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RECOMEÇO

Depois da chuva, famílias reparam os estragos em Santa Cruz do Sul

Foto: Rafaelly Machado

Depois da chuva torrencial que atingiu Santa Cruz do Sul na quinta-feira, 28, com volumes que ultrapassaram os 100 milímetros em cerca de uma hora, a sexta-feira, 29, foi um dia para consertar os danos causados pelas enxurradas e contabilizar os prejuízos. Em diversos bairros, a mesma cena se repetia ao longo do dia: moradores com mangueiras e vassouras tirando o barro e os detritos de dentro das casas, enquanto esperavam pelo sol e pelo vento na tentativa de secar os móveis e outros pertences, que ficaram molhados.

Em todos os locais por onde a reportagem da Gazeta do Sul se deslocou ao longo da sexta-feira, o relato da população era semelhante: nunca se viu algo parecido. Além da enxurrada, que invadiu as residências, com barro e em alguns lugares também com esgoto, outro problema recorrente foram as quedas de muros e barrancos. A quantidade e a força da água eram tamanhas que paredes inteiras foram arrastadas e, em algumas ruas, até mesmo os paralelepípedos foram levados embora.

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Móveis e carros acabaram encharcados na Cohab

No Bairro Cohab, a Rua Arno Kaempf, às margens da BR-471, ficou tomada pelas águas. Morador do local há mais de 40 anos, Ricardo Lopes define as cenas que viveu na quinta-feira como um “filme de terror”. Ele conta que estava dentro de casa, observando a chuva, quando percebeu que havia alguma coisa errada. “Foi muito rápido, em questão de 15 minutos a água já estava pelo joelho. Os carros que estavam estacionados aqui na frente tiveram água até a metade da porta. Encharcou tudo por dentro.”

Ricardo relata que os vizinhos chamavam por socorro, na tentativa de salvar os bens e até mesmo os animais. “Tinham cachorros presos na corrente que morreram afogados. Foi tudo muito rápido, as pessoas gritando, desesperadas, gente na cadeira de rodas. Parecia um filme, coisas que vemos na televisão e nunca pensamos que vai acontecer com a gente”, afirma. Em sua casa, que fica acima do nível da rua, a enxurrada invadiu a garagem, e só não entrou nos demais cômodos porque eles são um pouco mais elevados.

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Além de consertar os estragos na própria casa, Ricardo passou boa parte da sexta-feira limpando os veículos que acabaram danificados pela chuvarada | Foto: Rafaelly Machado

Na casa de Carine, o telhado não resistiu

No Bairro Santuário, onde várias ruas têm descidas acentuadas, os moradores sentiram ainda mais o efeito da correnteza produzida pelo escoamento da água. Não fosse transtorno suficiente a água entrando pela porta da frente, a moradora Carine Schultz, 41 anos, ainda teve de enfrentar problemas no telhado. Algumas telhas acabaram voando com a ventania e, como ela mesma descreve, “chovia dentro de casa como na rua”. Para piorar, ela precisava cuidar da filha Valentina, de 7 anos, e da tia Lori, de 61, que, em função de uma deficiência, vive na cadeira de rodas.

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Nas paredes da residência, a marca deixada pelo nível da água evidencia o tamanho do problema, bem como o forro, onde ainda era possível ver as goteiras. “Só tive tempo de pegar as duas e levar para a área aqui da frente. Não tinha o que fazer. Eu não sabia para quem ligar; pedia socorro mas ninguém vinha.” Ela conta que pediu ajuda ao irmão, mas ele ficou ilhado nas proximidades da rodoviária e não conseguiu chegar à sua casa. “Agora, é limpar tudo e recuperar o que a gente pode”, completa.

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A filha Valentina e a tia Lori, que é cadeirante, foram as preocupações de Carine | Foto: Rafaelly Machado

Lussandro teme pelo barranco nos fundos da residência

Localizada na Rua Jair Calixto, no Bairro Faxinal Menino Deus, a casa de Lussandro foi invadida pelas águas que vinham dos fundos. O muro de contenção não resistiu à força da correnteza e desabou no terreno, bem como parte de outra residência que fica acima do barranco. Agora, o receio é que chova novamente e a construção também venha abaixo. “Como vou limpar isso aqui? Não tem como. Olha como ficou o meu assoalho. É uma casa humilde, mas é minha, eu estou pagando”, lamenta.

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Com o interior da residência tomado pelo barro, muita coisa acabou estragando. “Perdi meu aspirador de pó, meus móveis estão todos inchando, o sofá molhou todo por baixo e as duas camas vão ter que ir fora”, afirma. A preocupação de Lussandro é com a previsão de mais chuva. “Se chover mais, o que eu vou fazer? Como vou atacar essa água? Não tem como. Eu só peço que o pessoal da Prefeitura venha aqui e levante o muro, porque eu agora não tenho condições.” Além disso, ele pede que seja feita a canalização da Rua Treze de Maio, que fica acima, para que a situação não se repita no futuro.

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Nos fundos da casa de Luciana e Sidnei, o muro não resistiu e veio abaixo. A força da correnteza inundou a moradia e levou consigo pedras e galhos | Foto: Rafaelly Machado

Na mesma rua, a dona de casa Luciana Correa sofreu com o mesmo problema. A enxurrada vinda do terreno dos fundos derrubou o muro e inundou a casa. A força da água era tanta que as pedras da estrutura foram arrastadas para dentro dos cômodos e algumas chegaram a parar na calçada em frente. O muro na lateral também não resistiu e desabou sobre a casa vizinha, deixando marcas na parede. Mesmo com o esforço de Luciana e do namorado Sidnei, o rastro de destruição ainda era evidente no local.

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Diante da destruição que ficou no pátio da residência, Lussandro pede ajuda para evitar mais problemas | Foto: Rafaelly Machado

Paredes inteiras foram arrastadas no Bom Jesus

Nas proximidades do complexo de piscinas do Bairro Bom Jesus, uma cena saltava aos olhos de quem passava pela Rua Marcílio Dias. Além da grande quantidade de móveis e eletrodomésticos colocados em frente à residência, na tentativa de secar o que estava molhado, duas paredes inteiras foram deslocadas pela correnteza vinda do terreno aos fundos. A construção, dividida em duas partes, abriga a família de Maria Estela Tavares, 38 anos, e também o aposentado Sinval Chagas dos Santos, de 72 anos. “Desabou tudo. Ia morrer eu e ele, foi quando consegui puxar ele para fora e eu fui para cima do sofá. Ele ia morrer lá dentro soterrado”, conta Maria Estela.

No interior do espaço onde Sinval morava, não restou praticamente nada. Além das paredes arrastadas e que comprometeram a estrutura, todos os móveis e eletrodomésticos foram tomados pela água e pelo barro, deixando um cenário de desolação. “Nós estávamos todos aqui, as crianças brincando com a água. Foi quando ele gritou para todo mundo ir para fora e veio a enxurrada. Nisso ele ficou lá dentro e nós corremos para tirá-lo”, relata. O cachorro, que estava preso no pátio, não pôde ser resgatado pelos moradores e acabou morrendo afogado.

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O cenário que restou na residência é quase inacreditável: a força da água arrastou paredes inteiras e destruiu tudo o que havia pela frente | Foto: Rafaelly Machado

Estragos e prejuízos em todos os bairros

Na Zona Norte de Santa Cruz, nos bairros Santo Inácio e Verena, a destruição causada pela chuva não foi menos intensa. Nas ruas Santa Mônica e Oswaldo Aranha, a correnteza foi tão forte que levou os paralelepípedos, deixando a via intransitável e impedindo até mesmo a saída de veículos das casas e dos edifícios ao redor. Já na Rua Padre Anchieta, o estrago foi causado pela queda de um muro. Um dos lugares mais atingidos foi a casa de Ingrid Plácido. Com diversos móveis na calçada e várias pessoas auxiliando na limpeza, ela ainda não tinha noção do tamanho do prejuízo.

“Aqui a água estava pela cintura, mas no vizinho ao lado, em que o terreno é mais baixo, estava quase na altura do pescoço”, conta. A situação foi causada pelo desabamento do muro de um condomínio que fica nos fundos dos terrenos. Com isso, a água represada desceu e os moradores perderam praticamente tudo. “Agora, é tentar tirar esse lodo de dentro de casa e recuperar o que for possível”, afirma. Ingrid diz que o problema não foi ocasionado pela chuva, mas sim pela enxurrada vinda do condomínio. “Aquele muro na parte de dentro deve ter quase 4 metros, e a água estava passando por cima antes de ele arrebentar. Aí você imagina tudo isso vindo para cá.”

Ingrid e os familiares tentavam limpar o interior da residência e contabilizar os danos | Foto: Rafaelly Machado

O vizinho a quem Carina se refere é Vandélio Puntel, 45 anos. A residência dele foi a mais atingida. Em entrevista à Rádio Gazeta na manhã dessa sexta-feira, ele lembrou os momentos de pânico que viveu. “Graças a Deus que vim para casa. De uma hora para outra veio uma correnteza forte, com mais de um metro de altura, arrebentando tudo. Só tive tempo de pegar a minha filha, subir ela pela grade de dois metros, voltar e retirar a minha esposa e a minha sogra.” Vandélio perdeu o carro e também uma caminhonete usada para entrega de botijão de gás, o ganha-pão dele. Dos quatro cachorros, ele conseguiu salvar três. “Eu tinha um que estava comigo há 13 anos. Morreu arrastado pela água. Perdi móveis, perdi tudo. Quem vai se responsabilizar por isso? Não acredito que seja só culpa da chuva. Minha filha está em choque, não para de chorar.”

Vandélio mostra a altura que a água atingiu quando o muro do condomínio rompeu | Foto: Leandro Porto

Floricultura Kativa tem perda total

Não foram apenas as casas e os condomínios que sofreram danos e prejuízos. Diversas lojas e empresas de Santa Cruz do Sul também tiveram de fechar as portas na sexta-feira para fazer a limpeza dos ambientes e tentar recuperar o máximo possível de produtos e outros objetos. Um desses lugares foi a Floricultura Kativa. Localizada na Avenida Independência, abaixo do nível da rua, o empreendimento ficou quase totalmente submerso, o que causou perda total no que havia em estoque.

“Quando começou a água, eu pensei que ia dar tudo certo. Nós já tivemos problemas de alagamentos no passado, mas com as obras que fizemos, isso não vinha mais ocorrendo. Temos várias bombas de sucção, mas quando vi que a água já estava entrando pelos fundos e a altura em que estava aqui na rua, percebi que não daria para fazer nada”, conta o proprietário, Julci Limberger. Ele afirma que a equipe ficou por mais de duas horas com água acima da cintura tentando erguer e proteger o que fosse possível, mas os esforços não foram suficientes.

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Com perda total, a floricultura foi fechada para que a equipe realizasse a limpeza | Foto: Rafaelly Machado

“Eu só via as coisas caindo, prateleiras vindo abaixo, mercadorias boiando, foi um cenário de terror”, recorda. Apesar de todo o transtorno, ele agradece pelas diversas mensagens de apoio e solidariedade que recebeu de amigos e clientes, além das pessoas que se ofereceram voluntariamente para ajudar na limpeza e organização do estabelecimento. “São gestos que deixam a gente em um estado de graça. É agradecer que temos saúde e essas pessoas na nossa vida. Isso é o que vai fortalecer para que possamos continuar”, completa.

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Veja mais imagens dos estragos:

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