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Inflação baixa, mas gás e gasolina seguem em alta

Nos 12 meses de 2017, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), termômetro da inflação acompanhado mensalmente pelo governo federal, registrou um saldo acumulado de 2,95%. O índice geral, que é usado pelo governo como parâmetro para medir preços e a movimentação do mercado financeiro, não combina em nada com os reajustes de preço dos combustíveis e do gás de cozinha em Santa Cruz. Durante o ano passado, a Gazeta do Sul pesquisou e mostrou que o gás de cozinha subiu 41,36%. Já a gasolina, de junho a dezembro seguiu aumentando e fechou o ano com uma alta de 25,5%.

A conta não fecha, e o consumidor pergunta: como pode a inflação oficial ser menos de 3%, enquanto gás e gasolina chegaram a índices tão elevados – e continuam subindo? Da economia vem a primeira explicação. Segundo o economista da Univates, de Lajeado, Eloni José Salvi, cada famí- lia tem uma inflação diferente, pois consome produtos que não são iguais ou em quantidades diversas. “A inflação oficial, por qualquer um dos índices, é uma média nacional, com base em um conjunto de produtos e serviços que, em média, as pessoas consomem”, justifica.

O professor de economia da Unisc, Silvio Arend, reforça a explicação. Segundo ele, quanto mais o produto representa no orçamento de uma família, ou seja, quanto maior o consumo e maior for o preço, qualquer pequeno aumento resulta em uma despesa mais alta. “Isso vale para o gás e para a gasolina. No combustí- vel, quanto mais utilizar o carro e menos econômico ele for, maior será o peso no orçamento familiar”, compara.

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Para ajudar a entender essa conta, existe uma escala para calcular a influência de cada produto no orçamento das famílias (veja a tabela acima). Salvi explica que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) faz o cálculo do IPCA, o índice oficial divulgado pelo governo. Esse índice é formado por 465 itens de consumo diferentes, que vão desde o fósforo usado para acender o fogão até o carro novo que a família comprou em um consórcio, por exemplo. Esses itens estão reunidos em nove grupos diferentes, e cada grupo diz respeito a um tipo de despesa.

“O gás de cozinha representa em torno de 2% da renda de uma família, que tem como base o valor de um salário mínimo como ganho. Mas pode chegar a menos de 0,2% de uma família com renda de mais de R$ 5 mil mensais.” O mesmo acontece com a gasolina. No entanto, o preço dos combustíveis impacta mais em quem também ganha mais. Para as famílias com renda mais alta, o consumo acaba sendo maior. Em média, numa família com renda de um salário mínimo, o impacto é de 1,5%. “Enquanto em uma família de renda maior que cinco salários mínimos, esse item representa 3% do orçamento”, explica. 

A segunda explicação: a política de preços

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Gás e gasolina têm fórmulas parecidas de cálculo de preço. Desde o ano passado, os brasileiros experimentaram o gosto salgado do preço do petróleo no mercado internacional, e essa é uma das razões para tantos reajustes. Segundo a nova política adotada pela Petrobras, o valor do petróleo que entra na composição da gasolina e do próprio gás de cozinha precisa acompanhar a tendência internacional, pois o Brasil ainda importa muito petróleo.

“Os preços continuarão altos, enquanto o preço do petróleo continuar alto ou subir ainda mais lá fora”, justifica Eloni José Salvi. Segundo o economista da Univates, a falta de concorrência na produção de derivados de petróleo no Brasil também ajuda a elevar os preços, fazendo com que eles se elevem rápido quando o petróleo sobe e demorem mais a baixar quando o preço reduz no mercado internacional. 

COMO SE CALCULA

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A composição do IPCA leva em consideração o reajuste de preços de 465 produtos diferentes. Cada um deles tem uma importância, dentro dos 100% que representam o orçamento doméstico. Entenda como a conta é feita:

Alimentação e bebidas (frutas, verduras, preparo de alimentos) – 23,12%

Artigos de residência (manutenção residencial) – 4,69%

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Transportes (combustíveis, passagem de ônibus) – 20,54%

Comunicação (telefone, internet) – 4,96%

Despesas pessoais (gastos com lazer, cinema) – 9,94%

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Habitação (aluguel, financiamentos) – 14,62%

Saúde e cuidados pessoais (planos de saúde, trat. de beleza) – 11,09%

Vestuário (compra de roupas, sapatos) – 6,67%

Educação (instrução, cursos) – 4,37%

Vender gás custa caro, afirma sindicato

Conforme o presidente do Sindicato dos Revendedores de Gás de Cozinha do Rio Grande do Sul (Singasul), Ronaldo Tonet, o preço final pago pelo consumidor é influenciado pelo custo de envase, distribuição e a carga tributária que recai sobre a comercialização. “Custa caro engarrafar gás. Praticamente 55% do preço está relacionado aos custos operacionais das distribuidoras e dos impostos”, argumenta. Passada a correção de valores do petróleo, feita durante o ano passado, a tendência, segundo ele, é de estabilidade e até a possibilidade de redução de preços.

Com reajustes fixados a cada três meses, o gás passará a despertar a concorrência entre as empresas distribuidoras, por isso, conforme Tonet, ficará mais barato para o consumidor final. “Aqui em Cachoeira do Sul, o botijão mais barato está custando menos de R$ 60”, revela o presidente do Singasul. A Gazeta do Sul revisou o preço do produto na sexta-feira. O valor do gás de cozinha, em algumas das distribuidoras do município, segue semelhante a 2017: R$ 69 o custo mais barato para retirada no local de venda e R$ 82 o mais caro, entregue a domicílio. 

Para quem ganha menos, sempre sai mais caro

O catador Getulino Lopes, de 56 anos, não fez curso superior, muito menos se dá bem com nú- meros. Segundo ele mesmo, seu negócio é separar materiais que são descartados com o lixo, para transformá-los em dinheiro. Agora, quando o assunto é recarregar o botijão, seu Getulino vira mestre na matéria. O gasto com o gás de cozinha é o maior do orçamento, disparado. “A última vez que eu comprei, paguei R$ 82. É muito caro, a gente precisa economizar”, revela. Com uma renda média de R$ 300 por mês, vinda da reciclagem, Getulino conta com a ajuda do filho para conduzir o orçamento doméstico. O herdeiro trabalha em uma indústria de alimentos em Santa Cruz e divide os ganhos com o pai, no Bairro Santa Vitória. Segundo o IBGE, de cada R$ 100 que seu Getulino ganha com reciclagem, R$ 23,12 são gastos com o grupo de produtos de alimentação, onde fica a despesa com a recarga mensal do gás.

Já calculando especificamente o custo em cima da renda do catador, cada recarga feita por ele consome 12,5% dos seus rendimentos com o trabalho. “O que eu queria mesmo é ter um fogão a lenha, para cozinhar feijão nele sem gastar tanto.” Vender gás custa caro, afirma sindicato Conforme o presidente do Sindicato dos Revendedores de Gás de Cozinha do Rio Grande do Sul (Singasul), Ronaldo Tonet, o preço final pago pelo consumidor é influenciado pelo custo de envase, distribuição e a carga tributária que recai sobre a comercialização. “Custa caro engarrafar gás. Praticamente 55% do preço está relacionado aos custos operacionais das distribuidoras e dos impostos”, argumenta.

Passada a correção de valores do petróleo, feita durante o ano passado, a tendência, segundo ele, é de estabilidade e até a possibilidade de redução de preços. Com reajustes fixados a cada três meses, o gás passará a despertar a concorrência entre as empresas distribuidoras, por isso, conforme Tonet, ficará mais barato para o consumidor final. “Aqui em Cachoeira do Sul, o botijão mais barato está custando menos de R$ 60”, revela o presidente do Singasul. A Gazeta do Sul revisou o preço do produto na sexta-feira. O valor do gás de cozinha, em algumas das distribuidoras do município, segue semelhante a 2017: R$ 69 o custo mais barato para retirada no local de venda e R$ 82 o mais caro, entregue a domicílio.

A CARGA TRIBUTÁRIA SOBRE A GASOLINA

Conforme o diretor regional do Sindicato Intermunicipal do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes do Estado (Sulpetro), Sérgio Morales, o maior problema relacionado ao preço dos combustíveis está na elevada carga de impostos. Segundo ele, a composição do custo fica assim: 47% é imposto, 26% é o preço na refinaria, 13% é a adição de etanol, sobrando apenas 14% para a margem de ganho das distribuidoras. “A única maneira de intervir no preço, para baixar o valor, é reduzindo a carga tributária.

Entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, a diferença é de 5%. Por isso a gasolina catarinense é mais barata”, frisa Morales. Segundo o diretor regional da Sulpetro, o custo do preço da gasolina tem contra si ainda muitos fatores de aumento, como reajuste de salários, energia e licenças ambientais, que elevam os custos de operação. Assim como a flutuação dos valores no mercado internacional, completando o conjunto de índices e interferências que incidem diretamente no custo final da gasolina. 

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