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Incertezas

Momento instável preocupa produtores de tabaco da região

Foto: Alencar da Rosa

Agricultores do Vale do Rio Pardo afirmam ter perdido qualidade na safra devido a estiagem. Além disto, o mercado instável no setor traz incerteza para o próximo ano

O fumo seco estocado em galpões e estufas carrega consigo a angústia dos produtores rurais do Vale do Rio Pardo. O tabaco para muitos representa uma oportunidade, talvez a melhor renda do ano, mas nos últimos dias é também um sinal de dúvida, dada a instabilidade enfrentada pelo mercado, devido ao coronavírus. A Gazeta do Sul visitou propriedades no interior de Rio Pardinho, em Santa Cruz do Sul. Poucos moradores quiseram se manifestar, todos demonstraram estar aflitos e inseguros. Além da estiagem, o medo de não ter lucro tem tirado o sono de quem depende do campo para viver.

O agricultor Vanderlei Ivan Porath, 42 anos, mora com a esposa Rosangela Mare Ebert, 37, a sonhadora filha Francilene Raliza, 8 anos, e o pequeno Iago Artur, de apenas quatro meses, em um sítio de pouco mais de seis hectares. A renda do fumo, vendido direto para duas fumageiras da região, é a principal fonte da família, que ainda cultiva milho e mandioca e cria gado, galinhas e porcos.

“Começamos a colher no final de outubro e terminamos nos primeiros dias de fevereiro. Plantamos 30 mil pés, mas a seca nos cortou. A chuva veio na hora errada e faltou quando foi preciso. No fim conseguimos 27 mil pés”, lamentou Vanderlei.

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A família planta duas cultivares da Virgínia (tipo de fumo), a seca fez com que as plantas não se desenvolvessem e as folhas ficassem pequenas e pouco enxutas. “Os últimos colhidos ficaram muito secos. Moramos aqui há 14 anos, nunca vimos uma safra tão ruim como essa. Vamos ter um prejuízo do tamanho da lavoura. Com seguro da lavoura, insumos e sementes, gastamos cerca de R$10 mil. Como tu vai tirar isso na safra? É pesado”, desabafou.

O produtor rural relatou que a família enfrenta algumas dificuldades econômicas desde a safra passada, quando ele e a esposa não conseguiram vender o fumo por um bom preço. Além disto, Vanderlei Porath trabalha sozinho e se desdobra com os demais serviços na propriedade. “Agora estamos parados, não temos como separar, surtir e prepará-los, o fumo está muito seco, se quebra, se esfarela. Eu brinco, digo que vou largar tudo, mas vou fazer o que daí?! Nós dependemos disso”, ressaltou o produtor.

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O clima já não ajudou
Sem tirar o sorriso do rosto, o agricultor torce por uma sensibilidade das empresas no momento da compra. “Não está ruim, mas podiam comprar um pouco melhor, já ia amenizar um pouco mais a nossa crise. O custo de produção é muito alto. Não chegamos a vender ainda. Temos contrato com duas fumageiras, os comentários dos produtores da região são de que as empresas estão endurecendo na negociação. Essas empresas determinam uma data limite para compra, esperamos que eles alonguem este período”, disse. Conforme o Porath, o prazo de entrega das mercadorias varia entre início e final de junho.

Atenta à pandemia Covid-19, a família tem buscado se informar dos possíveis impactos na região, entre eles, a paralisação na indústria. “Recebemos a mensagem da nossa orientadora (na tarde de sexta) de que as fumageiras iriam parar, por conta do coronavírus. Esperamos que eles venham a estender esse prazo. Acho difícil, mas estamos na expectativa que esse período seja prolongado”.

Em caso de uma não paralisação, os agricultores relataram que possuem fumo pronto, mas está preto. “Se está ruim entregar, vender, já com fumo bom, imagina nós com o fumo ruim. Vamos acabar vendendo do jeito que está, mas não sabemos quanto vão nos pagar. Bem ou mal será vendido. O ideal seria se pudesse estocar, como a soja, em silos e ir negociando conforme o valor, mas não temos esta condição. Na agricultura tudo é uma aposta, você planta não sabendo se vai colher ou vender bem”.

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A família Porath guarda a colheita em três galpões, ao lado da casa. Boa parte da produção ainda falta surtir, manocar, classificar, enfardar e vender. Paralelo a isto, o agricultor terá que preparar a terra e criar caminho para que a próxima safra venha farta.

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Vanderlei quer mais tempo até a venda

Mesmo com seca, produto está bem cotado nas empresas
O diretor do sindicato dos trabalhadores rurais de Santa Cruz do Sul, Sérgio Reis, relatou que a entidade está acompanhando estas movimentações. “Boa parte das empresas interrompeu as negociações diretas com o produtor. Não conseguimos falar muito com os agricultores nesses últimos dias. O produtor está compreendendo bem. O temor se dá pela comercialização pós, se o tabaco será comprado dentro de um rigor maior, mas ainda é prematuro avaliar agora. A safra teve uma queda, mas acreditamos que este fator de qualidade não irá alterar”, ressaltou.

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Reis ainda afirmou que os produtores não terão dificuldades de armazenar o produto, pelo contrário, o calor e a baixa umidade contribuiriam para manter a boa qualidade do tabaco. “ A estiagem castigou muito. As perdas podem ser maior em questão de quantidade do que vinha se imaginando. Projetávamos até 30% na região e estado, alguns indicativos apontam que esse número será maior. Porém mesmo com a diminuição em volumes, na grande maioria a qualidade tem sido boa, dado o rigor do clima, e isto está sendo reconhecido pelas fumajeiras na hora da compra”, pontuou.

Por fim, o diretor do sindicato ainda avaliou a interferência da estiagem no produto. “É a maior seca nos últimos 50 anos, pelo menos. Pegou muito forte a safra do cedo e também agora a safrinha”.

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Aquisição de alimentos continua
A manutenção do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) nas escolas públicas durante o recesso escolar por causa do coronavírus está garantida. A informação foi dada sexta, em conjunto, pela ministra da Agricultura, Pecuária e Cooperativismo Tereza Cristina e o secretário da Agricultura Familiar e Cooperativismo Fernando Schwanke. A demanda havia sido encaminhada pelo presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária Gaúcha, Edson Brum, ao secretário Schwanke.

De acordo com o Censo Agropecuário de 2017, o setor emprega mais de 10 milhões de pessoas no Brasil, o que representa 67% do total de pessoas ocupadas na agropecuária. A legislação prevê que 30% dos recursos do PNAE precisam ser destinados à compra de produtos provenientes da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural ou de suas organizações.

O secretário Schwanke explicou que as escolas estarão fechadas, mas a alimentação será distribuída uma vez por semana para os alunos para que as mães ou responsáveis façam em casa. O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) emitirá um comunicado oficial a todos os secretários estaduais e municipais sobre a determinação na próxima terça-feira, 24.

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