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SANTA CRUZ

“As pessoas ainda não entenderam a gravidade”, diz secretário de Saúde

Foto: Banco de Imagens/Gazeta do Sul

Na semana em que o governo santa-cruzense terá que decidir se cede à pressão de segmentos empresariais pela retomada da atividade econômica ou se mantém as medidas de distanciamento social, o secretário de Saúde Régis de Oliveira Júnior, que está à frente da campanha contra o avanço da pandemia de coronavírus, disse, em conversa exclusiva com a Gazeta do Sul, que, embora o município ainda não tenha registrado nenhum caso confirmado, não é possível relaxar agora. “Em outros países, quando as pessoas voltaram a sair para as ruas, é que o problema estourou. E não quero, de forma alguma, que isso aconteça aqui”, disse.

ENTREVISTA
Régis de Oliveira Júnior
Secretário municipal da Saúde

Gazeta – Como tem sido a sua rotina desde que teve início o surto de coronavírus no país?
Régis – Estamos há mais de 60 dias trabalhando para minimizar os efeitos do vírus em nossa cidade. Recebemos anualmente milhares de visitantes. Desde que surgiu a doença na China, passamos a monitorar a situação e nos organizar para a possível chegada do problema em Santa Cruz. Como a indústria do tabaco atrai investidores do mundo inteiro, nos preocupamos ainda mais com o novo coronavírus e nos adiantamentos para estarmos preparados.

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Dia 25 de janeiro fizemos a primeira reunião para discutir o tema. Seis dias depois, começamos o treinamento dos servidores da Saúde e, no dia 26 de fevereiro, um dia antes do primeiro registro de suspeita no município, apresentamos o Plano de Contingência à comunidade. Passado um mês, ainda não temos nenhum caso confirmado. É um trabalho intenso que estamos fazendo para que a comunidade sofra o menos possível, para que menos vidas sejam perdidas.

Como o senhor avalia a adesão dos santa-cruzenses às orientações de distanciamento social?
Grande parte da comunidade vinha atendendo nossas orientações. No entanto, diante de alguns posicionamentos do governo federal, houve um comportamento de relaxamento em relação aos cuidados básicos para se evitar o coronavírus. Percebemos muitos idosos nas ruas.

A impressão que tenho é de que as pessoas ainda não entenderam a gravidade da Covid-19, principalmente para grupos de risco. Ainda não tivemos nenhum caso confirmado em Santa Cruz, mas não é por isso que podemos relaxar. Em outros países, quando as pessoas voltaram a sair para as ruas, é que o problema estourou. E não quero, de forma alguma, que isso aconteça aqui.

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Como o senhor responde a quem acredita que há um exagero nessas medidas?
Desde o início tenho dito que algumas ações podem parecer um exagero, mas que, no futuro, serão avaliadas como insuficientes. Se falo isso é porque estamos atentos ao que acontece em todo o mundo. Precisamos aprender com a experiência de quem fez certo e também errado.

Já sofremos com a falta de equipamentos, recursos, pessoas, EPIs e insumos básicos para atender à população. Não sabemos como serão os próximos dias. Até agora, cerca de 100 servidores da Saúde já se afastaram de suas atividades pelos mais diversos motivos, entre eles, por estarem entre casos suspeitos, grupo de risco e doenças crônicas.

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A pressão do setor empresarial por um relaxamento nas restrições para minimizar o impacto econômico aumenta. Por que manter o isolamento social é importante nesse momento?
Estamos acompanhando especialistas, médicos e técnicos do mundo inteiro. Sabemos que é necessário um achatamento da curva. As medidas restritivas servem justamente para que possamos nos organizar e que tenhamos o menor impacto possível. É preciso que se pense em iniciativas para a área econômica e o prefeito Telmo Kirst está atento às demandas do empresariado.

O momento exige cautela, bom senso e atenção. Como o próprio prefeito disse: agora, neste momento, é saúde. Futuramente, poderemos discutir a recuperação econômica, mas não a recuperação de vidas.

O que mudará a partir do momento em que for confirmado um caso no município?
Iremos reforçar as medidas de controle para evitar ao máximo o contágio de outras pessoas. Todas as decisões têm sido tomadas a partir de uma ampla discussão no Gabinete de Emergências e creio que essa tenha sido a ação mais importante do governo. Envolvemos médicos, especialistas, militares, técnicos, membros de entidades representativas, da sociedade civil, empresarial e jurídica da cidade para nos ajudar a definir o que será melhor para a cidade.

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A estrutura dos nossos hospitais é suficiente para atender a uma possível escalada de casos?
Neste momento, não sabemos. Mas se tivermos muitos casos graves ao mesmo tempo, a situação será muito preocupante. Estamos nos preparando para aumentar a capacidade dos hospitais. Santa Cruz hoje é referência em várias especialidades para diversos municípios do Estado. Além dos casos de Covid-19, a rede precisa continuar atendendo pacientes com problemas circulatórios, respiratórios, oncológicos, transtornos mentais, acidentes de trânsito, entre outros.

Qual a expectativa em relação ao projeto de criação de novos leitos de UTI?
Já encaminhamos os projetos à 13ª Coordenadoria Regional de Saúde e ao governo do Estado para viabilizar a instalação de mais leitos de UTI e CTI. Estamos buscando recursos da iniciativa privada e de órgãos públicos para que possamos comprar os respiradores. A Justiça Federal já garantiu mais de R$ 270 mil. A expectativa é de isso seja aprovado e estruturado o mais rápido possível.

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Estamos também buscando alternativas para aumentar o número de respiradores, construindo ventiladores mecânicos e adaptando para que os atuais atendam um número maior de pacientes. O prefeito Telmo já garantiu que a suplementação de recursos continuará, se necessário.

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O que o senhor acha que essa experiência deixará de lição para Santa Cruz e para o país?
A maior lição que o País terá será em relação à importância dos investimentos em saúde pública, de que os governos precisam investir no SUS. De que precisam garantir estruturas aos hospitais, aumento na oferta de serviços e a reestruturação da rede básica e hospitalar. Não devemos investir na saúde somente diante de uma pandemia. Outra lição importante será a moral, de que todas as ações só surtem efeitos se tivermos a colaboração de todos.

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No próximo sábado, secretários municipais que pretendem concorrer a vereador precisam deixar os cargos. O senhor pretende permanecer?
A política é a última das minhas preocupações. Continuarei no governo.

Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesse domingo, 29, que cogita assinar um decreto para permitir que todas as profissões possam voltar a trabalhar. Segundo ele, a paralisação de comércio e da circulação de pessoas causará um grande impacto na economia, o que pode levar a uma onda de desemprego e falta de sustento para trabalhadores informais. “Não sei se vou fazer, mas estou com vontade de baixar um decreto: toda e qualquer profissão legalmente existente, ou aquela voltada para a informalidade mas que for necessária para o sustento dos seus filhos, vai poder trabalhar”, afirmou, depois de fazer uma visita a vários locais de Brasília, como padarias, postos, mercados e farmácias.

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