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Santa Cruz

Saída de secretário expõe desgaste entre prefeito e PP

Além de pegar de surpresa a comunidade política de Santa Cruz do Sul, o pedido de demissão do secretário municipal de Segurança, Henrique Hermany, ontem, expôs o desgaste da relação entre o prefeito Telmo Kirst e alas históricas de seu próprio partido, o PP. A saída de Henrique, outrora visto como o principal nome para concorrer à sucessão de Telmo no ano que vem, ocorreu após uma sequência de desalinhos no grupo governista.

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Henrique entregou a carta de demissão pouco depois das 13h30 a assessores do prefeito. Telmo não estava no gabinete e os dois sequer chegaram a conversar. Por volta das 17 horas, sem emitir nenhuma declaração sobre a demissão, o prefeito anunciou que Délcio Mayer, chefe de gabinete e até então titular da Fazenda, assumirá a Segurança. Na prática, a decisão de Henrique não era esperada pelo Palacinho.

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Atual presidente do PP no município e principal herdeiro de uma das famílias mais tradicionais da política local (é filho da vice-prefeita Helena Hermany e do ex-prefeito e vereador Edmar Hermany), Henrique chegou ao primeiro escalão do governo em janeiro de 2013, quando foi nomeado pela primeira vez para a Segurança. Desde então, esteve fora da administração por apenas 33 dias, antes de assumir a Secretaria de Saúde, em abril de 2015. Quando Telmo tomou posse para o segundo mandato, retornou para a Segurança. Enquanto secretário, coordenou projetos como o do Centro Integrado de Segurança Pública, a repactuação dos repasses do Estado aos hospitais e a revisão dos cadastros de usuários do SUS.

Rumores sobre o desembarque de Henrique do governo eram ouvidos desde o ano passado, quando a relação de Telmo com o PP começou a esfriar. Muitos já consideravam insustentável a sua permanência na administração quando o prefeito articulou a transferência de líderes progressistas para outros partidos ou quando sabotou o acordo da base aliada na eleição da presidência da Câmara de Vereadores. Na leitura de alguns, um dos objetivos de Telmo era justamente forçar o afastamento dessas alas e alijá-las do processo sucessório.

O passo-a-passo do desgaste

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  1. Após uma gestão considerada bem-sucedida de Henrique na Secretaria de Saúde na metade final do primeiro mandato de Telmo, muitos consideravam natural o seu retorno para o cargo no início do segundo mandato, inclusive por ter sido um dos coordenadores da campanha à reeleição e em função de suas pretensões de concorrer a prefeito em 2020. Henrique, porém, acabou preterido e a escolhida foi Renice Vaccari.
  2. Em abril do ano passado, Telmo desautorizou publicamente especulações sobre a possibilidade de Henrique ser o escolhido para disputar a sua sucessão. “Candidato para me substituir tem que ter muito café no bule”, disse o prefeito à época.
  3. Em maio, Telmo começou a articular pessoalmente a transferência de integrantes de peso do PP para outros partidos. A manobra foi encarada como uma forma de esvaziar o partido e um indicativo de que o prefeito pretende formar o sucessor fora do ninho progressista.
  4. Em dezembro, Telmo arquitetou a aliança com a oposição na Câmara que sepultou o acordo que havia sido firmado na base governista e levou Bruna Molz (PTB) à presidência. Embora o principal atingido tenha sido Alex Knak (MDB), que pelo acordo seria eleito presidente, o movimento foi articulado à revelia do PP. À época, Telmo chegou a ameaçar demitir Henrique caso o pai dele, o vereador Edmar Hermany (PP), não apoiasse a chapa de Bruna.

 

Zeno Assmann assume pasta da Fazenda

A transferência de Délcio Mayer para a Secretaria de Segurança ocorre menos de 50 dias após ele assumir a Fazenda. Délcio, que seguirá acumulando a chefia de gabinete, já havia comandado a Segurança no primeiro mandato de Telmo, à época ainda como indicado do PSDB – partido do qual se desfiliou em 2016. Ocupou também uma diretoria na Secretaria de Agricultura e, atualmente, integra a “tropa de choque” de Telmo, ao lado de nomes como Régis de Oliveira Júnior (secretário de Saúde e Comunicação) e Gerson Vargas (secretário de Transportes).

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Em seu lugar na Fazenda ficará o ex-vereador Zeno Assmann (DEM), que já ocupou o cargo no primeiro mandato, quando ainda era filiado ao MDB. Desde o ano passado, comandava uma diretoria na Secretaria de Habitação. Será o único integrante no primeiro escalão do DEM – um dos partidos que deve crescer até a próxima eleição, com o apoio de Telmo.

“Um verdadeiro ídolo”, diz Henrique sobre Telmo

Apesar do notório desgaste na sua relação com o prefeito, Henrique Hermany optou por uma saída diplomática. Em sua carta de demissão, disse ter “admiração e respeito” por Telmo, a quem definiu como “homem público íntegro, futurista e realizador”. “E esta é a imagem que vai ficar sempre: de um exemplo, um verdadeiro ídolo”, escreveu. No texto, Henrique ainda prometeu “fidelidade política ao seu projeto de governo para Santa Cruz do Sul”.

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Mais tarde, em entrevista à Gazeta do Sul no escritório de advocacia do qual é sócio, Henrique voltou a negar qualquer mágoa com o governo e minimizou os desalinhos – que, segundo ele, são naturais. “Eu milito desde o tempo do movimento estudantil e cresci vendo desalinhos. Isso é normal dentro de um partido”, disse. Henrique afirmou ainda que permanecerá na presidência do PP, mas desconversou sobre seus planos para a eleição de 2020 e a possibilidade de concorrer a prefeito.

Conforme Henrique, a decisão de deixar o governo se deu em razão de “uma nova oportunidade profissional” e a impossibilidade de conciliá-la com as atividades na Prefeitura. A pessoas próximas, ele alegou estar assumindo a assessoria jurídica de uma empresa de grande porte.

O que muda no primeiro escalão

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Henrique Hermany (PP) – Deixa o governo.

Délcio Mayer – Deixa a Secretaria de Fazenda e assume a Secretaria de Segurança. Segue acumulando a chefia de gabinete.

Zeno Assmann (DEM) – Deixa a Diretoria de Programas Habitacionais e assume a Secretaria de Fazenda.

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