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Direto da redação

Escrever sobre a Ágatha… ou não?

Uma das facetas hoje pouco conhecidas de Platão é o ranço que tinha com a poesia. Nos textos de A República, o filósofo chega a sugerir que uma nação, para ser perfeita, deveria expulsar os poetas. O Mauro Ulrich tem sorte de não ter sido contemporâneo de Platão.

Há uma explicação: antes da escrita ter chegado à Grécia antiga de carona com os fenícios, a cultura e a educação gregas eram transmitidas de geração em geração através da poesia. A Guerra de Troia, as outras desventuras de Odisseu e uma gama de outras história repletas de lições de vida resistiram a séculos por mérito de sua composição poética: sem contar com o suporte da escrita, os cantadores se lembravam do desenrolar de cada epopeia graças às rimas. Não esqueciam das histórias porque eram rimadas, da mesma maneira que não esquecemos das letras de nossas canções prediletas – e outras nem tanto.

Mas, para Platão, cabia à escrita tomar o lugar da poesia como repositório da cultura e educação gregas. Entendia que a escrita era mais precisa e confiável do que a poesia cantada em praça pública ou encenada no palco. Coube a Aristóteles, discípulo de Platão, defender a poesia, não necessariamente como baú de conhecimento ou instrumento pedagógico, mas como manifestação artística, voltada à apreciação, ao deleite, a proporcionar aquele breve relaxamento em meio às tensões da rotina – papel hoje também desempenhado pela literatura, pela música, pela Netflix e até pelas crônicas nos jornais, em espaços como este aqui.

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É por concordar com Aristóteles que insisto em contar os causos pitorescos da Ágatha. Isso até ser atropelado por uma pessoa que questionou, nas redes sociais, se alguém tinha tempo de ler esses textos. A meu ver, uma típica manifestação do pragmatismo de tempos nos quais se acredita que o texto que almeja (ao menos) ser uma expressão artística deveria ser substituído por algo “mais útil” – como ficar fazendo esse tipo de comentário nas redes sociais. Ok, se ninguém tem tempo para os causos da Ágatha, não escreverei mais sobre ela.

***

Tá, mudei de ideia. Ágatha estreou na escola agora, em fevereiro, no prezinho. Ao longo da semana, durante o almoço, disputou com as irmãs no grito o direito de contar como foram as aulas. Está no seu direito – até então, ouvia quieta e ansiosa o relato das outras duas.

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Mas, já no primeiro dia, a narrativa foi marcada por uma queixa: voltou da escola com os olhos doendo.
– Para não perder nada do que a prô disse, passei a manhã com os olhos arregalados – explicou. Tentei nem piscar, só que não aguentei. Mas pisquei só uma vez, e bem rapidinho – garantiu. 

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