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Ternuras da fauna de Marília Klein

Foto: Arquivo Pessoal

Marília Klein: temáticas ambientais

Por Daniela Neu / [email protected]

“Marília gosta de brincar com argila.” A observação no boletim da pré-escola predizia o futuro moldado pela artista plástica Marília Klein, 32 anos. A santa-cruzense, formada em Design de Produto pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, cresceu vendo o pai, Marino Klein, 68, desenhar o material publicitário de uma tradicional loja da cidade – na época, os anúncios eram feitos à mão. “Eu tenho uma pasta com os desenhos dele. Para mim, é um tesouro. Eu o via mexendo naqueles materiais e queria entender como era. Ele me inspirava muito.”

A mãe, Carmen, 59, volta e meia a surpreendia com brinquedos criados por ela. “Ela fazia bonecas, montou uma casinha da Barbie pra mim. Eu achava muito legal que, do nada, ela transformava materiais num movelzinho, numa chupeta.”

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Marília Klein: temáticas ambientais

Em seguida, quem começaria a criar seria ela própria. Aos 8 anos, passava as tardes fazendo pequenos objetos com argila de floricultura. Aos 10, a mãe a inscreveu em um curso de extensão na Unisc, ministrado pela ceramista Clarisse Blauth. O curso era voltado para adultos, mas Marília logo provou que a cerâmica era muito mais do que brincadeira de criança e frequentou as aulas por cerca de 5 anos, duas tardes por semana.

Uma das lições no início do curso era fazer pelo menos um vaso. “Eu não queria fazer vaso, queria fazer bichinhos”, lembra. Mas entregar um vaso era indispensável para seguir nas aulas. “Eu fiz um vaso, mas desenhei uns bichinhos no vaso”, diverte-se Marília. A partir daí, estava livre para consolidar a temática de suas obras. Na época do curso, chegou a participar de exposições coletivas com colegas da turma na Casa das Artes Regina Simonis, em Santa Cruz, e na PUCRS, em Porto Alegre.

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No período da faculdade e imediatamente depois, já no mercado de trabalho, a cerâmica acabou ficando de lado. Mas, em 2015, sentindo que faltava algo que desse um sentido maior a sua vida, buscou auxílio de uma coach, que a orientou a recuperar memórias afetivas, de atividades que a realizavam na infância. Voltaram, então, os bichinhos. “Eu salvava abelhas que caíam na piscina, resgatava passarinhos, tinha um sapo no pátio. Gostava muito de observar exoesqueleto. Isso me fascinava. Minha mãe me apelidou de Palmira Gobbi (ambientalista).” Marília, então, novamente procurou a professora Clarisse Blauth e retomou o contato com a cerâmica. “Comecei a frequentar o ateliê da Clarisse e veio tudo de novo; parece que tu pensas com as mãos. E aí não parei mais.”

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As amigas e frequentadoras do ateliê de Clarisse começaram a se interessar pelas peças de Marília e a fazer encomendas, especialmente réplicas de animas de estimação. Pouco depois, ela deixou o emprego, montou o próprio ateliê e passou a se dedicar exclusivamente à arte. A aquarela é outra técnica a que ela se dedica nos últimos quatro anos, embora não tão assiduamente, e a delicadeza dos trabalhos encanta.

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A primeira exposição individual veio em outubro de 2016, na Casa das Artes Regina Simonis. Em dezembro, foi até Devon, na Inglaterra, fazer um curso com Nick Mackman, especialista em animais de cerâmica que atende apenas dez alunos por ano. Em julho de 2019, viria a segunda exposição individual, na Galeria Arte 12B, em Gramado.

Do início da peça até a finalização, o processo varia bastante, dependendo da complexidade e do tamanho, mas são cerca de duas semanas de trabalho, considerando a etapa de modelagem, a secagem, as queimas e o acabamento com óxido. Não existem moldes. As mãos e o coração da artista definem os contornos, as ranhuras, os detalhes de cada obra – e o olhar terno e expressivo que é característico da arte de Marília Klein. O tempo dedicado, o investimento em materiais e o fator exclusividade determinam o valor das peças.

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Atualmente, Marília divide-se entre a arte e o trabalho no setor de embalagens de uma empresa, mas ressalta que, desde que haja dedicação na produção e na busca por espaços de exposição, é possível viver de arte, embora ainda haja quem não reconheça o valor agregado nesse tipo de obra. “Essa é uma das coisas que às vezes me desmotivam. É um processo… é quase uma coisa tua, que sai de ti. Hoje em dia, está tudo tão industrializado, tão rápido, existem tantos recursos para reproduzir tudo em série. E as pessoas que são leigas não entendem que uma escultura é algo criado do nada, de um bloco de argila. Uma peça nunca será igual a outra. Se a pessoa não está disposta a pagar o valor, ela não é minha cliente. Isso não me abala. Não é que a pessoa não está me valorizando. É uma pessoa que não está disposta a pagar porque ela não dá esse valor para a arte.”

A arte e o meio ambiente
“Eu ando pensando muito em propósito. Para que estou fazendo essas peças? Como ser humano, a gente não se considera um animal. A gente acha que é melhor que eles. Dizimamos várias espécies, tiramos o lar delas, e continuamos fazendo isso em nome de conforto, de espaço. Isso é algo que me incomoda muito. Eu gostaria de atuar mais nessa causa e pretendo cada vez mais transmitir isso nas minhas peças.”

Para saber mais sobre o trabalho de Marília Klein, confira o Instagram da artista plástica: @mariliaklein_

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