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Pandemia

“A gente sempre acha que não acontece conosco”, diz Armando Mayerhofer

Logo após comemorar a vitória nas eleições para a Prefeitura de Sobradinho, em 15 de novembro de 2020, Armando Mayerhofer viveu momentos de apreensão. Ele foi diagnosticado com Covid-19 e, mesmo sem integrar grupos de risco, chegou a passar sete dias respirando com auxílio de aparelhos, na UTI de um hospital.

No mesmo período, o município do qual ele era o vice-prefeito, e que o havia escolhido como prefeito a partir de 2021, também viveu um agravamento da situação. A cidade de 15 mil habitantes já tem 541 casos da doença, quatro deles tendo resultado em mortes, segundo dados da Secretaria Estadual da Saúde, atualizados nessa sexta-feira. Em entrevista à Gazeta do Sul, Mayerhofer falou sobre como sentir diretamente os efeitos do novo coronavírus influenciou na forma de lidar, como prefeito, com a pandemia.

ENTREVISTA
Armando Mayerhofer

Prefeito de Sobradinho

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Como o senhor avalia o momento da pandemia em Sobradinho?
O grande número de casos nos surpreende, porque tivemos um momento no qual imaginávamos que já tivéssemos atingido o pico e os números de casos estavam diminuindo. Depois, entre o fim de novembro e o início de dezembro, tivemos um aumento novamente, a curva se acentuou em Sobradinho, assim como em outros lugares. Mas temos procurado, por meio da Secretaria de Saúde, com nosso comitê também, levar à população campanhas de prevenção, para que as pessoas tomem os cuidados na questão das aglomerações, do uso da máscara, do álcool em gel. Nós limitamos também algumas atividades. Os restaurantes funcionam com número limitado de pessoas, horário limitado. Alguns eventos não estão acontecendo. Tivemos um período com o comércio fechado. Hoje o comércio funciona normalmente, claro que com todas as restrições. Mas vivemos um momento diferente hoje, com muitas restrições que são impostas por esta doença, que acomete tanta gente. Tivemos quatro óbitos no município e isso nos deixa entristecidos, porque não queremos que nenhuma família perca nenhum familiar. Então, estamos envidando todos os esforços possíveis para que possamos proteger nossa população.

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O senhor foi uma das pessoas infectadas no município e chegou a estar hospitalizado. Como foi essa experiência?
Nós tivemos a campanha (eleitoral) e procuramos, durante este período, tomar as medidas de prevenção. Mesmo assim tivemos contato com muitas pessoas, porque em nossa campanha procuramos visitar todas as famílias, para nos apresentarmos e ouvir da população as expectativas. Isso fez com que tivesse, realmente, mui to contato com muitas pessoas. Dois dias após a eleição eu me senti mal e fui até o hospital. Por meio de uma tomografia que o médico solicitou, constatamos que eu estava com 5% do pulmão comprometido e tudo indicava que seria Covid. Fiz o exame de laboratório e se confirmou a situação. Fiquei internado até o dia seguinte, quando tive alta e fiquei em casa três dias, fazendo o tratamento prescrito pelo médico. No sábado à noite passei a ter febre, 38, 39 graus, e muita dor de cabeça. Domingo pela manhã, realmente estava muito mal, procurei novamente o hospital e ficou comprovado que a infecção de 5% tinha evoluído para 30% do pulmão. Fui internado novamente, de domingo de manhã até terça à tarde, quando repeti a tomografia e aí já tinha evoluído para 50% de contaminação, meu pulmão estava atingido em 50%. Devido a esta evolução que tive dentro do hospital o médico entendeu que era melhor eu ser transferido para Cachoeira (do Sul), onde fui para o quarto da UTI. O hospital tinha mais condições para esta situação grave em que eu estava. Acabei ficando internado dez dias, sete dias praticamente direto no oxigênio. A partir do sétimo dia passei a ter um quadro de melhora e no décimo dia tive alta e voltei para casa. Foi um momento bem difícil, porque eu não tinha dor, só tinha falta de ar, uma sensação estranha, porque não tinha percepção de melhora e não tinha como avaliar isso, só pelos exames que eram feitos pela equipe médica. Felizmente deu tudo certo, consegui voltar. Hoje estou bem, estou praticamente com o pulmão todo recuperado. Fiz uma tomografia no fim da semana passada e praticamente o comprometimento do pulmão não existe mais, não fiquei com nenhuma sequela. Estou bem e consegui me recuperar bem, mesmo com todo esse grau de infecção. Mas é uma experiência que faz a gente refletir um pouco sobre a importância de as pessoas tomarem todos os cuidados e se prevenirem, porque é uma doença que atinge muita gente.

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Essa vivência influencia suas ações hoje, como prefeito?
Com certeza. Eu não tinha essa noção da gravidade da doença. A gente assistia muitas vezes isso acontecer, pessoas indo a óbito em outros lugares, e a gente sempre acha que não acontece conosco, que acontece só com os outros. Dali a pouco me vi nessa situação. Então realmente faz com que a gente reflita. Realmente, sentir isso de perto, toda a preocupação que traz a Covid, principalmente quando você chega a um caso de internação, como eu cheguei. Então a gente tem tomado, como administrador também, as precauções para que se possa continuar preservando e protegendo nossa população, para que o menor número possível de pessoas sejam contaminadas e tenham de passar por isso. Eu vivi isso na prática. Muitas vezes, quando a gente ouvia relatos de pessoas dizendo que era uma situação difícil, complicada, não se imaginava que fosse tanto. Mas quando você vive isso, tem uma percepção melhor do que é realmente ser acometido por essa doença. E para alguns acaba não se manifestando muito. Minha esposa contraiu há dez dias, teve sintomas, mas foi muito tranquilo o tratamento. Talvez por ter tido um desgaste muito grande na campanha, isso tenha ajudado para que eu tivesse a imunidade menor e estivesse mais sensível à doença.

A sua internação por Covid-19, já como prefeito eleito de Sobradinho, pode ter influenciado a maneira como a população vê a doença no município?
Com certeza. A partir da minha internação muitas pessoas também mudaram seu conceito, sua forma de pensar em relação a isso. Muitas vezes a gente não dá muita importância. Nós tínhamos um número de casos pouco significativo. A partir do momento em que eu passei por essa situação de ser internado, após a eleição, nós tivemos um número muito grande de pessoas que testaram positivo para a doença. Isso faz com que toda a população repense suas atitudes, que pense na importância que tem cada um se cuidar, para que a gente possa, cada um com seu esforço, fazer sua parte e se prevenir.

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