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ABASTECIMENTO

“O futuro é buscar água no Jacuí”, diz Enio Farah

Foto: Alencar da Rosa

Um dos maiores reservatórios artificiais do Rio Grande do Sul, o Lago Dourado foi severamente castigado durante a última estiagem. Responsável pelo abastecimento de 95% da população de Santa Cruz do Sul, chegou a operar com apenas 40% de sua capacidade normal ao fim do mês de abril, fato nunca antes visto em 20 anos de atividade.

Empresário santa-cruzense com larga experiência nos setores de construção civil e energia, Enio Farah diz ter acompanhado as últimas intervenções realizadas para conter a seca, e revela uma ideia que teve após assistir a uma das apresentações do projeto do Lago Dourado, que começou a ser desenhado em 1997. Farah sustenta que sua proposta poderia ter modificado a forma do abastecimento de água na cidade.

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Enio Farah relembrou ideia que expôs ainda antes da construção do Lago Dourado

“Foi em uma Oktoberfest. Fui um dos poucos que foram a essa apresentação. Quando o engenheiro explicou como seria, eu perguntei por quanto tempo o lago suportaria a demanda. Ele me disse 20 anos. Aí perguntei qual seria a solução. Ele me falou que era fazer outro lago. Só que daí, se vamos construir lagos a cada 20 anos, vamos chegar até Sinimbu. A cidade vem crescendo rápido”, argumenta.

A sugestão do empresário para resolver o problema é buscar água a partir do Rio Jacuí, mediante a instalação de barragens e bombas. “Sei que já falaram sobre essa possibilidade de trazer água do Jacuí, mas não explicaram como. Um dos comentários que ouvi a respeito era a possibilidade de construção de um aqueduto de Rio Pardo até aqui. É um custo muito alto, pois seria preciso levantar uma estrutura de 20 metros, bombear para cima e daí correr água para cá”, relata.

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“Já antes do Lago Dourado, minha ideia de abastecimento para nossa cidade, trazendo água por muito menos, era a instalação de barragens. Poderia-se colocar três bombas pequenas no Jacuí, que bombeariam água para dentro do Rio Pardo, onde poderiam ser feitas pequenas barragens. Ou seja, se bombearia água por dentro do próprio rio, sem invadir propriedades”, explica Farah.

Ele argumenta que o emprego de três bombas menores também seria mais vantajoso do que instalar uma bomba de maior capacidade, pois os motores menores poderiam ser acionados de forma alternada, conforme a necessidade.

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Alternativas

Na época da construção do Lago Dourado, Santa Cruz do Sul enfrentava com frequência problemas causados pelo desabastecimento, especialmente no verão, nos períodos de estiagem. Depois que alguns estudos indicaram que a construção de uma barragem causaria inundações na cidade, surgiu a ideia do lago e as obras tiveram início. A inauguração aconteceu no dia 27 de setembro de 2000.

Enio Farah recorda a seca recente, que causou preocupação entre os santa-cruzenses e levou a Prefeitura a emitir um decreto que previa multa para quem desperdiçasse água. A estiagem, que se iniciou ainda em dezembro de 2019 e se estendeu até abril, obrigou a administração municipal a enviar uma grande quantidade de água potável por meio de caminhões-pipa ao interior.

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Ele compara com um outro período vivido por ele, há quase 80 anos. “Por sorte, não teve nenhuma seca igual à de 1941, que eu assisti como guri de 11 anos. Se tivesse uma como aquela, não teria nenhuma gota no Lago Dourado”, disse o empresário. “Não dura mais muito tempo, não vai resolver para toda a vida. Neste ano, se a seca durasse mais dez dias, seria desastroso para a cidade, não teria água e nem como abastecer. Já imaginou quantos caminhões-pipa ficariam correndo pra lá e pra cá?”, questiona.

Ainda no final de abril passado, a Corsan ventilou a possibilidade de transposição de água. Segundo o superintendente regional José Roberto Epstein, isso seria feito em último caso, já que o rio mais próximo é o Jacuí. “Estamos falando em mais de 30 quilômetros de distância. Então essa não é uma medida a curto prazo, nem barata. Foi avaliada e é uma das opções, assim como barragens no Rio Pardinho”, disse Epstein à Gazeta do Sul, na época. Ele não detalhou como seria feita essa transposição, apenas ressaltou o custo de investimento, que giraria em torno de R$ 100 milhões.

“Eu dei essa ideia antes do Lago Dourado. Agora, outros falaram em buscar água no Jacuí, mas não por onde e de que maneira. Por isso estou dando minha sugestão de como fazer. Se falaram naquele momento que o Lago Dourado duraria só 20 anos, era o caso de nem fazer e já unir esforços para buscar água onde nunca vai faltar, que é no Jacuí.”

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Uma história de vida que o credencia a opinar

Com 90 anos completados em 13 de março, Enio Farah já trabalhou como chofer de praça, rachou lenha para vender na cidade de carroça e foi empregado em uma fábrica de mosaicos. Natural de Cerro do Louro (hoje Formigueiro), interior de São Sepé, veio ainda criança a Santa Cruz do Sul, em 1943, para estudar no Colégio Mauá.

Afirma ter “acertado o passo” da carreira quando começou a construir redes elétricas. “Cavalo encilhado não passa duas vezes. A minha grande chance bateu à porta quando eu tinha uma camionete Dodge e surgiu uma licitação da CEEE, para alugarem um veículo que iria transportar eletricistas que estavam construindo as redes de luz. Ganhei a licitação e, nas andanças por aí, eu notava o descontentamento dos munícipes que reclamavam da demora para as ligações”, afirmou.

As reclamações das pessoas o fizeram ir até o diretor da CEEE solicitar a autorização para a abertura de uma firma que pudesse fazer esse serviço de forma terceirizada. “Abri a empresa em 1965 com dez funcionários e fechamos com 160, em 1995. Fizemos as redes elétricas de 52 municípios, além de outros serviços em 30 anos. Só fechei porque a CEEE pagava bem pra ter um serviço bom, e os que estão agora pagam mal para só obterem mais lucro. Aí abandonamos e entramos na área da construção civil, pois meu filho já era engenheiro.”

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Desde 1990, também é proprietário da Galeria Farah, no Centro. Faz questão de explicar que não queria esse nome, mas, devido a um sorteio, acabou cedendo. “Anunciei na Gazeta para os leitores me encaminharem cartas com os nomes que pensavam para a galeria. O nome que fosse a maioria seria escolhido e, destes, sortearia uma viagem de três dias para Gramado.”

Ao todo, foram mais de mil cartas entregues para seu Enio e 90% delas tinham o nome de Galeria Farah. Galeria Tipuanas foi a segunda opção mais votada. “O casal que ganhou a viagem ficou muito feliz. O senhor que ganhou esse sorteio segue vivo e o encontrei muitas vezes depois.” Essa é só uma das histórias de Farah que possuem relação com a Gazeta do Sul. Assinante há 52 anos, chegou a pagar dez anos de assinatura adiantados em certa oportunidade.

Também foi presidente do Rotary Santa Cruz Oeste, entre 1974 e 1980, e recebeu o título de Cidadão Santa-cruzense em 11 de julho de 2016, na Câmara de Vereadores. No próximo dia 8 de outubro, completará bodas de pérola negra com a esposa, Therezinha Eny Farah, pelos 65 anos de casados. Do relacionamento vieram os filhos Paulo Ricardo, Sâmira Maria, Débora e Roberto, sem contar os netos e bisnetos.

“Eu tenho mais dois amigos que regulam de idade comigo. O Bagatini é de 13 de fevereiro de 1930 e o Kessler, popular Sabiá, é de 13 de abril de 1930. Eu sou de 13 de março de 1930. A velhice chegou, mas eu quero viver mais uns dois, três anos ainda”, salienta.

“Só queria dar minha opinião, coloca só no cantinho do jornal”, disse ele ao se despedir. Eis um pedido que não pôde ser atendido, dada a envergadura do projeto sugerido por Enio Farah e sua grande história de vida.

Em 2016, ele recebeu o título de Cidadão Santa-cruzense na Câmara de Vereadores

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