo molhado, tudo furado. As pessoas não terem uma roupa seca para vestir. Isso me marcou muito, nunca tinha passado por essa experiência”, recorda. “Paramos todas as outras atividades para ajudar. O pessoal ficou muito agradecido.”

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Para ele, a estrutura, o maquinário e a equipe formada por outros dez funcionários são suficientes para atender à maioria das necessidades. Mas lamenta não poder fazer mais. “Às vezes tu tens vontade de fazer alguma coisa, precisa resolver o problema, mas acaba deixando de lado por causa das limitações da lei. Não é só decidir e fazer. Então, tu acaba frustrado”, desabafa.

Na bagagem, experiência e histórias

Mauri Jorge Frantz, 56, é veterano na função. Assumiu a subprefeitura de Monte Alverne pela terceira gestão neste ano. A primeira vez foi entre 2005 e 2008. Depois, retornou ao cargo em 2013. Mas é da primeira temporada que ele jamais esquecerá. Como subprefeito, também teve que ser motorista de uma mulher grávida e, por pouco, não a viu dar à luz em seu veículo particular. 

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“O que mais me marcou, até hoje, foi a história de um bebê que quase nasceu dentro do meu carro, em 2007. A grávida estava no Hospital de Monte Alverne e queria a todo custo ir embora. O marido, preocupado, me pediu ajuda para levar ao Hospital Santa Cruz. Dentro do carro, ela começou a sentir contrações mais fortes e pensamos que a criança iria nascer. Quando chegamos no hospital, colocaram a mulher na maca e, na frente da porta de entrada, o bebê nasceu”, relata. “Disso eu nunca vou esquecer”, comenta. 


Frantz, de Monte Alverne: marcado pela história de um bebê que quase nasceu dentro do seu carro.
Foto: Bruno Pedry

Assim como para o Roque, as demandas que mais chegam a Mauri são ligadas a melhorias de estradas e de acessos a propriedades. Porém, o subprefeito de Monte Alverne parece ter uma habilidade para atrair situações inusitadas. “Aqui me pedem de tudo. Tem até gente que está com problemas na família e vem pedir conselhos”, revela. 

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Sobre o momento em que é solicitado, Mauri afirma que não tem hora nem lugar. “Me ligam até às 6 horas da manhã.” Nas quermesses, jogos de futebol e outros eventos, ele não para. Entretanto, garante que não se sente incomodado com isso. “Fui agricultor até 2005, sei o que o colono precisa. De uma estrada de roça boa, de um certo conforto. Isso é qualidade de vida também. Sempre tento fazer o melhor possível, mas infelizmente, a gente não consegue fazer tudo.”

Quais são as atribuições

A legislação é clara. Conforme o artigo 70 da Lei Orgânica de Santa Cruz do Sul, compete aos subprefeitos “cumprir e fazer executar, de acordo com as instruções recebidas pelo prefeito, as leis, resoluções, regulamentos e demais atos do prefeito e da Câmara; fiscalizar os serviços distritais; atender às reclamações das partes e encaminhá-las ao prefeito, quando se tratar de matéria estranha as suas atribuições; e indicar ao prefeito as providências necessárias ao distrito”. Pela regra, eles ficam impedidos de executar outros serviços, como operar máquinas. No entanto, alguns acabam executando atividades não oficiais por conta própria. Santa Cruz tem seis subprefeitos, nos distritos de Alto Paredão, Boa Vista, Monte Alverne, São José da Reserva e Rio Pardinho, além de um em Linha Santa Cruz. A remuneração mensal é de R$ 5.871,54, valor sem as devidas deduções.

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QUEM SÃO ELES

  • Nelcindo Egon Freese 

Natural de Boa Vista, atuou como assessor na Câmara de Vereadores de Santa Cruz. Antes, trabalhou na Secretaria da Agricultura como coordenador de máquinas. Responde pelo Distrito de Boa Vista e parte de São Martinho. Assumiu o cargo de subprefeito neste ano.

  • Walter Roque Ferreira 

Nasceu em Alto Paredão, distrito pelo qual responde junto de Alto São Martinho desde 2013. Foi funcionário público da Prefeitura de Santa Cruz, época em que trabalhou como motorista. Possui comércio e trabalha na atividade de agropecuária.

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  • Pedro José Helfer 

Atuou na Secretaria Municipal de Obras no primeiro mandato do prefeito Telmo Kirst e assumiu, em maio de 2014, a subprefeitura de São José da Reserva e área anexada.

  • João Cassep 

Formado em técnico de enfermagem, já atuou na área da Saúde como coordenador de regulação do Pronto-Atendimento (PA) do Hospital Santa Cruz. Assumiu a subprefeitura de Linha Santa Cruz no começo do ano e responde ainda por Linha Pinheiral.

  • Marcelo Diniz 

Foi vereador, secretário de Meio Ambiente e diretor de Educação e Saúde no governo Telmo. Assumiu a subprefeitura de Rio Pardinho em março de 2017.

  • Mauri Jorge Frantz 

Subprefeito de Monte Alverne, atende também Saraiva e São Martinho, desde 2013. Já atuou como assessor do vereador Alceu Crestani, presidente do Esporte Clube Juventude de Linha Monte Alverne e vice-presidente da Sociedade Esportiva e Cultural Monte Alverne (Secma).

Com o foco na qualidade de vida

O caminho de quem vai a Albardão, em Rio Pardo, saindo de Santa Cruz e passando pelo interior de Vera Cruz, é de estradas em boas condições de trafegabilidade, situação incomum em outras comunidades do interior da região. Entretanto, ao chegar no distrito, o que se descobre é outra realidade. Por lá, a reivindicação é por um item básico do dia a dia: o fornecimento de água. Enquanto em outras localidades os subprefeitos têm como meta melhorar a malha viária, o de Albardão se comprometeu a solucionar o desabastecimento. 

Josmar Machado, de 37 anos, assumiu a função administrativa em fevereiro. Mas, como morador daquela região há três décadas, sabe o que realmente a comunidade precisa. “Desde que me conheço por gente, falta água aqui. No verão, a situação é pior. Alguns moradores precisam buscar água nos vizinhos e tem donas de casa que lavam roupas nos açudes”, conta. De acordo com ele, apesar de no inverno a situação amenizar, ainda não fica sob controle. “Se chove muito, quem tem cacimba não pode usar a água por uns dois dias, para dar tempo de limpar”, acrescenta. 


Machado ainda pretende implantar poços artesianos em Albardão.
Foto: Lula Helfer.

Segundo o subprefeito, três poços artesianos foram implantados, mas eles não são suficientes para o abastecimento de toda a comunidade. “Como subprefeito, não tenho como fazer as obras pois não dispomos de recursos, mas meu dever é cobrar a prefeitura e encaminhar as demandas. Me comprometi com os moradores de conseguir um poço e vou cobrar até conquistar. Um geólogo ficou de vir aqui, nos próximos dias,  avaliar o que será necessário. Agora esperamos por ele”, diz, esperançoso. Machado explica que a obra ainda não foi realizada por causa do investimento, que seria de, no mínimo, R$ 30 mil. 

Rio Pardo tem área aproximada de 2 mil quilômetros quadrados. Com uma zona rural extensa, conta com o trabalho de seis subprefeitos, nos distritos de Passo da Areia, Rincão Del Rey, Bexiga, Albardão, Iruí e Taquara. Para Josmar, a maior dificuldade da localidade pela qual responde é a distância. São cerca de 50 quilômetros que a separam do Centro rio-pardense.

“Aqui ficamos abandonados. Para fazer uma obra, mesmo que pequena, é difícil por causa dos materiais. As equipes precisam buscar carga quase na divisa com Pantano. Percorrem 190 quilômetros para carregar um caminhão só, aí complica”, avalia. A boa relação que ele tem com a comunidade, por vezes, fica comprometida, já que nem sempre consegue atender aos pedidos. “A gente faz o que pode. Não temos uma sede e equipe fixa aqui”, argumenta.

Capatazias dão suporte no interior de Venâncio

Em Venâncio Aires, são os capatazes que apoiam a Prefeitura em localidades da zona rural. Ao todo, quatro capatazias foram criadas no interior, nas localidades de Vila Deodoro, Vila Arlindo, Vila Estância Nova e Centro Linha Brasil. 

Distante cerca de 25 quilômetros do Centro e com uma extensão de 280 quilômetros de estradas, Vila Deodoro conta com o empenho do funcionário público Alberto Sausen, de 49 anos. Ele comenta que se aproximou da comunidade em razão dos serviços que realizava para a Prefeitura antes de ocupar o cargo de capataz, em janeiro deste ano. 

A função do capataz, segundo ele, é a mesma do subprefeito: receber demandas, encaminhá-las, executá-las quando possível e coordenar os trabalhos. Para que as reivindicações cheguem ao conhecimento dele, a capatazia possui uma sede na localidade, onde trabalham outras quatro pessoas. Porém, nem sempre se encontra um funcionário por lá. “Se tem tempo bom, está todo mundo na rua trabalhando”, diz. 

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