Desde setembro do ano passado, Lucineia Gewehr Goettems tem preocupações dobradas com a saúde do filho Kaio, de 7 anos. É que a docente, que atualmente é vice-diretora de uma escola estadual de Santa Cruz do Sul, contava com o plantão pediátrico via Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul (IPE), que deixou de existir. Ela agora precisa recorrer ao atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), enquanto continua pagando R$ 115,00 por mês pelo plano. 

“Não posso reclamar do SUS, porque sempre fui bem atendida, mas a demora é grande. Às vezes, chega a quatro horas. Além disso, estou tirando recursos de outras pessoas e pagando por algo que não recebo. Onde estão os meus direitos?”, desabafa. Prestes a completar um ano, o impasse parece longe de se resolver.

Questionado sobre essa situação, o IPE alega que esteve em reunião com representantes do Hospital Ana Nery no mês passado e já estaria com tudo encaminhado para firmar um “convênio global” com a instituição, o que incluiria a pediatria.

A versão do Ana Nery, contudo, é outra. De acordo com o diretor geral, Gilberto Gobbi, havia uma reunião marcada para o dia 8 de junho, mas o IPE teria desmarcado na véspera. “Ficaram de remarcar, mas isso nunca aconteceu”, revelou. Conforme Gobbi, o único momento em que as duas equipes estiveram juntas foi na mobilização das Santas Casas e Hospitais Beneficentes, Religiosos e Filantrópicos do Rio Grande do Sul, onde se tratou de assuntos referentes à federação. O evento ocorreu no dia 6 de junho.

No ano passado, o Ministério Público entrou com uma ação contra o convênio, que ganhou prazo até 12 de abril deste ano para aumentar a disponibilidade de consultas eletivas e retomar os atendimentos de emergência pediátrica no município, sob risco de multa diária de R$ 2 mil. O IPE recorreu da multa, e o TJ suspendeu a cobrança da pena. O MP, então, entrou com novo recurso, pedindo a retomada da multa. A última movimentação do processo foi há duas semanas. 

Além dos problemas com a pediatria, Lucineia afirma que o tempo de espera por consultas eletivas chega a até quatro meses em alguns casos. Uma médica que preferiu não se identificar relatou que, muitas vezes, os pagamentos atrasam e o valor recebido não compensa. Os médicos recebem entre R$ 47,00 e R$ 68,00 por consulta. Já o valor pago pelos usuários corresponde a 3,1% de seus salários. 

Entenda

Os problemas com o convênio começaram após o cancelamento do plantão pediátrico pelo IPE, que funcionava dentro do Hospital Santa Cruz (HSC). A suspensão ocorreu porque o IPE Saúde usava a estrutura disponibilizada pelo hospital à Unimed Vales do Taquari e Rio Pardo. Quando a Unimed migrou para o Hospital Ana Nery, no dia 19 de setembro, o IPE ficou impossibilitado de continuar no HSC e permanece sem plantão pediátrico no município desde então.