Como consultórios odontológicos se adequaram durante a pandemia

A pandemia de Covid-19 alterou os protocolos sanitários utilizados por todos os profissionais da área da saúde, e com os dentistas não foi diferente. Os consultórios seguem regras rígidas de limpeza e higiene e se adequaram à situação implementando mudanças na rotina e no ambiente para retomar os atendimentos. No entanto, muitos pacientes ainda têm aguardado para realizar as consultas, o que pode agravar os problemas bucais já existentes.

Para a dentista especializada em Radiologia Odontológica e pós-graduada em Harmonização Orofacial e Laminados Cerâmicos Danúbia Cecília da Silva Butzke, que atua em Rio Pardo, postergar o atendimento apresenta riscos à saúde, não só bucal, mas de modo geral. “Sabemos que a doença periodontal (gengivite ou periodontite) está relacionada ao agravamento de doenças do coração, como a endocardite bacteriana, além de diabetes e parto prematuro”, conta.

Condições que não são graves, como uma obturação rachada, podem piorar se forem ignoradas e até mesmo as limpezas dentárias simples são essenciais. Segundo a dentista, o período prolongado em casa representou uma piora na alimentação de muitas pessoas, com aumento da ingestão de doces e refrigerantes que podem causar cáries. “Com o trabalho em home office, muitas famílias flexibilizaram os horários das refeições e, com isso, a higiene bucal também sofreu alterações de forma negativa.”

Os cuidados para os atendimentos começam antes mesmo de o paciente chegar ao consultório, com um questionário de pré-triagem. São atendidos menos pacientes por turno e realizados mais procedimentos em uma única consulta, para evitar que o paciente retorne várias vezes ao consultório. Os profissionais utilizam máscaras N95 e face shields, que protegem de gotículas que possam escapar da boca.

No lado positivo, a profissional aponta que houve um grande aumento de procura de pacientes por procedimentos dando enfoque à estética. “Pacientes que acabaram não viajando em razão da pandemia trocaram o sonho da viagem por fazer lentes de contato dentais ou a troca do tipo da sua prótese”, relata Danúbia. Também foi comum nesse período a busca pela harmonização facial, com uso de toxina botulínica (botox), preenchimentos labiais, peelings e lifting com fios de PDO, dentre outros procedimentos.

Clínica da Unisc retomou os atendimentos em abril

Na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), a Clínica de Odontologia retomou os atendimentos na metade de abril. No momento estão ocorrendo as aulas práticas presenciais apenas dos alunos formandos do 9º semestre, mas, conforme o coordenador do curso de Odontologia, professor George Valdemar Mundstock, a expectativa é que em breve se iniciem as aulas dos demais semestres, que atualmente seguem com aulas teóricas remotas.

O retorno dos atendimentos segue todos os protocolos. Há verificação de temperatura corporal, questionamento sobre sintomas gripais, uso de álcool em gel e controle na ocupação do espaço físico por meio do sistema Imply Saúde, de acordo com a técnica administrativa da Clínica de Odontologia, Elisandra Baierle. Todos devem utilizar máscaras e manter o distanciamento e os ambientes ficam com portas e janelas abertas para permitir a circulação de ar. Os profissionais utilizam máscaras PFF2, além de avental impermeável, avental descartável e face shield.

Os atendimentos na clínica são prestados nas áreas de dentística, endodontia, prótese, cirurgia, periodontia, radiologia, odontopediatria e ortodontia para crianças. As pessoas que já estavam cadastradas e que necessitam concluir o seu plano de tratamento podem retornar. No momento há vagas abertas para pacientes novos que necessitem de tratamento de canal. Os pacientes que desejarem agendar uma avaliação podem fazer contato pelo telefone 3717 1115 ou comparecer pessoalmente no bloco 32, de segunda a sexta-feira, das 8 horas às 11 horas e das 13h30 às 16h30, com documentação em mãos (RG/CNH, CPF, cartão SUS, comprovante de residência e encaminhamento do seu cirurgião-dentista com a necessidade de tratamento de canal).

Recomendações

O Conselho Regional de Odontologia do Rio Grande do Sul (CRO/RS) segue as determinações estaduais, respeitando as decisões dos municípios. “Acreditamos que, neste momento, o trabalho precisa ser em conjunto para que possamos sair o quanto antes desta pandemia. A determinação é seguir as orientações dos órgãos públicos”, explica o presidente da entidade, Nelson Freitas Eguia. Apesar de não possuir dados específicos sobre os atendimentos durante o período da pandemia, o presidente do CRO/RS ponta que as consultas certamente diminuíram, porque os pacientes decidiram ficar resguardados em suas casas. Para auxiliar os profissionais a se adequarem às novas normas, a entidade estadual compartilhou com os dentistas um material com recomendações sobre os atendimentos em consultórios que foi desenvolvido pelo Conselho Federal de Odontologia em parceria com a Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib).

HORÁRIO ESTENDIDO

Já em Santa Cruz do Sul, o dentista Daniel Purper (foto) conta que uma das saídas para cobrir a demanda foi a extensão de horários de atendimento. No consultório são seguidos os protocolos, como uso de álcool em gel e máscaras, que só são retiradas quando o paciente senta na cadeira de atendimento. Outras medidas implantadas foram as regras de comparecer à consulta somente o paciente que será atendido e que ele chegue apenas cerca de dez minutos antes, além de se manter portas e janelas abertas, mesmo com o ar-condicionado ligado, para garantir a ventilação adequada do espaço.

De acordo com Purper, houve redução na procura pelos atendimentos, mas apenas nos primeiros três meses de pandemia. “Após, nossos pacientes retornaram para continuar seus tratamentos, visto todos os protocolos que seguimos. Por trabalharmos mais a parte estética, a procura tem sido alta novamente, pois muitos querem retornar às atividades com uma melhor aparência”, conta.

O dentista aponta um aumento de casos de bruxismo durante o período. “O nível de estresse tem afetado muito a qualidade de vida dos pacientes. Muitos têm enxaqueca que foi desenvolvida pelo ranger dos dentes. Vale a pena lembrar que se não tratada corretamente, pode evoluir a casos mais sérios, como quebra de dentes, dores de cabeça crônica e problemas na mastigação, dentre outros.” Os atendimentos ocorrem normalmente, seguindo todos os cuidados, mas se houver algum tipo de sintoma relacionado à Covid-19, é fundamental remarcar a consulta.