A esta hora os ciclistas Demétrio de Azeredo Soster, 51, Jonathan Luis, 20, Marcelo Rakauskas, 44, e Lincoln Paiva, 33 anos, devem estar deixando San Jaime de La Fronteira, município da província de Entre Rios, Argentina, e pedalando rumo a Sauce de Luna, lugarejo à margem da Ruta Nacional (RN) 127. À frente da chamada Operação Valparaíso, o grupo formado por dois paulistas, um gaúcho e um catarinense vai pedalar 1,7 mil quilômetros até a capital do Chile ao longo de pouco mais de duas semanas. Com os alforjes cheios, a partida aconteceu ontem pela manhã, de Uruguaiana. Já o retorno será de Santiago, no dia 26, com a bike mais leve, mas a bagagem carregada de experiência.  

Há quem chame eles de loucos. E pode até ser. Mas a verdade é que, com suas buscas singulares, consideram-se apenas apaixonados pela aventura e por toda a transformação que ela proporciona. “O privilégio de acordar todos os dias em um lugar diferente, sentir o rosto no vento por horas a fio, a cerimônia de escolher um gramado para armar a barraca, fazer a comida e descansar.” É mais ou menos assim que o integrante mais novo da operação, Jonathan Luis, resume os porquês da paixão pelo cicloturismo. E, nesse embalo de companheirismo e transformação interna, também lembra os parceiros de viagem sobre os momentos que estão por vir. “Todos, em sintonia, querem experimentar essa transformação. É um momento em que estaremos juntos, mas também livres e em movimento”, complementa Soster.

OPERAÇÃO VALPARAÍSO

• Vai ter livro e documentário 

Imerso nas andanças da cicloviagem há quatro anos, o escritor Demétrio Soster era só sorrisos ainda na terça-feira, quando finalizava os detalhes para a partida. Depois de cumprir trajeto até Buenos Aires, na Argentina, em janeiro do ano passado, o também professor da Unisc retornou a Santa Cruz com a certeza de que a próxima viagem seria ainda maior. E assim o fez. Junto com o parceiro que conheceu na jornada batizada de Operação Banda Oriental, Lincoln Paiva, planejou roteiro, caprichou na compra de equipamentos e, como todo bom sonhador, viveu a expectativa de colocar o pé na estrada.

“O interessante dessa vez é que mais pessoas foram se agregando. O Marcelo é amigo do Lincoln, o Jonathan, que apesar de novo, já tem uma baita bagagem, também apareceu”, acrescentou, empolgado. Na companhia do trio, ele ainda vai gravar um documentário com a sua câmera GoPro acoplada sobre o guidão da bike MTB. Entrevistas de figuras que encontrarão pelo caminho, relatos de viagens e imagens estonteantes de lugares como o Parque Nacional do Aconcágua, pôr do sol e montanhas com resquícios de neve estarão na produção audiovisual. Ao retornar, Soster também já confirma a produção de mais um livro: o Operação Valparaíso. Boa sorte aos aventureiros!

• Do banho ao acampamento

Um alforje para peças de roupa, outro para utensílios de cozinha. Há também um espaço reservado para a tecnologia (leitor digital de livros e carregadores ), outro para kit de acampamento. Se na viagem passada priorizou se hospedar em pousadas, desta vez, Soster vai apostar nas noites de sono dentro da barraca. Para isso adquiriu estrutura impermeável que vem até com colchonete. A térmica, a cuia e o mate (argentino) serão outros utensílios indispensáveis para os momentos de confraternização.

O banho? Bom, esse eles vão tomar em postos que funcionam como paradas para viajantes. Outro item indispensável é o amendoim salgado. “Muitos acham que é só a glicose que nos dá energia, mas falta de sal também gera um cansaço absurdo. Por isso o amendoim e a barrinha de cereal não faltarão”, complementa o ciclista. A ideia é pedalar até 160 quilômetros por dia e aproveitar o ar fresco da manhã. O ponto mais esperado pelo grupo é a rota que se inicia a partir de Mendoza, Argentina, quando o caminho passa a ser internacional.  É aí que  as chances de os companheiros encontrarem ciclistas de todo o mundo vão aumentar. Nos  próximos anos, Soster pensa em desbravar a América Central e do Norte e, mais à frente, a Europa. É fazer jus ao que a camiseta estampava: “Sim, eu tenho um plano de aposentadoria: pedalar”.